quarta-feira, 3 de maio de 2017

O QUE NOS ACONTECE INESPERADAMENTE.

         Há muitas coisas que nos podem acontecer inesperadamente enquanto vivemos. Exemplo desta afirmação posso citar: uma paixão ou uma morte súbitas. No primeiro caso, assim como ela pode ser motivo de deleite, concomitantemente, pode trazer alguns problemas
emocionais, porém tudo pode ser contornável. Já no segundo caso, a temível morte, é algo irreversível e nada se poderá fazer. Só  que neste ínterim, por outro lado, outros fatos corriqueiros podem surgir à nossa revelia e quando isto acontece cabe a cada pessoa resolver como melhor lhe aprouver. Abordarei um mero caso concreto:
          Quem imagina que uma minúscula e insignificante pedrinha, entre milhões espalhadas por aí, de maneira aleatória, poderá se alojar numa sandália ou chinelo, enquanto alguém está andando, importunando-o? Pois tal fato pode acontecer, assim como quando se depara com uma pessoa desconhecida, movida por segundas intenções, principalmente, quando almeja nos aplicar um golpe financeiro (passar um dinheiro falso, pedir um dinheiro emprestado, falar uma fofoca etc.) e se não procurarmos nos esquivar de maneira definitiva, tal intruso poderá ficar, literalmente, no nosso pé tal qual aquela pedrinha que se alojou no nosso chinelo, sandália ou sapato, causando-nos incômodos efêmeros, tirando-nos do sério. E o que é pior e lamentável, diga-se de passagem, é que ninguém está isento destes transtornos. Basta está vivo e bem vivo para se sair bem destas incômodas circunstâncias.

                                    João Bosco de Andrade Araújo
                            






quarta-feira, 29 de março de 2017

A VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER

           O mundo hodierno está repleto de fatos e acontecimentos que, muitas vezes, fogem do padrão de comportamento normal do ser humano. Um exemplo lamentável que está sempre nas manchetes dos jornais e na mídia em geral é a violência sobre a mulher. Fato este antigo, mas nem por isso jamais deixou de condenável. Encontrar justificativa para tal atitude torna-se um contrassenso sem precedentes. É algo inútil e  perda de tempo. Afinal, querer usar a lei da física de que “toda ação geral reação”, não vem ao caso, pois considerando que o ser humano é dotado do uso da razão, o ideal é saber usá-lo no momento adequado para depois não se arrepender.
           Todo relacionamento humano é repleto de dissenções, desentendimentos que podem ser amenizados, resolvidos com o diálogo. Porém, as discussões e acusações recíprocas repletas de ódio e ressentimentos só provocam, só geram atitudes violentas, tanto físicas quanto emocionais. Enquanto estas dormitam no âmago da vítima por tempo indeterminado, aquelas servem apenas de provas para mais fácil incriminar o agressor. Enquanto este, amiúde, fingindo ou não, se diz arrependido, alegando que “ninguém é um mal concentrado”, a mulher poderá até perdoá-lo, mas perdurar, continuar a convivência de maneira pacífica e normal será uma questão de sorte, opção e caráter. Se for simplesmente por dó e posteriormente vier a sofrer maus-tratos novamente, no mínimo, poderá ser tachada de masoquista, por outro lado, se partir para o revanchismo, usando meios ilícitos e violentos para se vingar, tornará a situação incontrolável, ratificando o que todos sabemos que é: “a violência gera a violência”. E isto ninguém deseja para nenhum ser humano. Afinal, a Lei Maria da Penha está aí em pleno vigor para ajudar a todas as vítimas em qualquer lugar do Brasil. Todavia, ter receio de procurar os seus direitos é antes de mais nada um ato de covardia tal qual àquele do qual foi vítima.      


quinta-feira, 23 de março de 2017

MENTIRAS INOFENSIVAS


                  “Estou pronto (a) pra outra!”



