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quarta-feira, 28 de março de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

TELEVISOR COM CONTROLE

Quando dei entrada no quarto 215, após cumprimentar o casal que já estava ali (o homem era o paciente; a mulher, acompanhante) percebi logo que o televisor estava ligado e tinha uma bonita imagem, diga-se de passagem. Pensei logo com os meus botões: "será que esse aparelho tem controle remoto?" Essa minha dúvida surgiu devido a minha ojeriza ao Hospital anterior, que por sinal além de péssimo atendimento, o televisor não tinha controle remoto.
Então logo constatei que o canal fora mudado aí fiquei mais contente, mais tranquilo, pois não precisava levantar daquele leito alto só para desligar a televisão ou mudar de canal. Por falar nisso, logo que o seu Sakura dormiu, a sua esposa, que o acompanhava, esqueceu-se que havia mais um paciente naquela enfermaria e logo desligou o televisor. Inclusive, eu estava até assistindo o referido programa. Mas não recriminei nada, pois também já estava com sono. No dia seguinte, antes de mudar de canal, como ela já estivesse se acostumando com a minha presença, antes de tomar qualquer atitude neste sentido, ela olhava para constatar se eu estava ou não assistindo algum programa. Mas pensando bem, o meu programa favorito mesmo era só o noticiário, de preferência esportivo. Caso contrário, aproveitava melhor o tempo, lendo algum livro ou fazendo palavras cruzadas.


Joboscan de Araújo

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quinta-feira, 22 de março de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

A ROTOINA DA ENFERMARIA

O dia a dia nesta enfermaria, a partir de 07 de abril de 2003 era bastante tranquila. Só a presença assídua do pessoa da enfermagem. Ora medindo a temperatura, a pressão ou fazendo alguma medicação. Sem fazer também nos exercícios de fisioterapia. Por sinal, um pessoal bem treinado, educado que nos deixava bem descontraídos. Um dia era um rapaz, outro, uma moça. O certo é que a presença deles era sempre aguardada, pois durante o tratamento alegre, envolto de brincadeiras e até algumas piadas surgiam. O objetivo deles era deixar os pacientes com um bom astral. Quase sempre no final da sessão, geralmente o fisioterapeuta costumava brincar, dizendo:
-"Por hoje, chega da sua cara...Fui!
-O mesmo digo eu, só que não vou, ainda fico.
Quer dizer, tem sempre gente neste mundo que, mesmo no setor de trabalho, sabe ser autêntico, sem usar fachada, carapuça, fingimento. Da impressão que uma pessoa assim é sempre fácial fazer amizade e conviver com ela numa boa.


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sábado, 18 de fevereiro de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

PRIMEIROS CONSTRANGIMENTOS NA UTI


Parecendo despertar de um pesadelo ou submergindo noutro maior e pensando está sozinho, ao tentar me levantar do leito, com a intenção de ir ao banheiro, um enfermeiro surgiu do nada, como se fosse uma bendita "assombração" e simplesmente falou:
-"Onde o senhor está pensando ir?"
Pensando não, eu vou agora ao banheiro - respondi com a maior naturalidade, como se estivesse num quarto qualquer de enfermaria. Estava completamente equivocado.
-"Mas assim, usando fraldas? Continuou com ar de gozação.
- O que significa isso? Perguntei bem constrangido.
-"Significa que o senhor não precisa ir ao banheiro. Das duas, uma: Ou faz xixi aí mesmo deitado na cama ou se preferir peça o "papagaio".
Não tive outra opção. Estava mesmo como se diz, "no mato sem cachorro". E resolvi fazer o xixi ali mesmo conforme ele determinara, naquele objeto estranho e desconfortável. Tudo bem, seja o que Deus quiser. Se tudo isso for para o meu bem, tenho que obedecer as ordens hospitalares. Mas nem todas. Senão vejamos o caso a seguir.
Não demotrou muito, logo surgiu outro funcionário, o qual não tinha nada de enfermeiro. Nem tanto pela roupa que usava quanto pela maleta que carregava. E ao abrí-la, mostando alguns apetrechos de barbeiro, cabeleireiro etc e foi logo me cumprimentando:
-"Boa noite, seu João! Vamos dá um trato nesta barba e neste cabelo!"
-Sinto muito, jovem, mas aqui ninguém vai por a mão não - respondi, rispidamente.
-"Bem, não vamos obrigá-lo. São normas do nosso hospital, com o objetivo de mantermos a higiene dos nossos pacientes."
-Eu compreendo, mas agradeço.
Talvez para evitar qualquer tumulto ou mal-estar, aquele funcionário guardou seus apetrechos e foi embora, demonstrando-se contrariado. Mas ficou por isso mesmo.
Não demorou muito, logo surgiu uma enfermeira com toalha e bacia e logo pensei, lá vem chumbo grosso!
-"Vamos lá, seu João, tudo bem que o senhor não quis que o rapaz cortasse seu cabelo e fizesse a barba, mas agora agora de um bom banho o senhor não vai negar, não é verdade? Eu mesma vou lhe dar um, mas não se preocupe, não precisa ficar envergonhado. Somos todos profissionais e para nós,nesse tipo de serviço, não há malícia nenhuma nem constrangimento.
Após estas advertências femininas não tive nem tempo de argumentar nada ou demonstrar alguma reação negativa. O banho foi tão rápido e bom que, quando percebi já estava vestido novamente com o roupão hospitalar. Não vou negar, achei tudo muito estranho. Mas, além de me pegar de surpresa e com aquele ar simpático e faceiro, sem ser malicioso, deixei tudo acontecer como ela pretendia. Para ser sincero, ela poderia vir tantas vezes desejasse. Pensando assim, a malícia já foi minha, mesmo com o corpo bem debilitado, com a saúde frágil. Mas pelo menos, o pensamento ainda bem estava funcionando a mil. Pelo menos o pensamento, repito.


