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sábado, 26 de abril de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                        O FECHAMENTO DO SEMINÁRIO


                                                                   FIM DO ANO DE 1969



                         No final de novembro deste ano ocorreu um encontro inesperado do arcebispo dom Adelmar com vários padres da arquidiocese de Teresina. Nesta ocasião, constatamos que não havia nenhum sacerdote ou representante da diocese de Oeiras. Nós, os poucos seminaristas desta diocese, ficamos, como se costuma dizer, "com a pulga atrás da orelha", ou seja, bem desconfiados. Afinal, qual o sentido daquela reunião tão repentina? E não demorou muito ficarmos sabendo. Pois, após uma conversa entre o clero ali reunido, em seguida fomos convocados para ouvirmos uma palestra do dom Adelmar.
                        Primeiramente ele fez uma rápida, eloquente e profunda explanação sobre o sentido, o valor da vocação sacerdotal. Em seguida, enumerou as vantagens e desvantagens de uma vida religiosa celibatária. Falou também sobre as tentações mundanas. Fez também uma bonita comparação do ideal frágil, desprovido de fé, determinação e amor com a passagem evangélica sobre o homem que resolveu construir uma casa sobre a areia. Continuando, atingiu o cerne da palestra: O FECHAMENTO DO SEMINÁRIO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS de TERESINA. Segundo ele, a triste decisão foi tomada, exclusivamente, por motivos financeiros daquela arquidiocese, ou seja, a Igreja Católica não estava arrecadando o dinheiro suficiente para manter o seminário funcionando a partir de 1970. Relembrou que, com a tentativa recente em 1968, quando liberou todos os seminaristas para as suas respectivas cidades, a arquidiocese chegou à conclusão que seria debalde continuar com o funcionamento do seminário, mesmo operando com o regime semi-interno e continuar no vermelho. Em virtude desa triste e dura realidade não havia outro meio senão desativá-lo e alugar o prédio para outra entidade ou empresa pública ou privada. E foi o que realmente aconteceu. No ano seguinte naquele local passou a funcionar a Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Piauí.
                          No final desta fatídica palestra convocou a todos os presentes que se sentissem realmente com a chama do ideal sacerdotal no coração que não parasse no tempo e sim dessem continuidade aos estudos em outras capitais do país, preferencialmente onde houvesse um bom colégio religioso, ou seja, um ótimo seminário. Aproveitou, finalmente, para se colocar à disposição de qualquer um para elucidar alguma dúvida ou que precisasse de uma orientação mais objetiva.



                                                    Próxima postagem: ALGUMAS PERGUNTAS AO PALESTRANTE

segunda-feira, 14 de abril de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                   Conforme já foi registrado aqui, no início deste ano de 1969 chegou um pequeno grupo de freiras ao nosso seminário, onde fixou residência enquanto cumpria um trabalho apostólico na capital piauiense. O nosso novo reitor, para evitar comentários maldosos, logo providenciou uma pequena e improvisada clausura para as quatro freiras. Mesmo assim, durante o dia, elas tinham todo acesso nas demais dependências do seminário, principalmente na capela  e refeitório. Logo que elas chegaram, uma chamou a nossa atenção por sua beleza física, pois além de nova era bastante comunicativa e cativante. Não demorou muito, um dos seminaristas logo sentiu uma súbita atração e admiração pela religiosa e não demorou muito já dava para perceber facilmente que aqueles papos fora de hora já dava para levantar suspeitas de que algo sentimental deveria estar acontecendo entre os dois.
                  Como aquele jovem seminarista tinha residência em Teresina, durante as férias de julho, segundo o mesmo nos contou, chegou a levar irmã Maria do Céu até à sua casa para conhecer a sua família. Sendo assim, logo no início do segundo semestre já estava evidente que aquele romance era visível. Inclusive, certa noite, um colega ao perceber que a cama do dito cujo estava vazia, não titubeou, convidou um pequeno grupo para bisbilhotar a intimidade daquele casal. Pois os dois, como já era do conhecimento de alguns, costumavam conversar, para não dizer, namorar sob uma escada atrás, ironicamente, da nossa capela. Dito e feito, ficamos ali num lugar estratégico e logo os dois começaram uma troca ousada de carinhos, chegando inclusive a cariciar os seios da jovem religiosa, a qual pressentindo que se continuasse naquelas carícias íntimas logo chegariam às vias de fato, resolveu se recolher, deixando o nosso colega ali, literalmente na mão. Pois tão logo o mesmo se recolheu percebemos que foi direto para o banheiro e procurou logo se aliviar de uma maneira ou de outra.
                  Mas este romance no nosso meio logo foi desvendado e ratificado, quando os dois resolveram de livre e espontânea vontade,  assumir um compromisso sentimental fora do nosso convívio. Ou seja, não foi necessário nenhum tipo de punição, como expulsão, e antes do ano letivo terminar aquele casal resolveu consumar um casamento, pois afinal, como dava para perceber, parecia mesmo que cada um nascera para o outro. Se foram felizes para sempre isto ninguém ficou sabendo. Queira Deus que sim. É a vida!