                Quase sempre quando uma pessoa passa por um sufoco de uma grave doença, logo que se recupera e quando volta ao trabalho ou se encontra com outros familiares num final de semana, sempre surge aquele ar de admiração, alegria e aquela pergunta que não quer calar logo vem à tona: “E aí, fulano, como está sua saúde?”  “Você está bem”? Então sempre querendo fazer alguma graça, demonstrando que realmente estar bem, a pessoa que saiu de uma convalescença solta esta rotineira MENTIRA INOFENSIVA: Estou bem, PRONTO PRA OUTRA! Ora, ora que mentira absurda! Afinal, quem gostaria de ficar entrevado numa maca ou cama de hospital, servindo-se daquela comida estupidamente insossa, inclusive levando picada de agulha ou tomando remédios e mais remédios? Duvido que alguém iria gostar de um transtorno tão ruim quanto este. Só aguenta mesmo quem foi vítima de um acidente de trânsito ou problemas, transtornos alimentares e não tem alternativa senão passar por avaliação médica ou então ficar mesmo internado.  Pois como sabemos, qualquer hospital, por mais limpo e bem equipado que seja composto por funcionários, médicos, enfermeiros atenciosos etc., nunca se compara à tranquilidade doméstica ou até mesmo à rotina de um trabalho cansativo ou até chato. Afinal, a saúde é algo imprescindível para o bem estar de qualquer pessoa. Pensar ou dizer o contrário seria loucura!

sábado, 18 de março de 2017

PARADOXOS CORRIQUEIROS

                “Você não existe!”

                 É realmente impressionante quantas vezes falamos frases repletas de contrassenso. Por exemplo, falar para outra pessoa assim: “Você não existe!”, mesmo que o verdadeiro sentido desta expressão seja um grande elogio, ela traz na sua essência um grande paradoxo poucas vezes percebido, notado pelas demais pessoas. Ela, como se costuma dizer, entra por um ouvido e sai pelo outro. Ninguém entra em detalhes sobre isto. Afinal, quando alguém diz: “Você não existe!”, na realidade, está mesmo só querendo elogiar uma pessoa, o que com outras palavras significaria mais ou menos assim: “Você é uma pessoa rara, muito difícil de encontrar por ser assim tão especial, bondosa, prestativa etc.”. É verdade que quem ouve isto, ficará enaltecida, grata e geralmente apenas murmura: “Imagina!” ou “Bondade sua!”. Portando, na próxima oportunidade em que falar ou ouvir esta frase “você não existe”, pense logo que se fosse levar isto ao pé da letra, em primeiro lugar, estaria falando algo em vão ou talvez para algum fantasma, pois se tal pessoa não existisse como ela iria ouvir tal elogio ou argumentar algo mais?



                                                             João Bosco de Andrade Araújo

terça-feira, 14 de março de 2017

A SAGA DA CONCEIÇÃO

                    A SAGA DA CONCEIÇÃO



             Desde quando era adolescente, lá no interior do Maranhão, que a jovem Conceição sonhava em morar numa megalópole como São Paulo, pois sempre ouvira falar bem dessa cidade, considerada o celeiro das oportunidades profissionais. Então quando aflorava esse desejo era sempre repreendida por sua mãe, veementemente. Quanto o seu pai, nem tanto. Prova é que, não demorou muito ela recebeu um convite de uma tia, irmã do seu pai, para conhecer Brasília. Não pensou duas vezes. Aceitou-o e teve permissão dos seus pais, pois perceberam que a promessa da pessoa que a convidou, dizendo que logo ela estaria de volta era de inteira confiança. E assim foi realizado o seu primeiro desejo.
             O pouco tempo que a jovem Conceição ficou na Capital Federal serviu como trampolim para que o seu grande objetivo, ou seja, conhecer São Paulo fosse concretizado muito em breve. Isso que ocorreu um ano após o referido passeio em companhia da sua tia residente no Planalto Central. O sonhado dia chegou repleto de expectativa e apreensão. Partiu então do Maranhão rumo à Capital Paulista só como se costuma dizer, com a cara e a coragem. Segundo um conterrâneo e vizinho seu, a irmã dele estava precisando de uma moça para exercer a função de babá. Guardou o número do telefone da futura patroa entrou no ônibus, tchau e bênção. A viagem de 48 horas do Maranhão – São Paulo foi como muitas outras que acontecem diariamente por esse Brasil a fora. Sem muitos percalços, diga-se de passagem, ainda bem. A não ser uma súbita indisposição estomacal de que foi vítima a Conceição. Por sinal, por causa desse incidente à sua revelia, o que fez a passageira em questão? Simplesmente teve que trocar a blusa que estava usando até então. Só que a cor da outra peça de roupa era totalmente diferente. Nada disso seria anormal se ela se lembrasse de que havia combinado com a pessoa que iria se encontrar com ela na rodoviária o modo como chegaria. Mas só se lembrou desse importante detalhe quando o ônibus chegou ao seu ponto final. Após algum tempo aguardando a sua futura patroa que iria buscá-la, lembrou-se então da  pequena mudança no seu visual. Só que, por ironia do destino, quem foi buscá-la foi o seu futuro patrão. Quer dizer, aí a confusão estava formada. Uma coisa fora combinada e estava acontecendo tudo ao contrário. Ninguém conseguia encontrar o que procurava. Chegando, quem sabe, até passar um ao lado do outro. O certo é que o fato só foi resolvido quando Conceição seguiu uma colega de viagem, com a sua respectiva patroa, ao se aproximar de um telefone público para ligar para sua conterrânea, sem querer ouviu a conversa do senhor que estava ao telefone celular e ouviu o seu nome ser pronunciado com todas as letras. Só então ela respirou aliviada. Parece que finalmente encontrara a pessoa que estava procurando. E realmente foi o que aconteceu. A pessoa que aquele senhor fora se encontrar na rodoviária era a dita cuja.