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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

PRIMEIRA NOITE NUMA UTI

Apesar de já ter trabalhado por mais de três anos num renomado hospital de São Paulo, durante este tempo, eu jamais tinha entrado numa UTI nem para fazer alguma visita, a qual também fazia parte da minha função naquele nosocômio.
Mas agora, com a minha saúde debilitada, à minha revelia, fui internado numa unidade de tratamento intensivo, ainda bem que tudo aconteceu dentro de um período rápido e adequado para que a equipe médica tomasse as devidas providências. No momento em que tal fato aconteceu, lembro-me muito bem que, logo que chegamos ao Hospital Nipo-Brasileiro, o atendimento transcorria de modo ágil e dentro da normalidade. Logo no início, ao perceber que me encontrava sozinho naquele ambiente, com vários aparelhos ligados ao meu corpo, concluí que o meu caso era bastante sério e exigia muito cuidado.
Ali deitado, enquanto tentava me conscientizar do presente, o meu pensamento tergiversava, tentando descobrir o que eu tinha feito de errado com relação à minha saúde e pouco a pouco fui encontrando muitas pedras no meu caminho, ou melhor, muitas garrafas litros, copos, salgados gordurosos, no meu tempo de solteiro e de casado também. E concluí: plantei e agora com 53 anos anos estava colhendo frutos não muito deleitáveis. É a lei da vida. E também pensava: aqueles que se diziam "amigos", neste momento jamais imaginariam do meu precário estado de saúde numa UTI. Com isso, não estava tentando culpar nenhum deles. Pois nenhum deles colocou nenhuma gota de bebida na minha boca. Tínhamos sim, uma rotina etílica: Do trbalho para um bar ou lanchonete. Era o nosso roteiro diário, repleto de brincadeiras, gozações e jamais brigas.


Próxima postagem: Primeiros constragragimentos na UTI

sábado, 21 de janeiro de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

Por que uma UTI assusta?

Esse pavimento de um bom hospital pode ser considerado até como o coração, o cérebo do mesmo, além de uma sala cirúrgica, devido a sua grande importância. Em um cemitério, por exemplo, sepulta-se alguém; numa UTI, ressuscita-se. Aqui, pelo que se percebe, segundo as estatísticas, o paciente entra de mãos dadas com a morte. Para sair com vida, às vezes, tem que acontecer uma espécie de milagre, contando,é óbvio, com a exímia competência dos médicos e auxiliares durante 24 horas. E aí surge a pergunta: Por que a palavra UTI assusta tanto os familiares de uma pessoa que chegou a um hospital? Porque 90% dos pacientes que aí dão entrada chegam a falecer, lamentavelmente. Ou seja, as chances de sobreviver são mínimas. Portanto, a decisão para internar um paciente numa unidade de tratamento intensivo (UTI) tem que ser rápida e precisa. Não há tempo para dúvida. Alguns minutos de atraso podem comprometer o êxito de um tratamento.
A assistência médica durante 24 horas ininterruptas, exercida por profissionais idôneos deixa os familiares cientes de que, se depender deles a saúde do paciente será recuperada, mas outros fatores corroboram para isto e muitas vezes fogem até do entendimento humano, quando chega a ser considerado o que chamamos milagre. É um assunto sério e delicado, do qual só sabemos que a intercessão Divina, em primeiro lugar, torna-se imprescindível e opera, independentemente da religião que alguém professa. Pois parq socorrer, salvar quem quer que seja, o Inefável Criador do Universo não exige carteirinha comprovando qualquer proselitismo. E conforme veremos, Ele me visitou naquela UTI do Hospital Nipo-Brasileiro desta vez em que ali fui internado. Não tenho a menor dúvida. Dúvida sim teve, a equipe médica que assistia, pois todos ficaram boquiabertos com a minha rápida recuperação.

Próxima postagem: UTI e CTI, a diferença entre estes setores!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