                                                       Joboscan de Araújo

segunda-feira, 3 de março de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                         MISSA DO ARCEBISPO


                            Há coisas que acontecem na nossa vida que não tem muita explicação, apenas hipótese. Por exemplo um vexame que aconteceu comigo numa tarde de domingo lá no seminário. Foi uma situação atípica. Eu estava, sem motivo algum, arrumado como se fosse passear, assistir a algum filme na cidade ou mesmo até assistir a alguma missa, o que seria mais correto. Estávamos conversando, descontraidamente por volta das 17 horas, quando chegou o coordenador da nossa turma, olhou para todos os que estavam ali e percebeu que o único que estava arrumado era eu. E escalou arbitrariamente:
                           -Você Leonam, já que está todo pronto, tem uma missão para você! O motorista do Dom Adelmar está lá embaixo esperando para levá-lo para ir ajudar a missa lá no Palácio Episcopal.
                           Ainda tentei argumentar que nunca tinha entrado naquele suntuoso recinto e nunca tinha ajudado a uma missa de um arcebispo, mas foi inútil. O coordenador não quis saber nem entender do que eu estava falando. E insistiu: vamos, vamos que o Dom Adelmar não gosta de atrasos.
                          Fui então catapultado e em poucos minutos lá estava eu na capela do Palácio Episcopal, neste momento repleta de fiéis. Sinceramente, não sabia nem por onde começar. Ao perceber a minha assustada presença, uma freira veio me perguntar se eu estava ali para ajudar a missa. Ao responder que sim ela orientou-me a falar com o arcebispo que se encontrava no seu escritório no fim do longo corredor. Ao me ver plantado ali, não sei se foi porque ficou assustado, ao tomar conhecimento que eu não tinha arrumado nada na sacristia, simplesmente falou:
                         -Procura o motorista e volta para o seminário e pede para me mandar alguém que saiba ajudar uma missa que já está atrasada.
                         Voltei e dei o recado e outra providência foi tomada. Só que pensei com os meus botões: Tudo isto poderia ter sido evitado se o coordenador apressado tivesse ouvido os meus argumentos. Mas tenho as minhas dúvidas se ele não agiu daquela maneira só para me humilhar. Afinal, nós seminaristas da Diocese de Oeiras não éramos benquistos naquele ambiente, onde havia muitas discriminações e picuinhas.

                                           
                         

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                          UMA VIAGEM DE APOSTOLADO

                     No final do mês de setembro alguns seminaristas foram convocados para uma viagem de apostolado à cidade de União bem perto de Teresina. Era a festa da padroeira daquela cidade e o vigário necessitava de várias pessoas para um trabalho de apostolado. Fui um dos indicados para fazer este trabalho. Fomos bem recebidos e logo começamos as nossas atividades. Cada um de nós foi indicado para um lugar diferente. As famílias foram avisadas e escolhidas antecipadamente. Logo que cheguei fui bem recebido. Como a sala estava muito abafada, com tanta gente, solicitei ao dono da casa que fôssemos para o quintal onde havia um enorme pé de manga. Aqui cada um se acomodou da melhor maneira possível e assim começamos a orar e refletir um pequeno trecho do Evangelho.
                   Quando a nossa reunião estava chegando ao término, um jovem pediu a palavra para fazer uma observação que ele considerava importante e realmente o era.
                   - "Olha, eu sei que você ainda está bem longe de ser ordenado padre.Mas como vive sempre na boa e sadia companhia das pessoas da Igreja, será que você poderia descobrir o porquê do número três em várias passagens do Novo Testamento. Será que há alguma relação com a numerologia ou com a Santíssima Trindade?"
                   - Olha, meu jovem, você me pegou de surpresa. Mas poderia citar alguns exemplos desta sua observação interessante? - Perguntei curioso.
                   -" Pois não. Veja só: Primeiro quando Cristo nasceu quantos reis magos O visitaram? 3 (Belchior, Gaspar e Baltasar). Segundo: Quando Cristo tinha nove anos e foi com os seus pais a Jerusalém e aí ficou, por que será que só O encontraram após o terceiro dia? Terceiro: Já na vida pública, Cristo foi tentado pelo demônio quantas vezes? Três. Quarto: No dia do julgamento de Cristo o apóstolo Pedro O negou quantas vezes? Três vezes. Quinto: Durante o percurso rumo ao calvário Jesus caiu quantas vezes? Três vezes. No Gólgota havia quantas cruzes? Três. Ele deu seu último suspiro que horas? Às três da tarde ou quinze horas como na bíblia está escrito. Ele ressuscitou depois de quantos dias? Três. E afinal, qual a idade de Cristo? 33 anos. Então, caro seminarista, é ou não muito número três nesta história sagrada?"

                   Olha, caro jovem, primeiramente, parabéns pelo brilhante conhecimento do Novo Testamento e da Bíblia, por que não? Realmente a sua indagação é muito inteligente e profunda. Eu, sinceramente não sou capaz de respondê-la. Quem sabe, num futuro próximo quando aprofundar mais os meus estudos..

                                                 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                   CONCURSO LITERÁRIO


                           No final de agosto de 1969 a Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Piauí lançou um CONCURSO LITERÁRIO, cujo tema era A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NA FORMAÇÃO DA JUVENTUDE BRASILEIRA. A premiação para os cinco primeiros colocados era em dinheiro. Vários alunos dos colégio de Teresina se inscreveram, inclusive o nosso. Apesar deste ano, exclusivamente, estivéssemos estudando em colégios da cidade, éramos conhecidos como seminaristas e o nosso destinatário era o seminário. Sendo assim, ao participarmos deste concurso, a nossa referência era, portanto este educandário religioso.
                         Alguns seminaristas tomaram a iniciativa de participar deste desafio literário. Inclusive eu. E assumi este compromisso sozinho. Os outros estavam fazendo o trabalho em dupla. Com muita determinação e esforço, em quase um mês consegui colocar um ponto final naquele trabalho e o entreguei no local designado. Os comentários pessimistas sobre o futuro ganhador eram os mais esquisitos possíveis. Parecia até que ninguém ali estava entusiasmado com o seu respectivo trabalho. Particularmente, tinha a certeza que procurei elaborá-lo da melhor maneira possível, com muito capricho, diga-se de passagem, modéstia à parte.
                       No dia do anúncio do resultado do concurso, ficamos reunidos próximos do único rádio à nossa disposição. Quando foi anunciado o quinto lugar, o primeiro comentário já se ouviu logo:
                      -"Tá vendo, nem um quinto lugar ninguém daqui consegue ganhar, já imaginou os primeiros?"
                      E assim sucessivamente. Sempre que o locutor anunciava o nome do aluno e do colégio, o murmúrio era uníssono: "Já era, não estamos com esta bola toda não!"
                      Finalmente, quando o locutor fez suspense e anunciou:
                      - Agora, senhoras e senhores, o ganhado deste Concurso Literário é aluno do Seminário Sagrado Coração de Jesus! O seu nome é: Leonam de Araújo!
                      Só mesmo quem estava naquele local para ver a cara de espanto daqueles seminaristas. Quando perceberam a minha presença ali, não sei se por inveja ou dor de cotovelo, quase ninguém vibrou e antes de ouvir qualquer comentário falso de bajulação, retirei-me, disfarçadamente daquele local e fui à capela agradecer a Deus por esta conquista, por esta vitória.
                       Vale ressaltar que o prêmio do primeiro lugar foi no valor de C$70.000,00 (Setenta mil cruzeiros). Para mim, este dinheiro foi o suficiente para pagar algumas dívidas e ainda sobrou para comprar alguns livros e roupas.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                        Visita inesperada de seminaristas paulistas