               A princípio, tudo era novidade para a recém-chegada nordestina. Ela só não ficava mais admirada porque ainda bem fizera aquele passeio à Brasília. Mas logo que ela adentrou no recinto do enorme apartamento onde iria morar e trabalhar já se decepcionou. Pois o serviço que a aguardava não fora o combinado lá na sua cidade natal, ou seja, não era nada do que lhe fora prometido. Pra começo de assunto não havia ali nenhuma criança para ela cuidar. O que lhe foi determinado a fazer a partir daquele momento foi todo o serviço doméstico: desde cozinhar, passar, limpar etc. E justamente ela, Conceição, que não entendia praticamente nada disso. Pelo contrário, até detestava algumas destas atividades domésticas. E tudo isso foi logo colocado em pratos limpos, literalmente, naquele primeiro dia. Todavia, não adiantou muito os seus argumentos de pouca habilidade para tais tarefas. Teve que se submeter aos serviços na medida do possível.
                 Como o seu patrão teve que viajar ao exterior a sua patroa e conterrânea colocou a Conceição numa situação muito delicada. Aliás, em duas. A primeira: teria que mentir sempre que o patrão telefonasse, alegando que ela, a dona da casa havia saído para resolver algo. Isto porque logo que ele viajou, ela – a patroa infiel, diga-se de passagem – também se mandou e possivelmente com algum amante. Então a nordestina, além de ficar sozinha naquele apartamento enorme tinha que cuidar de tudo aquilo e para completar recebeu outra incumbência também muito delicada e chata: durante a ausência dos seus patrões, uma empresa de mudanças iria embalar os móveis. Só havia um pequeno detalhe: na parte referente à adega, somente ela, a empregada, colocaria as mãos. Principalmente com relação aos litros de whisky importados e de estimação do patrão. Pois ele tinha muito ciúme do seu acervo etílico.
                Com a mudança de endereço a vida da Conceição também mudou. E pra melhor. Pois foi por esse tempo que ela conheceu um rapaz e logo após um namoro firme e sério o casamento foi consumado e logo uma nova família foi formada. Sendo assim, livre daquela vida de escrava, agora no seu pequeno domicílio, só ela e o marido aproveitaram bem à vida, antes de receber a visita da cegonha. Neste ínterim, ela fez logo o seu tão sonhado curso de cabeleireira. Logo que terminou, na medida do possível, montou um salão e hoje é uma respeitável e querida profissional no bairro onde reside localizado na zona leste de São Paulo.
                 Sendo assim, com essa saga da Conceição prova-se que jamais se deve desistir dos sonhos por mais simples que pareçam. Se complicados também sempre vale a pena lutar. Afinal, a cana para ser transformada em mel deverá sempre passar por um terrível aperto. E alguém discordará dessa verdade?