RECAÍDA PERIGOSA



Depois que cheguei do Hospital Vasco da Gama, pensei que a minha saúde voltaria ao normal. Grande equívoco. Pra começo de assunto. Parecia que nada tinha sentido. Não tinha coragem e muito menos disposição para sair do quarto, quanto mais do apartamento para ir até à minha banca de jornal. Até a minha leitura predileta estava sendo postergada à minha revelia. Uma abulia incontida e sem graça invadia o meu ser debilitado. A minha esposa e dois filhos pequenos já demonstravam muita preocupação. Eu só ficava da sala para o quarto e banheiro com passos trôpegos, embora não reclamasse de quase nada.
No início de abril de 2003 fiquei acamado de vez. A minha esposa já procurava um outro hospital para me internar e dar continuidade ao tratamento daquela anemia que não tinha fim. Aí começou a minha teimosia. Não queria mais ser internado. Achava que após tomar aqueles remédios que tinha comprado eu fosse melhor, paulatinamente. Só que eles não faziam efeito algum. De sopinha em sopinha se o meu corpo já era franzinho, agora além de debilitado, a doença parecia tomar de conta do mesmo. Precisava fazer alguma coisa rapidamente. Então, vendo que não estava aguentando tanto sufoco sozinha, pois além de cuidar da banca de jornal, dos meus filhos e de mim, a minha intrépida esposa resolveu pedir ajuda a uma vizinha bastante prestativa, Maria das Graças, por este tempo, era a síndica do prédio, a qual foi de uma importância fundamental para a minha nova internação. Com bastante conhecimento, ela se prontificou, com a ajuda de outros vizinhos, a nos ajudar. E exatamente, no dia 3 de abril, ao completar uma semana que havia recebido alta do Vasco da Gama, fui levado a outro hospital, desta vez o Nipo-Brasileiro. Aqui a história foi totalmente diferente.

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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

MINHA SEGUNDA ALTA HOSPITALAR



Após 17 dias internado nesse Hospital Vasco da Gama, só fazendo exames de todos os tipos, levando agulhadas, ingerindo sopas insossas, jamais pretendo aqui cuspir no prato em que comi, pelo o contrário, gostaria sim de ser muito grato a todos que me atenderam e me serviram, desde a funcionária que fez a primeira consulta dos meus dados através do meu convênio médico até aquelas pessoas que não cheguei a conhecer, mas seus serviços chegaram a mim, indiretamente. Para quem fica mais do que cinco dias internado, a monotonia do ambiente hospitalar já causa algum melancolia que até as gentilezas diárias daqueles funcionários de tão repetitivas, se transformam em atitudes frias, automáticas, sei lá. É isso mesmo. Acontece onde o convívio humano acontece envolvendo sempre as mesmas pessoas, como por exemplo, escola, trabalho, prisão e, evidentemente, hospital etc.
Então conforme o Dr. Maurício havia me prometido no dia anterior, após tomar conhecimento que eu tinha um outro convênio, neste dia 27 de março de 2003 ele assinou a minha alta hospitalar. Nesta última visita ele ratificou da dificuldade que estava tendo para descobrir a causa daquela anemia crônica e também, devido os trâmites burocráticos daquele ambiente, que estava dificultando a minha transferência para a realização do exame da medula em outro hospital, mesmo assim, ele me receitou alguns medicamentos, aconselhando-me que, se precisasse procurar outro médico que utilizasse um convênio melhor. E ele sabia que eu o tinha. Porém, se quisesse ali retornar ele estaria à disposição para dar continuidade ao tratamento. Desejando-me boa sorte.
Saímos do Vasco da Gama às 16.50 hs. Era um final de tarde muito lindo. O tempo estava abafado. No carro que a minha vizinha veio me buscar íamos conversando amenidades. Apesar da motorista não ter muita prática ao volante, entre um susto e outro, chegamos em casa são e salvo, graças a Deus. Pensando bem, após 17 dias internado, eu já estava com muita saudade do convívio familiar. Contudo, senti uma nítida diferença com a outra vez que estive internado no mesmo hospital. Naquela ocasião, lembro-me, cheguei em casa bem mais disposto, muito embora tenha ficado ali só cinco dias e não fui submetido a nenhuma bateria de exames. Em compensação recebi mais transfusão de sangue. Portanto, o meu apetite, naquela oportunidade, voltara ao normal. Logo que cheguei saboreei uma apetitosa macorronada com frango. Bem diferente desta última vez que tomei uma sopa quase igual àquela que era servida no hospita Vasco da Gama. Mas o problema não foi a mão que a preparou, pelo o contrário. A minha esposa tentou, sugestionou preparar outra comida, mas rejeitei incisavamente. Ela pressentiu que isto não era um bom sinal. E tinha toda a razão. Sem um bom apetite era um triste prenúncio de que algo pior estava por vir.


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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

