quarta-feira, 29 de março de 2017

A VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER

           O mundo hodierno está repleto de fatos e acontecimentos que, muitas vezes, fogem do padrão de comportamento normal do ser humano. Um exemplo lamentável que está sempre nas manchetes dos jornais e na mídia em geral é a violência sobre a mulher. Fato este antigo, mas nem por isso jamais deixou de condenável. Encontrar justificativa para tal atitude torna-se um contrassenso sem precedentes. É algo inútil e  perda de tempo. Afinal, querer usar a lei da física de que “toda ação geral reação”, não vem ao caso, pois considerando que o ser humano é dotado do uso da razão, o ideal é saber usá-lo no momento adequado para depois não se arrepender.
           Todo relacionamento humano é repleto de dissenções, desentendimentos que podem ser amenizados, resolvidos com o diálogo. Porém, as discussões e acusações recíprocas repletas de ódio e ressentimentos só provocam, só geram atitudes violentas, tanto físicas quanto emocionais. Enquanto estas dormitam no âmago da vítima por tempo indeterminado, aquelas servem apenas de provas para mais fácil incriminar o agressor. Enquanto este, amiúde, fingindo ou não, se diz arrependido, alegando que “ninguém é um mal concentrado”, a mulher poderá até perdoá-lo, mas perdurar, continuar a convivência de maneira pacífica e normal será uma questão de sorte, opção e caráter. Se for simplesmente por dó e posteriormente vier a sofrer maus-tratos novamente, no mínimo, poderá ser tachada de masoquista, por outro lado, se partir para o revanchismo, usando meios ilícitos e violentos para se vingar, tornará a situação incontrolável, ratificando o que todos sabemos que é: “a violência gera a violência”. E isto ninguém deseja para nenhum ser humano. Afinal, a Lei Maria da Penha está aí em pleno vigor para ajudar a todas as vítimas em qualquer lugar do Brasil. Todavia, ter receio de procurar os seus direitos é antes de mais nada um ato de covardia tal qual àquele do qual foi vítima.      


quinta-feira, 23 de março de 2017

MENTIRAS INOFENSIVAS


                  “Estou pronto (a) pra outra!”



                Quase sempre quando uma pessoa passa por um sufoco de uma grave doença, logo que se recupera e quando volta ao trabalho ou se encontra com outros familiares num final de semana, sempre surge aquele ar de admiração, alegria e aquela pergunta que não quer calar logo vem à tona: “E aí, fulano, como está sua saúde?”  “Você está bem”? Então sempre querendo fazer alguma graça, demonstrando que realmente estar bem, a pessoa que saiu de uma convalescença solta esta rotineira MENTIRA INOFENSIVA: Estou bem, PRONTO PRA OUTRA! Ora, ora que mentira absurda! Afinal, quem gostaria de ficar entrevado numa maca ou cama de hospital, servindo-se daquela comida estupidamente insossa, inclusive levando picada de agulha ou tomando remédios e mais remédios? Duvido que alguém iria gostar de um transtorno tão ruim quanto este. Só aguenta mesmo quem foi vítima de um acidente de trânsito ou problemas, transtornos alimentares e não tem alternativa senão passar por avaliação médica ou então ficar mesmo internado.  Pois como sabemos, qualquer hospital, por mais limpo e bem equipado que seja composto por funcionários, médicos, enfermeiros atenciosos etc., nunca se compara à tranquilidade doméstica ou até mesmo à rotina de um trabalho cansativo ou até chato. Afinal, a saúde é algo imprescindível para o bem estar de qualquer pessoa. Pensar ou dizer o contrário seria loucura!

sábado, 18 de março de 2017

PARADOXOS CORRIQUEIROS

                “Você não existe!”

                 É realmente impressionante quantas vezes falamos frases repletas de contrassenso. Por exemplo, falar para outra pessoa assim: “Você não existe!”, mesmo que o verdadeiro sentido desta expressão seja um grande elogio, ela traz na sua essência um grande paradoxo poucas vezes percebido, notado pelas demais pessoas. Ela, como se costuma dizer, entra por um ouvido e sai pelo outro. Ninguém entra em detalhes sobre isto. Afinal, quando alguém diz: “Você não existe!”, na realidade, está mesmo só querendo elogiar uma pessoa, o que com outras palavras significaria mais ou menos assim: “Você é uma pessoa rara, muito difícil de encontrar por ser assim tão especial, bondosa, prestativa etc.”. É verdade que quem ouve isto, ficará enaltecida, grata e geralmente apenas murmura: “Imagina!” ou “Bondade sua!”. Portando, na próxima oportunidade em que falar ou ouvir esta frase “você não existe”, pense logo que se fosse levar isto ao pé da letra, em primeiro lugar, estaria falando algo em vão ou talvez para algum fantasma, pois se tal pessoa não existisse como ela iria ouvir tal elogio ou argumentar algo mais?