                                  Faltando uma semana para terminar as férias de julho de 1969, a  paróquia de Simplício Mendes recebeu uma visita inesperada de quatro seminaristas que vieram de São Paulo. Coincidentemente, neste mesmo dia o vigário não se encontrava, mas mesmo assim ficaram hospedados na casa paroquial. Eles estavam fazendo um périplo pelo nordeste do Brasil, colhendo dados para uma pesquisa religiosa. Usavam pastas, folhetos e precisavam preencher alguns questionários junto à população de cada município visitado. Obviamente, para começar coloquei-me à disposição para guiá-los em algumas visitas.
                                Neste ínterim, os meus colegas ficaram um pouco sem a minha companhia para aquele bate-papo corriqueiro ou até mesmo mais algumas serenatas. Mas tudo bem. Quando o padre Aderaldo chegou aí sobrou mais tempo para mim, pois ele teve que dar mais atenção aos visitantes. O importante foi que antes de voltar para Teresina ganhei um presente de um deles: um rádio portátil, o qual seria muito útil para eu ouvir músicas e notícias quando estivesse no seminário, o que não era mais proibido, graças à nova gestão do novo reitor. Pois há alguns anos este tipo de regalia jamais seria permitido. E foi graças a este pequeno aparelho que ouvi a notícia de um concurso de monografia do qual participei . Assunto este que abordarei, posteriormente.


                                        Próxima postagem: CONCURSO LITERÁRIO

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                   O HOMEM NA LUA

                Por este tempo, 21 de julho de 1969, a Apolo XI aterrissa no solo lunar, concretizando um dos maiores sonho do homem. Era quase meia-noite no Brasil. E, por incrível que pareça, acompanhávamos esta epopeia através do rádio, pois nem televisão tínhamos na nossa pequena e humilde cidade de Simplício Mendes - Piauí . Ouvindo aqueles comentários sobre a brilhante façanha de um ser humano pisando pela primeira vez na lua, devido o meu momento romântico, literalmente, sentia-me como se estivesse também no mundo da lua. Precisava me beliscar para sentir que estava acordado. Pois o meu pensamento estava totalmente voltado para aquela garota que parecia me perseguir com o seu lindo olhar. Podia ser algo fugaz, mas até que eu estava sentindo um grande prazer em viver aquele momento. Parecia até uma obsessão de adolescente.
               Antes de regressar ao seminário cheguei a ensaiar uma conversa com ela ali mesmo na praça. Mas ela e minhas primas davam voltas na praça e não paravam um só momento. Cheguei a falar assim para o meu amigo, Jorge Mendes, o qual também estava interessado numa das garotas ali presente.
                -Poxa, rapaz, não sei como estas meninas não se cansam!
                -Ora, se algum pretendente interpelá-las, tenho certeza que elas darão alguma atenção, nem que seja para dizer não.
                -É verdade, mas onde se compra coragem?
                -Que nada, Leonam, elas não mordem não - continuou o meu amigo.
                -Eu sei, rapaz, mas o problema mesmo não é o medo, mas a timidez. Eu tenho certeza que se eu me aproximar para trocar alguma ideia será bem capaz que não sai nada da minha boca.
                - É mesmo e junta a sua timidez com o receio do que as outras vão falar devido a sua condição de seminarista, que não pode namorar, aí então tudo fica mais difícil mesmo.
                  E assim ficamos algum tempo jogando conversa fora só abordando teorias e hipóteses. O tempo foi passando, até que chegou o momento de nos recolhermos. Amanhã seria outro dia e o sol iria nascer novamente.
                 As minhas férias terminaram e não encontrei outra oportunidade de outro como esta para conversar com aquela garota. Quando cheguei em Teresina a primeira coisa que eu fiz foi escrever uma carta mais do que caprichada, expressando tudo o que eu sentia com relação àquela jovem. E a minha surpresa foi que a recíproca era verdadeira. E passamos o segundo semestre de 1969 trocando confidências através de lindas e sinceras cartas amorosas. A minha sorte é que, por este tempo, o reitor do seminário como era um Padre com ideias avançadas, entendia muito bem que violar correspondência fazia parte de outros tempos. Ainda bem.