6º EXAME: TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA



Quando eu pensava que a bateria de exames tinha chegado ao epílogo, eis que o Dr. Maurício anunciou mais um. Desta vez seria uma TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA. Achei o nome até bonito, mas nada sabia sobre o mesmo. Mas, como sempre, nem o próprio médico me explicou qual a finalidade do tal exame e nem como seria e eu muito menos lhe perguntei. Fiquei só na expectativa como os outros que eu fui submetido. Apenas deixou bem claro que era para fazê-lo em jejum total. No mesmo instante, lembrei-me daquele outro ridículo que ficou pela metade, o famigerado COLONOSCOPIA.
E no dia seguinte, fiquei só agurdando o (a) enfermeiro (a) vir me buscar para a realização deste exame. E à proporção que o tempo ia passando e eu faminto e sedento não perdia a chance de reclamar para quem adentrasse naquela enfermaria. Ora bolas, se era para fazê-lo em jejum por que não seria igual ao exame de sangue, que sempre é feito bem cedo?
Infelizmente, até às 16 horas, na hora da visita, nada de ninguém tomar uma providência. Até que a minha esposa chegou e foi reclamar acintosamente. Por fim, depois disto, às 17 horas veio alguém me buscar.
Fiquei deitado num local em forma de tubo. Mais parecia um túnel. E quando soava um pequeno alarme, fui alertado para prender a respiração até acender uma luz bem próxima dos meus olhos. E assim sucessivamente. Neste acende e apaga o processo demorou mais ou menos meia hora.
No dia seguinte, na hora da visita médica, aguardei com ansiedade o Dr. Maurício. Lembro-me muito bem que era uma sexta-feira. Ele teria que tomar uma atitude mais objetiva com relação ao meu tratamento. Pois se após tantos exames: (ENDOSCOPIA, RAIXO X, EXAME DA MEDULA, TOMOGRAFIA etc) ele e sua equipe não chegaram a nenhuma definição sobre aquela anemia crônica que me abateu, então que tomasse logo uma resolução conclusiva, então me desse alta ou me transferisse para outro hospital onde houvesse especialista para aquele caso.
Cheguei a me queixar que estava me sentindo como um cobaia ou algo parecido, o que ele discordou e não gostou dessa comparação que a chamou de inconsequente e sem lógica. Afinal, eles ali não estavam brincando ou estudando, mas trabalhando sério. Foi quando expliquei que eu tinha outro convênio médico. Quando ele soube qual era, ficou estarrecido e dissipando a sua admiração apens me falou:
-Amanhã o senhor terá uma boa surpresa, seu João.
Nesta última noite naquele hospital posso garantir que dormi bem mais tranquilo.

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sábado, 17 de dezembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

SÉTIMO COMPANHEIRO DE ENFERMARIA


O paciente que deu entrada na enfermaria onde eu estava internado há quase vinte dias, desta vez era um jovem, aparentando 20 anos. O mesmo apresentava algumas escoriações, ferimentos no rosto, nos braços e pernas. Mas, pelo modo de se expressar, cheio de palavras típicas de pessoas pertencentes a uma classe social mais sofisticadas e rica, aquele paciente parecia muito inquieto e pelo visto não demoraria muito naquele hospital. Logo que chegou começou a reclamar de tudo e de todos. Só julgava erroneamente. Esquecia o dito cujo que, aqui neste mundo, ninguém é melhor do que ninguém. Pois alguém pode ter uma condição financeira estabilizada, mais abastadas do que a maioria das outras pessoas, isto é, pode frequentar lugares mais sofisticados, usar roupas de grife, calçados das melhores marcas, mas nunca estará isento de fazer necessidades fisiológicas, sentir dores, enfim, ficar doente. Pode, além disso, usar os melhores perfumes a vida toda, mas quando morrer entrará em decomposição igual a qualquer ser humano pobre e que durante a vida não usufruiu nada disto.
Por que este preâmbulo? Nada contra as pessoas ricas. Afinal, cada um tem a vida que merece. Escrevi isto em razão do modo como aquele paciente se referia ao ambiente onde se encontrava naquele momento. Humilhava algumas enfermeiras, funcionárias da limpeza. Mas, na hora em que um médico se aproximava do seu leito, logo se transformava num "santinho" de pau oco. Quer dizer: era um covarde, um vazio, um metido a besta. Quando ele percebeu que a realidade hospitalar não era como ela pensava ou queria, abaixou a imponência, a soberba e demonstrando um pouco de humildade, perguntou:
-Por favor, que hora é a visita aqui?
-Das 16 às 18 horas. Respondi, sem maiores comentários.
- Obrigado! Em seguida pegou o telefone e começou a conversar com alguém da sua família.
Na hora aguardada adentrou naquele recinto, uma mulher muito bonita, perfumada, aparentando ter 25 anos. Quando se se aproximou do rapaz, deu-lhe um tremendo beijo na boca que parecia que iria arrancar a língua do dito cujo. A minha esposa que se encontrava naquela hora me visitando, assim como eu, percebemos sem querer aquele quadro, mas viramos o rosto para deixá-los mais à vontade. A dúvida que ficou no ar era sobre o parentesco daquela visita. Pois parecia muito nova para ser mãe e nem tanto para ser a namorada daquele rapaz. Bem, mas pouco nos importava.
Terminado o horário da visita, ele desabafou:
-Que mulher louca, cara, você viu?
-É, não tive outro jeito de evitar.
-Por pouco ela não me comia todo!
-Parece que ela estava mesmo com muita saudade! - Tentei argumentar.
-Saudade? Isso é bondade sua. Ela é sim, uma mulher carente e tarada. Sabe quem ela é? Adivinha?
-Sua namorada, no mínimo!
-Que nada, cara, é a mulher do meu pai. O maior chifrudo da face da terra. Ele é viúvo, é rico, dono de uma pequena empresa e esta que acabou de sair é a segunda mulher dele. Ele é mulherengo, mas pelo visto, não dá conta do recado e ela completa o seu apetite sexual comigo. E eu, que não sou bobo nem nada, não dispenso mesmo.
-Deu para perceber um pouco! Completei.
-Olha, esse romance já rola mais de quatro anos. E o velho nem desconfia de nada. Dá dinheiro pra ela passear, comprar o que quiser. Mas a danada não quer saber de outra coisa, senão me tratar bem e ser bem tratada por mim, principalmente na cama, no sofá, no chão, no banheiro, no carro, ou seja, em qualquer lugar quando estamos com vontade. Quando ela soube que eu sofri esse acidente com a minha moto, ficou preocupada, com receio que fosse algo mais sério e que demorasse me recuperar para continuar o nosso romance proibido. Pois o negócio dela, cara, é sexo, sexo e mais sexo. Ela parece que é.. nin...nin..
-Ninfomaníaca! - Ajudei.
-Isso mesmo, cara e mais alguma coisa! O certo é que a minha primeira aventura sexual foi com ela, quando eu tinha 15 anos e pelo visto, não sei quando isto vai acabar não!
-Só posse lhe dizer que "beijo de mulher casada tem gosto de chumbo!"
-Vira essa boca pra lá! Deus me livre!