                                                             João Bosco de Andrade Araújo

terça-feira, 14 de março de 2017

A SAGA DA CONCEIÇÃO

                    A SAGA DA CONCEIÇÃO



             Desde quando era adolescente, lá no interior do Maranhão, que a jovem Conceição sonhava em morar numa megalópole como São Paulo, pois sempre ouvira falar bem dessa cidade, considerada o celeiro das oportunidades profissionais. Então quando aflorava esse desejo era sempre repreendida por sua mãe, veementemente. Quanto o seu pai, nem tanto. Prova é que, não demorou muito ela recebeu um convite de uma tia, irmã do seu pai, para conhecer Brasília. Não pensou duas vezes. Aceitou-o e teve permissão dos seus pais, pois perceberam que a promessa da pessoa que a convidou, dizendo que logo ela estaria de volta era de inteira confiança. E assim foi realizado o seu primeiro desejo.
             O pouco tempo que a jovem Conceição ficou na Capital Federal serviu como trampolim para que o seu grande objetivo, ou seja, conhecer São Paulo fosse concretizado muito em breve. Isso que ocorreu um ano após o referido passeio em companhia da sua tia residente no Planalto Central. O sonhado dia chegou repleto de expectativa e apreensão. Partiu então do Maranhão rumo à Capital Paulista só como se costuma dizer, com a cara e a coragem. Segundo um conterrâneo e vizinho seu, a irmã dele estava precisando de uma moça para exercer a função de babá. Guardou o número do telefone da futura patroa entrou no ônibus, tchau e bênção. A viagem de 48 horas do Maranhão – São Paulo foi como muitas outras que acontecem diariamente por esse Brasil a fora. Sem muitos percalços, diga-se de passagem, ainda bem. A não ser uma súbita indisposição estomacal de que foi vítima a Conceição. Por sinal, por causa desse incidente à sua revelia, o que fez a passageira em questão? Simplesmente teve que trocar a blusa que estava usando até então. Só que a cor da outra peça de roupa era totalmente diferente. Nada disso seria anormal se ela se lembrasse de que havia combinado com a pessoa que iria se encontrar com ela na rodoviária o modo como chegaria. Mas só se lembrou desse importante detalhe quando o ônibus chegou ao seu ponto final. Após algum tempo aguardando a sua futura patroa que iria buscá-la, lembrou-se então da  pequena mudança no seu visual. Só que, por ironia do destino, quem foi buscá-la foi o seu futuro patrão. Quer dizer, aí a confusão estava formada. Uma coisa fora combinada e estava acontecendo tudo ao contrário. Ninguém conseguia encontrar o que procurava. Chegando, quem sabe, até passar um ao lado do outro. O certo é que o fato só foi resolvido quando Conceição seguiu uma colega de viagem, com a sua respectiva patroa, ao se aproximar de um telefone público para ligar para sua conterrânea, sem querer ouviu a conversa do senhor que estava ao telefone celular e ouviu o seu nome ser pronunciado com todas as letras. Só então ela respirou aliviada. Parece que finalmente encontrara a pessoa que estava procurando. E realmente foi o que aconteceu. A pessoa que aquele senhor fora se encontrar na rodoviária era a dita cuja.