                                           Próxima postagem: Visita de seminaristas de São Paulo

domingo, 29 de dezembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                   ALIMENTANDO UM NAMORO PLATÔNICO

                           Aproveitando que o padre Aderaldo havia viajado, os meus colegas tiveram uma ideia: "Vamos fazer uma serenata hoje?" Alguns deles tinham namoradas e ao saberem que eu tinha uma admiradora, aproveitaram para me incentivar e participar deste programa romântico. Principalmente porque a vitrola que iríamos usar era da paróquia e eu era o responsável (ou irresponsável?) para comandar e executar as músicas durante este nosso périplo noturno nas respectivas casas das jovens. E como não poderia deixar, aproveitei também para passar na casa da minha prima, onde a minha paquera estava hospedada e coloquei para tocar as músicas mais românticas do momento, por exemplo, Roberto Carlos, Paulo Sérgio, Antônio Marcos etc.
                          No dia seguinte o comentário foi geral. Elas comentaram por onde andavam e realmente elas gostaram bastante. Afinal, uma serenata, programa típico das cidades do interior, retratava o romantismo dos jovens, principalmente os mais tímidos como eu. E durante este programa, sempre regado com alguma bebida alcoólica, as horas passavam rápidas e por isso, era sempre muito divertido. O certo é que aquela serenata foi bastante comentada no dia seguinte, repito, inclusive até a minha irmã aproveitou para tirar uma dúvida:
                      -Diga-me uma coisa, meu irmão. Seminarista pode namorar? Eu sei que padre não pode, mas vocês podem?
                     - Quem estar namorando? Perguntei muito sem graça, inclusive só mexendo na comida, demonstrando-me até sem apetite, por sinal, um forte sintoma de quem estava apaixonado.
                     -É o que estão comentando pela cidade. Mas acho que é apenas fofoca...
                     -Deve ser mesmo. Pois eu nem conversei com esta moça. Apenas nos olhamos bastante lá na igreja...
                     -Na igreja, meu irmão? Mas logo lá? Não poderia ser na praça, no salão de baile? Olha que isto deve ser pecado...
                     -Não exagera, minha irmã. Deus é quem sabe.
                     -Conversou ou não, o certo é que de uns três dias pra cá você anda muito diferente. Sem fome, sempre cantarolando músicas românticas, apaixonadas...eu não sei não, mas acho que neste mato tem coelho, neste angu tem caroço.
                    -É, pode ser isto mesmo. Mas repito, Deus é quem sabe.
                     E o nosso papo terminou por aí.

                                                Próxima postagem: O HOMEM NO SOLO LUNAR

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                     FLERTE NO TEMPLO


                    Antes do padre Everaldo viajar para o encontro do clero, ele celebrou a missa dominical. Por ocasião deste ato religioso aconteceu um fato inusitado que jamais esquecerei. Pra começo de assunto é bom deixar registrado que nesta ocasião eu não estava ajudando a santa missa. A igreja estava lotada. Eu estava num local estratégico. Repentinamente, olhando assim como quem não quer nada, lembro-me que bem na hora do sermão, sintonizei os olhos de uma garota. A princípio cheguei a pensar que ela estivesse olhando para outro rapaz. Disfarcei um pouco para ter certeza. Sorrateiramente, voltei a olhar para a mesma jovem. Ela continuava olhando na minha direção. Como se tivesse sido flechado por Cupido senti meu coração bater descompassado e forte. Tentei voltar a minha atenção para o sermão do vigário, mas não conseguia. Algo me impulsionava a olhar novamente para aquela jovem.
                 Após a missa eu parecia um nefelibata. Só voltei a mim quando um colega e amigo me confidenciou que aquela jovem que estava olhando para mim era da cidade de Oeiras e estava passando as férias na minha cidade. Por incrível que pareça, coincidentemente, ela estava hospedada na casa de uma prima minha e ex-colega de ginásio. Resumindo: depois de saber disto, ficou mais fácil para eu conseguir mais alguma informação sobre aquela jovem, cujo nome logo fiquei sabendo: Marlene.
                 Passou um dia e eu sem coragem de me encontrar com esta jovem e me declarar. Ficava só na teoria, imaginando o que poderia falar. Não tinha menor ideia. O certo é que foi assim que nasceu no meu âmago este amor platônico que durou seis meses, aproximadamente.


                                Próxima postagem: continuação deste romance (quase proibido)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                    FÉRIA DE JULHO DE 1969


                                 Faltando uma semana para o início das férias de julho, o novo vigário da minha cidade, Simplício Mendes, o padre Adevaldo Lindenberg, ao tomar conhecimento que eu pretendia ficar no seminário, uma vez que os meus familiares estavam em São Paulo, imediatamente tomou as devidas providências para que eu fosse passar as férias lá, com o objetivo de ajudá-lo durante a visita que ele teria que fazer nas pequenas localidades, administrando os sacramentos e celebrando as missas.
                                Logo que eu cheguei percebi que ele ficou bastante contente, ao mesmo tempo que admirou muito o meu físico bastante franzino e falou em um português com muito sotaque:
                               -"Meu Deus, como você está magrinho? Não 'ter' comida em seminário?
                               -Ah, padre, sempre fui assim mesmo magrinho. O importante é ter saúde.
                               -"Mas é melhor engordar um pouco mais, non?
                               -Não tenho tendência pra isso, não senhor.
                               -Que é 'tendência'?
                               - Não sei bem explicar ao senhor, o certo é que estou bem assim.
                               -Tudo bem, vamos para o que interessa.
                               Em seguida ele me falou que tinha marcado algumas visitas (desobrigas) a alguns municípios adjacentes. Por isso precisava muito da minha ajuda, pois já tinha ido com o seu antecessor e percebeu que precisaria de um ajudante que entendesse da rotina quanto a administração dos sacramentos, por exemplo, casamento, batismo e, principalmente, as missas. Então já no dia seguinte partimos para este trabalho apostólico. Aqui, além  das missas, batizados, casamentos, o vigário fazia rápidas visitas aos enfermos das localidades. E quase tudo que ele fazia era necessário sempre o sacristão, que era a minha função, ao seu lado, ajudando-o no que fosse preciso. Além desta ajuda direta, cabia-me a função de preparar os paramentos, o altar, bater o sino, anunciando o horário das missas e também ensaiar os cânticos litúrgicos com os fiéis. Só não tinha interferência mesmo na hora das confissões, é óbvio. E com isto, como estava sempre ocupado, o tempo passava rápido.
                            Detalhe importante: nestas desobrigas, a refeição em todos os lugares em que ficávamos hospedados, mesmo por pouco tempo, era sempre gostosa e variada, ou seja, caprichada. A família que nos acolhia, podia ser simples como fosse, mas na horas das refeições, café da manhã etc, as iguarias e guloseimas eram sempre deliciosas. Não sabíamos nem por onde começar. O padre Adevaldo então, sempre preocupado como o meu pouco físico, procurava me estimular para me servir bastante. Será que achava que comendo muito eu iria engordar? Ledo engano. Ele, por sua vez, como era um alemão forte, era um bom de garfo. Comia de tudo e bastante. Mas, cada um, cada um.
                          O certo é que, pouco a pouco, o novo vigário ia conquistando a simpatia do povo, principalmente da cidade de Simplício Mendes, que já estava bem acostumado com o anterior, o Padre Agostinho da Rocha. Mas, é assim mesmo.