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Próxima postagem: 6º EXAME: TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

domingo, 4 de dezembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

EXAME DA MEDULA


Após muito insistir para que eu aceitasse ser submetido ao fatídico exame de COLONOSCOPIA, o Dr. Maurício não conseguiu vencer a minha teimosia. Firmei o pé. Fui irredutível. Não tinha conversa. Sendo assim, solicitou outro exame complementar, mas diferente. Seria o exame da medula. Realmente, ele estava obcecado para descobrir a causa daquela anemia crônica que me abateu.
Mais uma vez, o Hospital Vasco da Gama contratou um profissional terceirizado. E desta vez foi diferente. Como diz o ditado: "Já que Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé!". E foi isto que aconteceu: o médico contratado, para a minha surpresa, veio até ao meu leito para fazer o tal exame. Estava acompanhado de uma enfermeira do Vasco da Gama. E logo avisou que o exame solicitado não seria realizado conforme o previsto, pois precisava de outros aparelhos e como o Hospital não iria comprá-los só para aquele serviço, falou:
- "Para não dar uma viagem perdida, irei fazer um exame superficial, mas atenderá a solicitação médica. O outro seria mais completo, se disponibilizasse de outros aparelhos mais modernos".
Em seguida, infiltrou uma agulha assustadoramente grossa no meu esterno e tentou colher uma amostra de um líquido. Como passou uma pomada anestésica,previamente "in loco", até que não doeu muito, mas foi bastante desgastante. Parecia até que ele estivesse querendo me hipnotizar, pois enquanto agia, falava assim:
-"Não está doendo, está? Tudo bem? Posso continuar mais um pouquinho, seu João?"
Dois dias depois fiquei sabendo que este tal exame também não forneceu nenhum respaldo ao Dr. Maurício para tentar saber a origem da anemia. E quanto a biópsia, que ele tanto queria que fosse feita, enrolaram tanto, querendo até que eu fosse transferido para outro Hospital só para esta finalidade. Mas, devido a burocracia, desistiram. Ainda bem, pois neste ínterim, chegou ao meu conhecimento alguns detalhes do tal exame, que não me agradaram nada. Como por exemplo, até injeção na coluna teria que ser submetido. Portanto, se dependesse desta biópsia para o Dr. Maurício montar o quebra-cabeça da origem daquela anemia, ficou sem montá-lo.

Próxima postagem: 6º companheiro de enfermaria

domingo, 13 de novembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

TERCEIRO EXAME: ULTRASSONOGRAFIA


E esta era a minha rotina naquele Hospital Vasco da Gama. Terminava de fazer um exame, o Dr. Maurício não encontrava nenhum vestígio com a causa daquela anemia que me assolara, pedia outro. Portanto, no dia seguinte, já estavam me levando para ser submetido a uma ULTRASSONOGRAFIA. Só para me preparar psicologicamente, perguntei a uma enfermeira muito atenciosa e educada como seria esse exame. Enquanto ela me explicava, imediatamente me lembrei que já o tinha feito no ano passado. Realmente não era assim tão ruim ou dolorido, mas, por outro lado era maçante. E pequeno detalhes eram suficientes para me chatear. Primeiro: quando o auxiliar de enfermagem veio me buscar na sala de espera e vendo que estava numa cadeira de rodas, já falou, ironicamente:
-"O senhor ainda anda?"
- Por que não? Qual é o problema E em seguida me levantei cuidadosamente.
- "Calma, não precisa ficar nervoso! Pois pode prejudicar o exame que vai fazer.
- Que nervoso, rapaz? Só fico nervoso no dia em que o mundo estiver se acabando!
Ele percebeu que eu não havia gostado da sua indagação e em seguida me levou à presença do médico. Por sinal, também era novo e pelo jeito, também brincalhão e irônico. Em seguida começou um interrogatório como se eu fosse submetido a uma inquisição hospitalar, se é que posso usar este termo que foi muito usado pela Igreja há vários séculos.
-"Quanto anos? Estado Civil? Tem filhos? O que está sentindo? Tem tontura? Fuma? Bebe? Desde quando?"
Ia fazendo estas perguntas e registrando no computador. E voltou a repetir:
-"Há quanto tempo parou de beber?"
-Aproximadamente, 4 anos - respondi.
-"4 anos ou 4 dias?" Continuou o médico - pergunta esta que provocou até um sorriso maroto do enfermeiro presente ali na sala. Naquele instante, o meu sangue subiu e quase me descontrolei, peguntando:
-Que gozação é esta? Se continuar assim não responderei mais nenhuma pergunta idiota!
- Calma, senhor, é para avaliar o seu quadro clínico. Bem, vamos trabalhar, vamos ver o que restou deste seu fígado! Deita de lado! Relaxa!"
Fiz o que ele me pediu, continuou o exame e até no seu final, não abriu a boca para dizer um "a".
Pensando bem, a paciência também tem limites! Eu estava ali como paciente e não como um palhaço e muito menos servir de deboche e gozação. Quer trabalhar sério, tudo bem! Mas brincadeira boba em hora imprópria não era comigo. Então ficou o dito pelo não dito.
No dia seguinte, pelo que o Dr. Maurício falou, este exame tumultuado não acusou nada no meu organismo ainda debilitado. E pelo visto, iria pedir mais exames. Seja o que Deus quiser!