                                               João Bosco de Andrade Araújo

PERCEPÇÕES DO NOSSO COTIDIANO


                        PERCEPÇÕES DO NOSSO COTIDIANO


1 – A pessoa percebe que atingiu a terceira idade, para não dizer, que está ficando idosa, quando entra numa condução e logo alguém lhe oferece um lugar, mesmo que não seja um assento preferencial...

    

2 – Um livro passa a ser considerado ótimo quando a pessoa que o estiver lendo numa condução passa do ponto em que ia descer.



3 – Uma pessoa percebe que o seu setor de trabalho está muito enfadonho quando logo que começa a trabalhar e passa a olhar o relógio, contando os minutos que faltam para o fim do expediente.



4 – Quando uma pessoa começa a perder a hora de acordar para ir ao trabalho é sinal que está fadada a perder também o seu emprego...


5 – Um livro passa a ser considerado chato, enfadonho e péssimo quando começamos a contar quantas páginas faltam para o seu epílogo...


6 – Uma pessoa pode ser considerada chata quando a encontrarmos depois de muito tempo na rua e falamos, segundo Millôr Fernandes: “Olá, há quanto tempo não a vejo, aparece lá em casa e ela vai e aparece sem prévio aviso”.


7 – Uma pessoa começa a desconfiar que seu cônjuge esteja “pulando a cerca”, ou seja, cometendo uma traição, quando um dos dois começa a chegar tarde e alegar que “estava numa reunião”, “estava no culto” etc.


8 – Um comerciante começa a desconfiar que o cliente esteja a fim de lhe dar calote quando percebe que o dito cujo muda de itinerário só para não passar próximo ao seu ponto comercial para não o encontrar.


9 – Uma pessoa passa a ser considerada viciada em jogo quando começa a fazer empréstimo para esta atividade perdulária ou então vender algo de valor que tenha em casa e até deixar de comprar algum mantimento, roupa ou calçado só para alimentar o tal vício.




10 – Uma pessoa não é considerada benquista quando ao procurar outra, quer pessoalmente ou através de telefonema, esta ao perguntar de quem se trata sai logo com esta evasiva: “Fala que não estou!”.


                               João Bosco de  Andrade Araújo

quinta-feira, 9 de março de 2017

O MEU PAI E A CALÇADA QUE ACABARA DE CONSTRUIR.

                           Desde os meus mais tenros anos de idade que eu, de vez em quando, acompanhava o meu pai ao seu trabalho esporádico de pedreiro na cidade onde nasci. Só ficávamos muito preocupados, principalmente a minha mãe, quando ele ficava alguns dias parados sem encontrar nenhum pequeno serviço. Afinal, a nossa família era composta de nove pessoas e praticamente só dependia dele. Ainda bem, que alguns comerciantes de bom coração abriam exceção e permitiam que a nossa família comprasse alguns mantimentos de primeira necessidade, usando uma caderneta onde era registrada tudo que ali se comprasse e no final do mês teria que pagar, nem que fosse a metade.

                         Lembro-me que certa ocasião, por sinal, já no último dia em que meu pai terminava o serviço numa calçada, cujo mandante era o dono do empório onde, coincidentemente, comprávamos fiado. Até aí, nada de mais. O problema foi que, bem na hora em que eu fui levar o almoço do meu pai, percebi que aquele senhor, talvez por não estar num estado sóbrio, discordou do serviço que o meu pai estava terminando de concluir e ouvi bem quando teve a petulância, a ousadia, o desplante de falar alto com o meu velho pai neste tom:

                        -"Este serviço não está conforme o combinado, seu Manoel, portanto, o senhor vai ter que desmanchá-lo e fazer do jeito que eu quero!".

                        - Antes que eu me esqueça, seu Raimundo, vê se está escrito aqui na minha testa a palavra "otário". E outra coisa, não sou nenhum moleque para fazer um serviço e depois quebrar para fazer de novo. O que eu posso lhe dizer é que o serviço já está encerrado. Agora, se quiser mandar desmanchar pode chamar outra pessoa se for capaz. Mas, digo e repito, trabalho que eu faço eu não desmancho e ponto final!