                                                     Próxima postagem: flerte no templo sagrado

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                           ANO DE 1969 (continuação)


                                 No início deste ano, um ex-seminarista e agora professor, Noé Mendes, conseguiu com a anuência do nosso novo reitor, Padre Silvério Bento Lopes, usando apenas uma das várias salas que nos anos anteriores assistíamos as aulas, inaugurar uma escolinha infantil. O nome, por sinal, bastante sugestivo: PEQUENO PRÍNCIPE. Portanto, de segunda a sexta o nosso prédio recebia a visita, no período matinal, de várias crianças alegres e barulhentas que chegavam a nos alegrar um pouco. Escrevo isto, a posteriori, pois, amiúde, o professor Noé, por sinal, meu conterrâneo, pedia-me para que o substituísse, ficando no horário da manhã na companhia dos seus pequenos alunos, ocupando-os com pequenas atividades e brincadeiras. Tudo isto foi ótimo enquanto durou.
                               Por outro lado, em busca de ajudar aos seminarista, o nosso reitor deu ofereceu e deu liberdade a quem quisesse procurar o tempo livre com a aprendizagem ou ocupação trabalhista no centro da cidade, como por exemplo, gráfica de algum jornal, rádio, banca de jornal, como se fosse uma espécie de laboratório, para não dizer, exercendo uma função de estagiário numa atividade adequada a qualquer um. Por exemplo, no meu caso, aceitei uma vaga numa gráfica do jornal O DOMINICAL, o qual pertencia à Arquidiocese de Teresina. Portanto, não era nenhuma atividade remunerada e sim, apenas para ocuparmos o nosso tempo com uma ocupação condizente com a nossa personalidade e afinidade. Com isto, sentimos na pele o valor que tem o trabalho humano.

                                                  Próxima postagem: Férias de julho de 1969

domingo, 17 de novembro de 2013

NOVA ROTINA NO SEMINÁRIO NO ANO DE 1969

                                Logo no início deste ano letivo de 1969, percebemos facilmente que o ambiente estava totalmente diferente e para melhor. Tanto no "lay-out" do prédio em geral como na administração. Afinal, o padre Silvério, como era bem mais jovem do que os reitores anteriores tinha uma visão mais aberta e realmente diferente. Era a favor do diálogo, inovações, aceitava sugestões etc.
                               Pra começar, houve uma mudança radical na nossa rotina com a chegada à nossa comunidade de um grupo de freiras, as quais passaram a residir numa clausura apropriada numa das dependências do grande prédio. A pergunta que não queria calar entre nós era o porquê da permanência delas no seminário e não no convento das freiras. Mas o nosso reitor, antes que surgissem comentários maldosos sobre este assunto, procurou logo esclarecer de maneira objetiva o motivo da presença daquelas seis irmãs no nosso meio. Durante a missa dominical, com a presença de muitos fiéis que residiam na adjacência do seminário, assim o padre Silvério explicou:
                            -"Gostaria de aproveita esta oportunidade para esclarecer a todos que, atendendo uma determinação da Arquidiocese de Teresina e com a anuência do Vaticano, durante este anos teremos a satisfação de abrigar algumas irmãs religiosas, que vieram de Fortaleza com uma missão pastoral aqui na capital do Piauí, que se resume num trabalho sério e bonito de evangelização junto à juventude de um modo geral. Elas ficarão hospedadas aqui no seminário com direito a uma clausura especial. Aproveito o ensejo para convidar os presente, se por ventura desejarem, fazer uma breve visita para conhecer o ambiente."
                             Se alguém aceitou este convite não tenho certeza, o certo é que elas passaram a conviver no nosso meio, sempre procurando ajudar em alguma coisa, principalmente com relação à organização, limpeza da capela e refeitório. Vale ressaltar que elas eram jovens e não usavam aquele hábito tradicional, apenas roupas bem recatadas e com o distintivo da ordem que elas pertenciam, trazendo sempre  um crucifixo no pescoço. Entre elas, quero ressaltar, havia uma que se destacava pela beleza física, a qual, mesmo usando roupas simples e adequadas, não disfarçava o corpo que chamava a atenção de qualquer um. E sobre este assunto, haverá um capítulo especial que abordarei no segundo semestre deste ano.

                                               

domingo, 3 de novembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                            ANO DE 1969