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA -

A RECAÍDA

Eu estava redondamente equivocado quanto a minha recuperação. Logo que voltei a trabalhar, realmente, a minha saúde parecia transcorrer muito bem. Só parecia. Cheguei a pensar que aquela minha recaída teria sido até uma praga. Talvez bobagem da minha parte. Por que cheguei a pensar isto? Porque no primeiro dia que regressei a trabalhar, após entregar o atestado médico no RH (Recursos Humanos), deparei-me com um líder de turma, o qual se intitulava "supervisor" e com aquela petulância que sempre lhe era peculiar, falou para eu começar a trabalhar no segundo turno, isto é, das 14 às 22 horas, por sinal, um horário que eu sempre detestei, desde a firma anterior. E ele sabia desta minha aversão, quem sabe, por este motivo, ele quisesse me provocar. Na realidade, não éramos inimigos, mas uma ojeriza recíproca havia entre nós dois. E nesta ocasião, o dito cujo, ainda teve a empáfia e a falsidade de me dizer:
-Olha, é melhor você trabalhar no meu horário, pois como está se recuperando de uma doença grave e como o trabalho noturno é muito estressanto, para o seu bem, a minha sugestão é que você venha trabalhar no segundo turno!...
-Para o meu bem? Pois agradeço imensamente a sua preocupação com a minha saúde, só que irei continuar no meu turno e ponto final!
Pensando bem, o que aquele camarada me falou teria até muita lógica, mas se partisse de outra pessoa, que tivesse um bom caráter. Mas daquele lider, sinceramente, como eu já o conhecia da outra empresa, quando já tínhamos trabalhado no mesmo horário e eu já conhecia a sua arrogância, o seu temperamento, a sua falsidade, então rejeitei a sua sugestão, como inspetor de qualidade que eu era.
Pois não deu outra. Durante dez meses, tudo transcorria normalmente. Contudo, no início de março de 2003, aquela anemia começou a dar sinal que estava voltando. O meu paladar começou a fugir, deixando a comida sem gosto nenhum, o apetide diminuindo, uma tontura esporádica, um cansaço, enfim a minha saúde estava em declínio. Então, com uma alimentação irregular e dormindo pouco, a primeira pessoa a perceber que eu não estava bem foi a minha esposa, a qual já começou a ficar preocupada, incentivando-me como sempre, a procurar logo um bom médico enquanto era tempo.
Lembrei-me imediatamente da Drª Heloisa, a cardiologista da clínica da Av. Nove de Julho, que me atendeu muito bem no ano passado, descobrindo qual era a minha enfermidade. E desta vez, com a mesma educação e eficiência, logo solicitou outro hemograma. Mas como a anemia piorou, não deu tempo de ir pegar o resultado daquele exame de sangue e resolvi logo procurar o Hospital Vasco da Gama, o mesmo onde eu havia sido internado também em 2002. Só que agora as novas instalações já estavam funcionando e parecia agora bem mais moderno.

(Próxima postagem: SEGUNDA INTERNAÇÃO)