               A princípio, tudo era novidade para a recém-chegada nordestina. Ela só não ficava mais admirada porque ainda bem fizera aquele passeio à Brasília. Mas logo que ela adentrou no recinto do enorme apartamento onde iria morar e trabalhar já se decepcionou. Pois o serviço que a aguardava não fora o combinado lá na sua cidade natal, ou seja, não era nada do que lhe fora prometido. Pra começo de assunto não havia ali nenhuma criança para ela cuidar. O que lhe foi determinado a fazer a partir daquele momento foi todo o serviço doméstico: desde cozinhar, passar, limpar etc. E justamente ela, Conceição, que não entendia praticamente nada disso. Pelo contrário, até detestava algumas destas atividades domésticas. E tudo isso foi logo colocado em pratos limpos, literalmente, naquele primeiro dia. Todavia, não adiantou muito os seus argumentos de pouca habilidade para tais tarefas. Teve que se submeter aos serviços na medida do possível.
                 Como o seu patrão teve que viajar ao exterior a sua patroa e conterrânea colocou a Conceição numa situação muito delicada. Aliás, em duas. A primeira: teria que mentir sempre que o patrão telefonasse, alegando que ela, a dona da casa havia saído para resolver algo. Isto porque logo que ele viajou, ela – a patroa infiel, diga-se de passagem – também se mandou e possivelmente com algum amante. Então a nordestina, além de ficar sozinha naquele apartamento enorme tinha que cuidar de tudo aquilo e para completar recebeu outra incumbência também muito delicada e chata: durante a ausência dos seus patrões, uma empresa de mudanças iria embalar os móveis. Só havia um pequeno detalhe: na parte referente à adega, somente ela, a empregada, colocaria as mãos. Principalmente com relação aos litros de whisky importados e de estimação do patrão. Pois ele tinha muito ciúme do seu acervo etílico.
                Com a mudança de endereço a vida da Conceição também mudou. E pra melhor. Pois foi por esse tempo que ela conheceu um rapaz e logo após um namoro firme e sério o casamento foi consumado e logo uma nova família foi formada. Sendo assim, livre daquela vida de escrava, agora no seu pequeno domicílio, só ela e o marido aproveitaram bem à vida, antes de receber a visita da cegonha. Neste ínterim, ela fez logo o seu tão sonhado curso de cabeleireira. Logo que terminou, na medida do possível, montou um salão e hoje é uma respeitável e querida profissional no bairro onde reside localizado na zona leste de São Paulo.
                 Sendo assim, com essa saga da Conceição prova-se que jamais se deve desistir dos sonhos por mais simples que pareçam. Se complicados também sempre vale a pena lutar. Afinal, a cana para ser transformada em mel deverá sempre passar por um terrível aperto. E alguém discordará dessa verdade?



                                               João Bosco de Andrade Araújo

PERCEPÇÕES DO NOSSO COTIDIANO


                        PERCEPÇÕES DO NOSSO COTIDIANO


1 – A pessoa percebe que atingiu a terceira idade, para não dizer, que está ficando idosa, quando entra numa condução e logo alguém lhe oferece um lugar, mesmo que não seja um assento preferencial...

    

2 – Um livro passa a ser considerado ótimo quando a pessoa que o estiver lendo numa condução passa do ponto em que ia descer.



3 – Uma pessoa percebe que o seu setor de trabalho está muito enfadonho quando logo que começa a trabalhar e passa a olhar o relógio, contando os minutos que faltam para o fim do expediente.



4 – Quando uma pessoa começa a perder a hora de acordar para ir ao trabalho é sinal que está fadada a perder também o seu emprego...


5 – Um livro passa a ser considerado chato, enfadonho e péssimo quando começamos a contar quantas páginas faltam para o seu epílogo...


6 – Uma pessoa pode ser considerada chata quando a encontrarmos depois de muito tempo na rua e falamos, segundo Millôr Fernandes: “Olá, há quanto tempo não a vejo, aparece lá em casa e ela vai e aparece sem prévio aviso”.


7 – Uma pessoa começa a desconfiar que seu cônjuge esteja “pulando a cerca”, ou seja, cometendo uma traição, quando um dos dois começa a chegar tarde e alegar que “estava numa reunião”, “estava no culto” etc.


8 – Um comerciante começa a desconfiar que o cliente esteja a fim de lhe dar calote quando percebe que o dito cujo muda de itinerário só para não passar próximo ao seu ponto comercial para não o encontrar.


9 – Uma pessoa passa a ser considerada viciada em jogo quando começa a fazer empréstimo para esta atividade perdulária ou então vender algo de valor que tenha em casa e até deixar de comprar algum mantimento, roupa ou calçado só para alimentar o tal vício.




10 – Uma pessoa não é considerada benquista quando ao procurar outra, quer pessoalmente ou através de telefonema, esta ao perguntar de quem se trata sai logo com esta evasiva: “Fala que não estou!”.


                               João Bosco de  Andrade Araújo

quinta-feira, 9 de março de 2017

O MEU PAI E A CALÇADA QUE ACABARA DE CONSTRUIR.

                           Desde os meus mais tenros anos de idade que eu, de vez em quando, acompanhava o meu pai ao seu trabalho esporádico de pedreiro na cidade onde nasci. Só ficávamos muito preocupados, principalmente a minha mãe, quando ele ficava alguns dias parados sem encontrar nenhum pequeno serviço. Afinal, a nossa família era composta de nove pessoas e praticamente só dependia dele. Ainda bem, que alguns comerciantes de bom coração abriam exceção e permitiam que a nossa família comprasse alguns mantimentos de primeira necessidade, usando uma caderneta onde era registrada tudo que ali se comprasse e no final do mês teria que pagar, nem que fosse a metade.