                         Como já estávamos cônscios de que o seminário de Teresina iria funcionar este ano em regime de semi-internato viajamos já preparados, psicologicamente. Sabíamos que estudaríamos nos colégios da capital. A nossa rotina estudantil seria conviver com jovens, rapazes e moças com ideais diferentes do nosso. E foi justamente sobre este tema que o nosso novo reitor, Padre Silvério Bento Lopes nos falou logo na primeira reunião:
                       -"Sabemos, conforme o Santo Evangelho, que numa passagem da vida pública de Jesus, com muita precisão ele procurou ensinar como se comportar num ambiente diferente do habitual, dizendo assim: "É fácil conviver com os bons, o difícil sim é permanecer no meio dos maus, sem se macular, contaminar. É verdade que todo o ser humano está sujeito a erros, mas podendo evitá-los é sempre bom."
Com isso não quero insinuar que somos os bons, os melhores ou que somos o trigo e os outros jovens, rapazes e moças são o joio. Pois lá fora também há muitos jovens dotados de bom caráter, boa educação. Portanto, devemos conversar, dialogar com todos eles, indistintamente, mas sem envolvimento emocional. Fique atentos, inicialmente, que provocações, insinuações, pegadinhas sempre vão existir. Até o nosso Salvador foi testado, provocado pelos fariseus e também pelo diabo. Como sabemos, ele sempre se saía bem das perguntas capciosas. Afinal, a tática para não arrumar inimizade é não se importar com algumas brincadeira de mau gosto que certamente irão surgir. Procurem relevar e não encarar tudo com seriedade ou ao pé da letra. Como já falei, muitos dos seus futuros colegas tentarão testar a paciência e a personalidade de cada um de vocês.
                          Quando as aulas começaram, logo nos primeiros intervalos, pelo menos da minha parte, constatei que o nosso reitor estava coberto de razão quanto as suas ponderações e advertências. Com o passar do tempo, segundo ele mesmo nos advertiu, já estávamos bem acostumados e ambientados com os nossos colegas

                                                      Joboscan de Araújo

                                       Próxima postagem: NOVA ROTINA NO SEMINÁRIO

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                Após a nossa festa de formatura e com a aproximação das festas de Ano Novo, o assunto que voltamos a abordar era sobre o nosso passeio. E quanto a isto cada um de nós parecia  mais pessimista do que o outro.
                              -"Está difícil encontrar alguém para nos acompanhar!" - dizia um.
                              -"O Padre Agostinho já falou que não pode, pois tem reunião do clero".
                              -"Nem o diretor do ginásio também pode" - falava outro.
                              -"E será que não tem nenhum professor que poderá nos acompanhar?"
                             Bem, o certo é que não havia nenhuma luz no fim do túnel. E o tempo estava passando rápido. Só para se ter uma ideia, não tínhamos nem um lugar programado, quanto mais transporte ou alguém responsável para o tal passeio. Por outro lado, alguns colegas não demonstravam nenhum interesse mais veemente para este projeto. Inclusive, alguns já estavam com viagem programada para a capital e outras cidades, providenciando colégios para dar continuidade aos seus estudos. Portanto, nada favorecia para a concretização do nosso passeio. Quanto ao responsável pelo o dinheiro naquele momento estava sendo eu. Pois, todos confiaram na minha pessoa, com o estigma de ilibada, responsável, futuro padre etc, sendo assim, aquela quantia estaria em boas mãos. E realmente procurei guardá-lo com toda a responsabilidade. Até o dia em que fizemos uma reunião com quase todos os colegas e tomamos uma atitude muito irresponsável: resolvemos em comum acordo dividir o dinheiro. É verdade que alguns e eu estava entre estes, achavam que esta nossa atitude seria bastante criticada pela comunidade simplício-mendense. E o padre Agostinho quando soubesse desta partilha espúria e irresponsável? Então, não demorou muito, esta notícia se espalhou pela cidade tal qual um rastilho de pólvora. E os comentários maldosos logo surgiram. Sentindo a péssima repercussão, não tínhamos desculpas coerentes para tal atitude. E quando o nosso vigário chegou, pelo seu semblante, antes amigável, sorridente, agora carrancudo e triste, na hora da missa daquele domingo, com a igreja lotada, o assunto integral do seu sermão foi sobre aquela nossa fatídica atitude. A palavra mais bonita e menos contundente, pesada, forte que ele falou foi: IRRESPONSÁVEIS.
                              Inegavelmente, por ironia do destino, como um daqueles irresponsáveis citados pelo padre Agostinho, estava eu ao seu lado no altar, pois como seminarista e sacristão, a minha função era ajudá-lo durante a celebração da santa missa. Fiquei cabisbaixo e macambúzio como mandava a situação e posso não ter demonstrado externamente através de lágrimas cálidas escorrendo no meu semblante, mas o meu âmago estava estraçalhado, magoado e acima de tudo, arrependido por tudo aquilo. Réu confesso, o meu perdão eu pedi e tenho certeza que aquela mágoa com o povo de Simplício Mendes demorou ser olvidada.
                            Uma só frase que ouvi do vigário antes da missa que jamais consegui esquecer foi:
                            -"Gostaria tanto que não fosse verdade esta palhaçada que vocês fizeram!..."
                           

                                                       Joboscan de Araújo

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                    Finalmente o dia da nossa formatura chegou. E com ele, muita expectativa e nervosismo da nossa parte. Pois desejávamos que tudo ocorresse às mil maravilhas. E graças a Deus nenhum imprevisto mais sério aconteceu. Para emoldurar um pouco o conteúdo desta solenidade, modéstia à parte, publico um trecho do meu discurso, pois como orador da turma, estive bastante emocionado até o momento em que subi ao palco para pronunciá-lo:
                    -O mundo hodierno exige de todos, principalmente dos jovens, maior empenho, maior criatividade, maior responsabilidade em todas as atividades políticas e sociais. O comodismo não combina em nada com a nossa época sedenta de realizações. Principalmente no nosso Brasil que está vivendo um momento atípico na política, com a censura rígida impedindo manifestações através da arte, literatura e música, os nossos passos, as nossas atitudes e até mesmo o nosso modo de expressar parece que estão sob o controle deste governo, cujo regime de ditadura impactante, está deixando os brasileiros intranquilos e frustrados em muitas áreas.

                               ............................................................

                     -Cônscios desta triste verdade, com este panorama sombrio pairando no horizonte, caros colegas, estamos encerrando hoje este ciclo, esta etapa estudantil, ao mesmo tempo que doravante partiremos em busca de novos desafios e realizações dos nossos sonhos, longe deste nosso querido torrão natal. Nunca devemos nos acovardar e muito menos entregarmos ao amenismo, solapando, de alguma maneira a concretização dos nossos ideais. Afinal, somos, assim como também as crianças, o futuro da nossa Pátria. O tempo não espera. A hora é agora. Vamos nos unir, fujamos desta torre de babel em que muitos políticos partidários se confinam e na época das eleições tentam de modos espúrios enganar aos seus eleitores. com planos mirabolantes, achando que os outros são seus fantoches.