domingo, 28 de agosto de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA -

TERCEIRA CONSULTA


No dia dessa terceira consulta fui sozinho. Primeiro porque estava um pouco melhor e segundo porque ficava na zona sul, perto do meu local de trabalho. E como trabalhava no período noturno e estava marcada para as nove horas da manhã, seria muito incômodo pedir para a minha esposa se encontrar comigo ali. Principalmente, sabendo que ela andava muito ocupada com a banca de jornal e os afazeres domésticos. Portanto, fui só e Deus.
Demonstrando ainda muita dificuldade, cheguei à clínica e a recepcionista logo percebeu que eu não estava nada bem, inclusive não conseguia nem subir escadas, pois dava tonturas. Sendo assim, muito gentil e atenciosae, ela foi falar com a médica que iria me atender no segundo andar. Por sua vez, a doutora também bastante compreensiva e muito educada se prontificou me atender numa pequena sala improvisada no térreo. Aqui, nesta clínica localizada na Avenida Nove de Julho, comecei a perceber a diferença do atendimento das anteriores lá da Zona Leste, no bairro onde eu morava.
A médica cardiologista que me atendeu aprarentava 35 anos e, repito, bastante educada, competente e atenciosa. O seu nome, Drª Heloisa. Logo após me examinar, assim falou dentro da ética profissional:
-"O médico que fez este encaminhamento cometeu um equívoco. Só para comprovar o que estou dizendo vou agora pedir um eletrocardiograma, mas posso garantir que o seu problema é outro. No meu ponto de vista, o senhor não tem nada no coração. Se ele teve alguma suspeita, repito, se enganou redondamente. Em compensação apresenta sérios sintomas de uma outra enfermidade, que só posso diagnosticar após os resultados desses examos que estou solicitando agora. Peço que os faça o mais rápido possível. Isto não é pra amnhã e sim pra ontem".
Agradeci à Doutora Heloisa e saí dali bastante apreensivo com as suas palavras. Quanto aos exames, só pude fazê-los no dia seguinte, pois teria que estar em jejum e naquele dia eu já tinha tomado café. Fí-los conforme ela pediu e tão logo o resultado ficou pronto, fui buscá-los e levando imediatamente para a avaliação da doutora solicitante.
Neste retorno, ainda bem que fui acompanhado da minha esposa. Pois após analisar atenciosamente os resultados dos exames, com um olhar bastante assustado e incrédulo, a Doutora Heloisa olhou bem para mim e para minha esposa e foi objetiva:
-"Com toda a sinceridade, eu nunca vi nada parecido como esse caso. É simplesmente impressionante, para não dizer, catastrófico. Desculpe-me se estou assustando vocês. E, em virtude disto, até acho que o Sr. João deve ser uma pessoa predestinada por Deus. Sinceramente, não sei como ele consegue estar aqui na minha presença e de pé com glóbulos vermelhos tão baixos no organismo tão debilitado! Para encurtar a conversa, aqui está o pedido para uma internação imediata."
- Mas o que ele tem mesmo, Doutora? - Perguntou a minha esposa, Maria José.
-"Dona Maria, o seu marido está acometido de uma anemia crónica. Precisa urgentemente ser internado e receber transfusão de sangue".
As atendentes daquela clínica, imediatamente, começaram a procurar vaga em qualquer hospital que aceitasse o meu convênio médico. Não importava a localização. Concomitantemente, uma ambulância foi solicitada para o translado tão logo arrumasse uma vaga hospitalar. E parece que Deus estava me favorecendo. Não demorou muito fomos comunicados que a vaga foi encontrada e a ambulância já estava à disposição.
Ao adentrar na mesma com a ajuda de uma enfermeira, só na desmaiei, mas senti-me sufocado, oprimido, uma sonolência repentina como se fosse o sono da morte, sei lá. Foi uma situação angusiante e péssima. Cheguei, inclusive ficar com falta de ar e senti tontura, simultaneamente. Com a vista turva, pude constatar que a minha esposa estava ao meu lado, falando palavra de conforto e otimismo. Mas eu não entendia quase nada. Parecia que o chão estava se afundando e estava dizendo adeus a esta vida, principalmente quando a ambulância deu partida e foi ligada a sirene. Aquilo, para mim, que tantas e tantas vezes ouvira,principalmente quando trabalhava na Santa Casa de Misericórida de São Paulo, foi a gota d'água. Lágrimas cálidas inundaram repentinamente o meu semblante pálido, enquanto eu fazia um esforço tremendo para ter força e resistir aquela situação. Eu não querida morrer. Principalmente quando pensava nos meus dois filhos pequenos e na minha esposa ali presente.
Rapidamente chegamos ao Hospital onde estava reservada uma vaga para a minha internação.


(Na próxima postagem: PRIMEIRO HOSPTIAL

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA -

SEGUNDA CONSULTA


No dia seguinte, cada vez mais debilitado, fui levado ao Hospital Geral de Guaianases, bem próximo da Cidade Tiradentes, onde moro. Aquele cheiro de remédios, imediatamente, despertou a minha lembrança dos anos que trabalhei na Santa Casa de Mesericórdia, onde o ambiente era totalmente impregnado com esse odor repugnante peculiar a quase todos os hospitais do mundo. Todavia, não vali a pena ficar tentando lembrar destas particularidades. Estava ali muito ansioso sim, para ser medicado para ter a minha saúde de volta. Como é triste e lamentável ficar doente. Parece que tudo ao seu redor fica sem graça, sabor, sentido etc. Falta sempre o imprescidível que é o prazer de viver e sentir o gosto dos alimentos, sorrir, conversar, trabalhar e assim por diante.
O médico que me atendeu parecia, desculpe a comparação tacanha, um entregador de pizza. Além de moço, demonstrava bastante apressado, parecendo que estava ganhando ali por pacientes atendidos. Nem me examinou e perguntou nada. Passou a vista no encaminhamento do médico anterior, chamou uma enfermeira e delegou uma tarefa, entregando-lhe um papel. Só isso.
A moça de avental branco, ao contrário do tal médico, já era bem lenta, porém até atenciosa. Pediu-me que aguardasse um pouco numa salinha contígua e após dez minutos voltou para me aplicar uma injeção na veia. Em seguida, perguntou-me se estava acompanhado e fui liberado.
Saí dali ainda muito trôpego, com a vista turva e um pouco tonto. Ao perceber o meu péssimo estado, a minha esposa achou por bem pegarmos um táxi e regressamos para o nosso apartamento.
Após o efeito da injeção, criei um pouco de coragem e com muito esforço consegui me alimentar com sopas e verduras em pequenas quantidades. E mesmo assim, como o tal médico só me deu um atestado para aquele dia, resolvi voltar a trabalhar. Ia com muita dificuldade. Pois detestava faltar ao serviço. Na pequena empresa, eu sabia, como não havia médico e muito menos enfermeiro, reconheço que corria risco, caso durante o expediente sentisse um mau-estar. Mesmo assim, resolvi enfrentar o desafio, o que a minha esposa não concordava, chamando-me sempre de teimoso e por sua vez, ficando preocupada durante a noite com os meus dois filhos pequenos.
Na empresa, fingia o máximo para parecer que estava tudo normal comigo, embora ninguém fizesse nenhum comentário sobre a minha aparência exangue. Bondade ou fingimento por parte dos colegas, sei lá. Ainda bem que o meu serviço era bastante tranquilo. Não exigia muito esforço físico e sim mental. Pois era necessário ter bastante atenção, como Inspetor de Qualidade, teria que inspecionar o CD no momento da sua fabricação e em seguida testá-lo, ouvindo-0 total ou parcialmente, dependendo se fosse novidade ou reposição. É verdade que, conforme fosse o ritmo da música, a tarefa provocava muito sono, principalmente se fosse música clássica. Portanto, o café era muito imprescindível em momentos assim.
Enquanto transcorriam os dias, a minha apreensão aumentava pois estava se aproximando a data da minha terceira consulta. Estava com um encaminhamento para ser atendido no setor de cardiologia. Haja coração! Será que eu tinha algum problema neste órgão primordial do corpo humano? Isso será desvendado na próxima consulta.