                        Dito e feito. E aquela calçada ficou do jeito que o meu pai construiu. O certo é que depois que o efeito da bebida tinha passado, o seu Raimundo foi falar com o meu pai e teve a hombridade de se desculpar por aquele rompante da semana anterior e por sinal, quanto a dívida que o meu pai tinha na sua venda, apenas o alertou que não se preocupasse com ela e que poderia saldá-la quando tivesse arrumado outro serviço e tudo bem. O certo foi que meu pai, como sempre, entregou tudo nas mãos de Deus, apenas sendo grato pela sua saúde já debilitada por seus setenta anos de idade.



                                                João Bosco de Andrade Araújo

60 - PARADOXOS CORRIQUEIROS

            “Vou matar ou matei a saudade de vocês!”

             Afinal, quem mata uma saudade pode ser chamado de assassino? Brincadeira à parte, esta é mais uma expressão que traz no seu bojo um paradoxo corriqueiro, ao mesmo tempo, supondo-se uma mentira inofensiva impressionante. Inegavelmente, costuma-se dizer que a palavra saudade só existe em português, mesmo assim, quase ninguém titubeia em “matá-la” quando resolve visitar um parente ou amigo em outro lugar. E mesmo após agir assim, faz sempre questão de escrever ou dizer tal expressão desta maneira: “Ainda bem que agora matei esta saudade!”. Uma prova que isto realmente não tem lógica é que após alguns meses ou anos que tal fato aconteceu, se esta pessoa “matou a saudade”, como se explica que logo depois ela veio a renascer? Será que ela é como se fosse assim o galho de árvore ou mesmo uma folha que é arrancada e depois de algum tempo volta a nascer e assim por diante?. O que só podemos lamentar mesmo é a dura expressão “eu matei ou vou matar a saudade de um lugar ou de uma pessoa!”. E quanto a isto, realmente, ninguém pelo visto pretende mudar esta maneira de se expressar. A tendência é continuar falando sempre assim mesmo. Quanto a isto ninguém tem a menor dúvida.



                                                    João Bosco de Andrade Araújo

segunda-feira, 6 de março de 2017

PARECE PIADA, MAS NÃO É

           Uma adolescente entra numa sorveteria acompanhada da sua mãe. Toda esfuziante pergunta logo se tem paleta e qual o sabor. Depois de escolher uma e quando o comerciante informa o preço, imediatamente a jovem toma um susto e solta esta:
              - Meu Deus, mas isto é um roubo!
             A mãe até que tenta corrigir a filha exaltada e tentando apaziguar a situação, ao pagar o sorvete, comenta:
             - É filha, o problema é que a paleta é realmente bem mais cara do que os outros sorvetes comuns.
             O comerciante relevou o pequeno incidente, mas fez questão de olhar bem para aquela adolescente. E realmente este assunto não morreu ali. Como o mundo dá muitas voltas, após alguns meses, aquela mesma jovem petulante e inconsequente teve o desplante de adentrar novamente naquela sorveteria, só que desta vez sem a companhia da mãe protetora e com a maior cara de pau falou ao mesmo comerciante:
                  - Moço, você pode me vender uma paleta agora e quando eu voltar da escola eu lhe pago?
                 - Olha para minha testa, garota, e vê se está escrito assim: “trouxa”, “otário”?
                  - Nossa quanta ignorância?
                  - Sim, sou ignorante e você como é inteligente vá para a sua escola e procure lá quem lhe venda uma paleta fiado porque aqui na minha sorveteria é um roubo!
                  Em seguida a garota saiu com a boca seca do mesmo jeito que entrou e partir daquele dia, quem sabe, começou a medir mais as asneiras antes de falar.



domingo, 26 de fevereiro de 2017

REMINISCÊNCIAS DA SANTA CASA

                    Do tempo em que  trabalhei na santa casa de misericórdia de São Paulo trago gratas recordações, não vou negar, principalmente, no campo sentimental. Pois, por incrível que pareça, apesar de muitas pessoas acharem que num ambiente hospitalar só há dores, tristezas e cheiros de remédios, posso garantir que não é só isto, porém, dependendo do ambiente em que a pessoa trabalhar, dificilmente encontrará apenas fatores. 
         