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                           No dia seguinte, ao me encontrar, por acaso o Sr. Juiz de Direito, ele me deu os parabéns pelo o meu discurso, mas fez uma pequena crítica, alertando-me que o teor do mesmo, apesar de muito oportuno, trazia alguns pontos em que, pela ótica do governo, poderia ser tachado como subversivo ou algo parecido. Portanto, doravante, em outros lugares, eu deveria ter mais cuidado com o o meu modo de me expressar em público, porque poderia ser mal interpretado.

                                      Joboscan de Araújo

     
                                Próxima postagem: O passeio que não aconteceu.

domingo, 29 de setembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                             Antes de narrar a nossa festa de formatura, faço questão de citar um fato que aconteceu durante o nosso périplo de cobrança. Por sinal, após um leilão ou rifa, sempre havia algumas pessoas que deixavam para pagar depois. Isto não fazíamos questão. O problema estava é quem iria fazer a tal cobrança. Pois ninguém gostava desta tarefa. Afinal, cobrar um ponto de rifa, cuja pessoa não fora contemplada ou a prenda de um leilão, cujo arrematador já a tinha degustado era sim, um situação delicada, para não dizer, chata. Então aconteceu o seguinte: Uma destas pessoas, por sinal, com uma confortável situação financeira, pois era comerciante, proprietário de carro, casa própria etc. ao ser cobrado, simplesmente argumentou com ar de gozação: "Pagar o quê? Espera aí, estou esperando é o meu troco!". A dupla de colegas que foi cobrá-lo ficou estarrecida com o que disse este farmacêutico e chegou a dar risadas, pensando que ele estivesse brincando. Mas, por incrível que pareça, o caloteiro estava falando sério e repetia com a maior cara de pau: "Onde já se viu, pagar duas vezes pelo mesmo produto? Estão pensando que eu fabrico dinheiro?" Como a quantia também não era tão alta, os colegas deixaram pra lá. Ninguém estava ali para brigar, discutir. Simplesmente deixou-se a cargo da consciência do caloteiro, se é que ele tinha.
                           Resultado: segundo ficamos  sabendo depois, aquele homem que deu calote quase se acaba com uma terrível diarreia. Se foi por causa da prenda fiada que ele comeu ou não, ninguém tinha certeza. E pensando bem, ninguém lhe jogou nenhuma praga, desejando-lhe algum mal por aquela péssima atitude. Mas, pensando bem, como o dito cujo trabalhava numa farmácia, tinha tudo às suas mãos para se tratar. E poderia até por em prática o adágio que diz: " Médico, cura a ti mesmo!". A não ser que ele optasse pelo outro que diz assim: "Em casa de ferreiro, espeto de pau!". Bem, mas isto era uma questão de consciência e pelo que aconteceu, deste dom ele era desprovido. Fazer o quê?

                            Próxima postagem: A FESTA DA NOSSA FORMATURA

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                   CONTINUAÇÃO DO ANO DE 1968


                         No segundo semestre deste ano recebi a visita no meu setor de trabalho de um poeta da nossa cidade, o qual precisava que eu datilografasse um trabalho da sua autoria para publicar um livro de poesia. Não tinha como negar este favor. Apenas comuniquei ao meu vigário, tendo a sua imediata anuência, com apenas uma pequena ressalva: que este trabalho extra não prejudicasse em nada o serviço da secretaria e muito menos os meus estudos. Procurei me organizar e em uma semana, aproximadamente, terminei de cumprir aquela tarefa, o que para mim foi um enorme prazer.
                         Coincidentemente, logo depois deste serviço, recebi mais uma visita, desta vez do Exmº Sr.  Juiz de Direito de Simplício Mendes, o qual também precisava de um favor idêntico ao do poeta Lourenço Campos. Com uma diferença: o serviço de datilografia que ele precisava teria que ser elaborado no seu escritório, pois precisava que ele mesmo fosse ditando e orientando todo o serviço que deveria ser elaborado. Era uma espécie de inventário, um trabalho muito minucioso, por sinal.
                        Quero ressaltar que em nenhum destes casos teve alguma recompensa financeira, ou seja, não foi cobrado nada. Afinal foi um favor e sendo assim não tinha motivo nenhum para cobrá-lo. Ambos me agradeceram e o importante foi que ficaram satisfeitos com o final do serviço datilográfico.
                       Paralelamente às minhas atividades, eu e meus colegas do quarto ano trabalhávamos, principalmente nos finais de semana, no sentido de angariar prendas para algum leilão ou então fazíamos rifas e tudo mais só com o objetivo de arrecadar dinheiro para o nosso passeio no final do ano, após a nossa formatura. É importante registrar a solidariedade do povo da nossa cidade que, apesar das dificuldades de cada um, sempre que pedíamos alguma coisa éramos bem atendidos e quase ninguém fazia pouco caso ou cara feia para este nosso empreendimento cultural. Todos só desejavam que fôssemos felizes e concretizássemos o nosso objetivo.