(Aguarde a TERCEIRA CONSULTA)

domingo, 14 de agosto de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA - II-

METAMORFOSE NA MINHA VIDA

Julho de 2001


Dois dias antes de fazer aniversário de 51 anos de idade, recebi da firma onde trabalhava um "presente de grego": a minha demissão. Mais precisamente, no dia 27 de abril de 2001. Só não foi uma surpresa maior porque eu já estava preparado psicologicamente, pois o comentário geral era sobre uma demissão em massa. E esta realmente aconteceu no mesmo dia.
Posso garantir que saí de cabeça erguida e também sem deixar lá muitos amigos. Afinal, o ambiente de trabalho não estava nada agradável. Estava havendo muitas picuinhas, fofocas, intrigas etc. Sinceramente, senti um alívio muito grande ao deixar aquele emprego que me consumiu, aproximadamente, 15 anos de dedicação. Alívio não por causa da empresa em si, pois eu não tinha absolutamente nada contra a mesma. Pagava pontualmente, tinha bom restaurante e acima de tudo, um ótimo convênio médico. O que se lamentável era se conviver com funcionários que insistiam pensar ser "donos da firma", coitados e por isso agiam cegamente, sem noção de respeito humano, o que era profundamente deplorável, lamentável. Não que eu fosse nenhum santo, mas sempre procurei dosar meus defeitos e qualidades, respeitando os das demais pessoas. Só que muitas coisas que aconteciam ali não davam para aguentar calado e assim começavam as celeumas.
Finalmente, após a homologação da minha demissão, depois de alguns meses analisando o mercado de trabalho e, consequentemente, prevendo a grande dificuldade de conseguir logo uma nova colocação, por causa da minha idade (51 anos), tomei uma outra decisão: comprei uma banca de jornal, localizada próxima à minha casa, tornando-me um autônomo. A princípio, a minha esposa relutou muito, todavia, após alguma insistência, concordou. Quanto aos meus dois filhos, não opinaram, em virtude da pouca idade: nove e dez anos, respectivamente. Para eles, tudo era novidade, para não dizer, festa.
Sendo assim, a partir de 28 de julho do mesmo ano - 2001 - tornei-me num jornaleiro de primeira vendagem. Investi um pouco do dinheiro da indenização no ponto comercial e fui, paulatinamente, conhecendo os novos fregueses. Para quem não sabe, esse ramo de negócio chega a ser bastante estressante, pois deixa o comerciante muito preso à clientela, ou seja, tem que trabalhar de domingo a domingo. Por outro lado, se tiver condições de fazer um rodízio na escala de trabalho, dá para levar a vida de maneira honesta, responsável e ativamente. Pois banca de jornal é um comércio como outro qualquer. Com uma diferença que o jornaleiro trabalha mais sob consignação, isto é, recebe os produtos - revistas, jornais - diariamente e os expõe na banca, e o que não vender, devolve tranquilamente sem alterar no seu pequeno lucro que é uma margem de 30% sobre o preço estampado na capa de cada produto que conseguir vender. E quanto ao calote dos clientes, depende muito do índice de confiança depositada em cada um deles, o que sempre causa algum tipo de transtorno e frustração. Porque quanto a isto, o ser humano demonstra mesmo ser muito imprevisível, o que transforma uma pessoa que demonstrava ser dotada de boa índole, quando menos se espera, some tão logo assume uma dívida, transformando-se numa caloteira de primeira linha. E as evasivas, as deculpas para postergar o pagamento é que são as mais esfarrapadas possíveis. É a "lei do Gerson" que sempre volta a imperar, quando alguém quer sempre levar vantagem em quase todas as situações que a vida lhe oferece. Só que mais dia, menos dia, a casa cai.

(A continuação será postada, brevemente)

João Bosco de Andrade Araújo