                    Particularmente, posso garantir, que foi no tempo em que ali trabalhei por mais de três anos, que mais paquerei e fui paquerado. Aparecia jovem de vários tipos e classe social. Algumas fáceis, outras mais difíceis e outras apenas interesseiras, não vou negar. Eu tinha um colega de serviço, como o dito cujo morava num apartamento próximo, se ele quisesse, todo o dia levaria uma garota para transar. Era um garanhão de primeira. Já no meu caso, teria que pagar um modesto hotel também próximo.  Por outro lado, de vez em quando, aparecia alguma garota, principalmente quando estava acompanhada da mãe, dava uma de difícil e o papo era mais sério e cheirando compromisso de namoro e assim por diante. Então, o negócio era pensar bem e saber escolher. 

                   O certo é que, neste vaivém feminino, mais dia menos dia a casa podia cair, pelo menos em parte. Pois graças ao jogo de cintura que a gente tinha que ter, com uma justificativa exata, imediata, poderia se safar de uma situação embaraçosa ou como se costumava dizer, se sair de uma "saia justa".

                     Vejamos um caso concreto: a sala onde atendíamos às pessoas era relativamente pequena. Abria-se a porta onde sempre havia uma fila de pacientes e mandava entrar o próximo. Quando era homem, a entrevista era rápida e séria, Nada de papo furado. A nossa atenção era sempre com relação às garotas e estas, geralmente, vinham sempre na qualidade de acompanhantes. Então, quando entrava uma pessoa idosa era tiro e queda, ou seja, a primeira pergunta que se fazia era:
                    -Está acompanhada?
                      Ao ouvir que sim, ao mesmo tempo, pedia que mandasse entrar a tal acompanhante. Neste caso, era apenas sorte. Pois, algumas vezes dava certo, ou seja, era uma jovem bonita ou apenas "comível", para não chamar de "feia", porém, algumas vezes, dava zebra, a paciente vinha acompanhada de um filho ou marido. Então, para não dar na cara a nossa segunda ou terceira intenção, deixava a pessoa entrar e ficar ali até o término da entrevista onde se fazia a matrícula para o referido tratamento daquela paciente.

                     E foi numa ocasião destas que, após a paciente dizer que estava acompanhada e ter inclusive falado que a filha tinha apenas 19 anos, pedi para chamá-la imediatamente, ao que aquela senhora, achando estranho aquela exigência, completou:

                    - Ela pode entrar com o noivo dela?

                    - Não, dona, deixa quieto. A sala aqui é pequena e vai ficar muito abafado. Vamos ao que interessa: documentos para a matrícula!

   
                                                            JOBOSCAN ARAÚJO





sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

PLACAS SEM SENTIDO

         Nos dias atuais, com esta onda de violência, roubos e assaltos, algumas coisas estão perdendo o seu verdadeiro sentido. Vejamos, por exemplo, aquelas placas e mensagens que antes emolduravam paredes de lojas, restaurantes e comércio em geral, com as seguintes expressões: “BEM-VINDO” ou então “VOLTE SEMPRE” estão cada vez mais escassas. Não Resta dúvida, a intenção da pessoa que estampava isto no seu ponto comercial era a melhor possível. Queria ser, acima de tudo, educado e gentil com os seus fregueses e clientes. É bem provável que quase ninguém perceba este tipo de comunicação visual, mas não tem problema. O aviso está ou estava dado. Trocando em miúdo, o que comerciante quer dizer com estas plaquinhas, estes avisos, é apenas formular que os clientes e fregueses sintam-se à vontade, adquirindo os seus produtos ou consumindo as suas iguarias, ao mesmo tempo em que estará formulando o seu breve retorno.
               Só que, como ninguém neste mundo está isento de receber uma “visita” repentina de uma “persona non grata”, à sua revelia, infelizmente pode até desfazer destas plaquinhas se isto lhe vier acontecer. Pois, pensando bem, estampar para um meliante qualquer duas frases como estas: “bem-vindo” e “volte sempre”, realmente, não faz o menor sentido, pelo o contrário, chega a ser até muito irônico e paradoxal. Por este motivo, estas plaquinhas e avisos estão perdendo o sentido e a sua vez nas paredes do comércio de modo geral. Mas, pensando bem, nestes locais até tais mensagens ainda fazem sentido, lógica. Agora, o que seria totalmente um contrassenso era se colocasse tais avisos em alguma delegacia ou penitenciária e até hospital e totalmente sem sentido no muro de cemitério.