domingo, 26 de fevereiro de 2017

REMINISCÊNCIAS DA SANTA CASA

                    Do tempo em que  trabalhei na santa casa de misericórdia de São Paulo trago gratas recordações, não vou negar, principalmente, no campo sentimental. Pois, por incrível que pareça, apesar de muitas pessoas acharem que num ambiente hospitalar só há dores, tristezas e cheiros de remédios, posso garantir que não é só isto, porém, dependendo do ambiente em que a pessoa trabalhar, dificilmente encontrará apenas fatores. 
         
                    Particularmente, posso garantir, que foi no tempo em que ali trabalhei por mais de três anos, que mais paquerei e fui paquerado. Aparecia jovem de vários tipos e classe social. Algumas fáceis, outras mais difíceis e outras apenas interesseiras, não vou negar. Eu tinha um colega de serviço, como o dito cujo morava num apartamento próximo, se ele quisesse, todo o dia levaria uma garota para transar. Era um garanhão de primeira. Já no meu caso, teria que pagar um modesto hotel também próximo.  Por outro lado, de vez em quando, aparecia alguma garota, principalmente quando estava acompanhada da mãe, dava uma de difícil e o papo era mais sério e cheirando compromisso de namoro e assim por diante. Então, o negócio era pensar bem e saber escolher. 

                   O certo é que, neste vaivém feminino, mais dia menos dia a casa podia cair, pelo menos em parte. Pois graças ao jogo de cintura que a gente tinha que ter, com uma justificativa exata, imediata, poderia se safar de uma situação embaraçosa ou como se costumava dizer, se sair de uma "saia justa".

                     Vejamos um caso concreto: a sala onde atendíamos às pessoas era relativamente pequena. Abria-se a porta onde sempre havia uma fila de pacientes e mandava entrar o próximo. Quando era homem, a entrevista era rápida e séria, Nada de papo furado. A nossa atenção era sempre com relação às garotas e estas, geralmente, vinham sempre na qualidade de acompanhantes. Então, quando entrava uma pessoa idosa era tiro e queda, ou seja, a primeira pergunta que se fazia era:
                    -Está acompanhada?
                      Ao ouvir que sim, ao mesmo tempo, pedia que mandasse entrar a tal acompanhante. Neste caso, era apenas sorte. Pois, algumas vezes dava certo, ou seja, era uma jovem bonita ou apenas "comível", para não chamar de "feia", porém, algumas vezes, dava zebra, a paciente vinha acompanhada de um filho ou marido. Então, para não dar na cara a nossa segunda ou terceira intenção, deixava a pessoa entrar e ficar ali até o término da entrevista onde se fazia a matrícula para o referido tratamento daquela paciente.

                     E foi numa ocasião destas que, após a paciente dizer que estava acompanhada e ter inclusive falado que a filha tinha apenas 19 anos, pedi para chamá-la imediatamente, ao que aquela senhora, achando estranho aquela exigência, completou:

                    - Ela pode entrar com o noivo dela?

                    - Não, dona, deixa quieto. A sala aqui é pequena e vai ficar muito abafado. Vamos ao que interessa: documentos para a matrícula!

   
                                                            JOBOSCAN ARAÚJO





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