                                                   Próxima postagem: A festa da nossa formatura.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                     CONTINUAÇÃO DO ANO DE 1968


                      Antes de terminar o primeiro semestre do ano letivo de 68, resolvemos escolher quem seria o orador da nossa turma na festa de formatura da 4ª série ginasial. Logo no início, o meu nome foi citado. Depois surgiram outros. No final da votação fiquei com a incumbência de ser o orador da nossa turma. Com muita alegria, agradeci a indicação e prometi fazer o possível para elaborar um discurso que agradasse a todos. Mas só fiz a minuta do mesmo no início do segundo semestre. E logo no início deste, começamos também a nos movimentar no sentido de arrecadar fundos para o nosso passeio, por sinal, ainda indefinido onde seria. Resolvemos dividir a turma: um grupo elaborava rifas, outro, organizava leilões. Em resumo, todos trabalhávamos em prol de uma causa. E sendo assim, os nossos conterrâneos procuravam colaborar na medida do possível.
                     Por este tempo, outubro de 1968, o padre Agostinho chegou de uma viagem à capital, trazendo uma revista recém-lançada no Brasil - VEJA  - cuja capa trazia uma foice e um martelo, chamando a atenção do leitor para a reportagem principal que era sobre o comunismo. Quando me viu folheando esta revista, o meu vigário falou que o conteúdo da mesma tinha tendência de esquerda. No momento não entendi muito o que ele quis dizer com aquilo. Posteriormente, conversando o meu professor de português ele me explicou mais sobre o tema, elucidando algumas dúvidas preliminares sobre este assunto. Achei muito complexo, mas mesmo assim li a revista e comecei a me interessar mais sobre a atualidade do nosso mundo.


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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                ANO LETIVO DE 1968 (continuação)


                       Apesar do padre Agostinho ter me admoestado sobre o assédio das garotas naquele local de trabalho e eu ter pedido para que elas não me atrapalhassem, de vez em quando, apesar delas ficarem num banco da praça bem em frente da janela do salão paroquial, onde eu trabalhava, como elas faziam de tudo para me chamar a atenção, nada mais eu podia fazer, a não ser para não parecer tão antipático, dar uma olhadinha de vez em quando e sorri um pouco. Mas ficava quase impossível não ser "tentado" com aqueles ângulos ousados quando algumas delas se sentavam com segundas intenções. Não havia reza forte e suficiente para afugentar algum mau pensamento que por sua vez fazia o meu corpo jovem reagir de certa foma. Mas ficava só nisso mesmo. Acreditava que talvez, durante um sonho, através de uma polução noturna, o meu subconsciente se encarregaria de aliviar aquela tensão erótica. E assim o tempo foi passando até que aquelas adolescentes pararam mais de me provocar. Devido o meu jeito tímido e recatado eu fosse um grande bobalhão no conceito delas, menos um santo. Pois neste caso, só Deus sabe, quantas vezes pequei através do pensamento.
                      Outra atividade que eu exercia durante este ano de 1968, quando cursava o quarto ano ginasial na minha cidade natal, além de ser secretário da paróquia, no final de semana, mais precisamente das 18.00 às 19.00 eu mantinha um programa radiofônico transmitido de uma sala da casa paroquial, onde além da leitura do ANGELUS, quando era tocada a AVE MARIA, em seguida eu executava músicas variadas, atendendo ao público, principalmente os jovens. Vale ressaltar que este programa era praticamente ouvido em quase toda cidade de Simplício Mendes e tinha boa aceitação. Tanto é que, com a permissão do vigário, havia até algumas propagandas do comércio, onde gerava pequena receita para a aquisição de mais discos, por exemplo. Mas isto foi bom enquanto durou. No ano seguinte, quando regressei ao seminário de Teresina o referido o programa A VOZ DA PARÓQUIA saiu do ar, literalmente.


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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                            ANO LETIVO DE 1968



                    E conforme fora determinado, cada um de nós seguiu o seu caminho, ou seja, dando continuidade aos estudos nas sua respectiva cidade, comprometendo-se regressar à capital piauiense no ano seguinte, isto é, 1969. Neste caso, a situação seria diferente, pois já sabíamos previamente que iríamos estudar nos colégios da capital, pois o seminário iria funcionar no regime de semi-internato.
                   No meu caso, o colégio onde eu iria cursar a 4ª série ginasial era o mesmo onde eu havia estudado os dois primeiros anos do primário. A recordação da infância seria inevitável. E como tudo nesta vida tem a primeira vez, este ano eu iria estudar no período noturno. Neste caso não encontrei nenhuma dificuldade de adaptação, visto que estava na minha cidade natal, então todos os colegas eram conterrâneos e, portanto, conhecidos. E o professores idem.
                   Inegavelmente, assim como quando estudei no ginásio de Oeiras, sempre havia algum colega mais extrovertido e muito brincalhão que de vez em quando tentava fazer graça com alguma piada com relação a minha vocação e chegavam inclusive chamava algumas meninas para que elas me colocassem numa situação delicada, para não dizer, constrangedora, ou seja, como se me provocassem, testando o meu estilo celibatário e por aí vai. Mas, graças a Deus, eu conseguia me sair destas situações, pois tudo não passava de meras provocações. Se eu me irritasse, não resta dúvida, seria bem pior.Vale ressaltar que tudo isso só foi no começo do ano. Quando chegando ao segundo semestre o nosso convívio estava normal.
                   Ainda bem que logo no início do ano, o meu vigário padre Agostinho arrumou uma ocupação rendável para mim. Ou seja, nomeou-me como secretário da paróquia, responsável pelos lançamentos dos batizados, casamentos que fossem realizados nos livros da secretaria paroquial, além de outras pequenas atividades relacionadas à igreja local. Para mim foi ótimo, pois além de ocupar o meu tempo livre com uma boa e sadia atividade, no final do mês ainda ajudava um pouco aos meus pais, pois com este pequeno trabalho eu recebia uma ajuda de custo, não necessariamente um ótimo salário.
                  No início ele me alertou sobre possíveis aglomerações de algumas jovens, o que sem dúvida, além de atrapalhar o meu serviço, poderiam dar motivos para fofocas ou calúnias sobre o meu comportamento. Depois do expediente não teria nenhum problema. Eu tinha todo o direito de conversar na praça ou em outros lugares com quem eu desejasse. Não deveria me esquivar de participar das festividades em geral e me retrair sempre só porque eu continuava sendo um seminarista. O importante era saber se comportar. E costumava sempre citar um pensamento, que só mais tarde fiquei sabendo que era da autoria do escritor Hemingway: "Não é na terra que se fazem os marinheiros, porém no mar, encarando as tempestades".


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