                         Lembro-me que certa ocasião, por sinal, já no último dia em que meu pai terminava o serviço numa calçada, cujo mandante era o dono do empório onde, coincidentemente, comprávamos fiado. Até aí, nada de mais. O problema foi que, bem na hora em que eu fui levar o almoço do meu pai, percebi que aquele senhor, talvez por não estar num estado sóbrio, discordou do serviço que o meu pai estava terminando de concluir e ouvi bem quando teve a petulância, a ousadia, o desplante de falar alto com o meu velho pai neste tom:

                        -"Este serviço não está conforme o combinado, seu Manoel, portanto, o senhor vai ter que desmanchá-lo e fazer do jeito que eu quero!".

                        - Antes que eu me esqueça, seu Raimundo, vê se está escrito aqui na minha testa a palavra "otário". E outra coisa, não sou nenhum moleque para fazer um serviço e depois quebrar para fazer de novo. O que eu posso lhe dizer é que o serviço já está encerrado. Agora, se quiser mandar desmanchar pode chamar outra pessoa se for capaz. Mas, digo e repito, trabalho que eu faço eu não desmancho e ponto final!


                        Dito e feito. E aquela calçada ficou do jeito que o meu pai construiu. O certo é que depois que o efeito da bebida tinha passado, o seu Raimundo foi falar com o meu pai e teve a hombridade de se desculpar por aquele rompante da semana anterior e por sinal, quanto a dívida que o meu pai tinha na sua venda, apenas o alertou que não se preocupasse com ela e que poderia saldá-la quando tivesse arrumado outro serviço e tudo bem. O certo foi que meu pai, como sempre, entregou tudo nas mãos de Deus, apenas sendo grato pela sua saúde já debilitada por seus setenta anos de idade.



                                                João Bosco de Andrade Araújo

60 - PARADOXOS CORRIQUEIROS

            “Vou matar ou matei a saudade de vocês!”

             Afinal, quem mata uma saudade pode ser chamado de assassino? Brincadeira à parte, esta é mais uma expressão que traz no seu bojo um paradoxo corriqueiro, ao mesmo tempo, supondo-se uma mentira inofensiva impressionante. Inegavelmente, costuma-se dizer que a palavra saudade só existe em português, mesmo assim, quase ninguém titubeia em “matá-la” quando resolve visitar um parente ou amigo em outro lugar. E mesmo após agir assim, faz sempre questão de escrever ou dizer tal expressão desta maneira: “Ainda bem que agora matei esta saudade!”. Uma prova que isto realmente não tem lógica é que após alguns meses ou anos que tal fato aconteceu, se esta pessoa “matou a saudade”, como se explica que logo depois ela veio a renascer? Será que ela é como se fosse assim o galho de árvore ou mesmo uma folha que é arrancada e depois de algum tempo volta a nascer e assim por diante?. O que só podemos lamentar mesmo é a dura expressão “eu matei ou vou matar a saudade de um lugar ou de uma pessoa!”. E quanto a isto, realmente, ninguém pelo visto pretende mudar esta maneira de se expressar. A tendência é continuar falando sempre assim mesmo. Quanto a isto ninguém tem a menor dúvida.



                                                    João Bosco de Andrade Araújo

segunda-feira, 6 de março de 2017

PARECE PIADA, MAS NÃO É

           Uma adolescente entra numa sorveteria acompanhada da sua mãe. Toda esfuziante pergunta logo se tem paleta e qual o sabor. Depois de escolher uma e quando o comerciante informa o preço, imediatamente a jovem toma um susto e solta esta:
              - Meu Deus, mas isto é um roubo!
             A mãe até que tenta corrigir a filha exaltada e tentando apaziguar a situação, ao pagar o sorvete, comenta:
             - É filha, o problema é que a paleta é realmente bem mais cara do que os outros sorvetes comuns.
             O comerciante relevou o pequeno incidente, mas fez questão de olhar bem para aquela adolescente. E realmente este assunto não morreu ali. Como o mundo dá muitas voltas, após alguns meses, aquela mesma jovem petulante e inconsequente teve o desplante de adentrar novamente naquela sorveteria, só que desta vez sem a companhia da mãe protetora e com a maior cara de pau falou ao mesmo comerciante:
                  - Moço, você pode me vender uma paleta agora e quando eu voltar da escola eu lhe pago?
                 - Olha para minha testa, garota, e vê se está escrito assim: “trouxa”, “otário”?
                  - Nossa quanta ignorância?
                  - Sim, sou ignorante e você como é inteligente vá para a sua escola e procure lá quem lhe venda uma paleta fiado porque aqui na minha sorveteria é um roubo!
                  Em seguida a garota saiu com a boca seca do mesmo jeito que entrou e partir daquele dia, quem sabe, começou a medir mais as asneiras antes de falar.