domingo, 27 de junho de 2010

O "LARANJA"

Ser gentil, fazer um favor, uma gentileza vale a pena? Na maioria das vezes, sim. Só que, como tudo na vida tem exceção, veja só o que ocorreu com uma pessoa inocente que foi vítima, entrando numa fria. Foi, inegavelmente, um caso atípico.
O rapaz em questão tratava-se de um trabalhador honesto, responsável. Endereço fixo, sem nenhuma passagem pela polícia...(até aquele fatídico dia). Andava ele tranquilamente por uma avenida próxima à rua onde ele morava. De repente, percebeu um rapaz empurrando um carro, enquanto um parceiro tentava colocá-lo em funcionamento. Ambos demonstravam um nervosismo fora do normal. Mas mesmo assim, ao ser solicitado para “dar uma mãozinha”, isto é, uma pequena ajuda, coincidentemente eis que um carro da polícia se aproxima e “enquadra” os três:
-“Mão na cabeça!”
-“Documentos do veículo e Habilitação!”
Constatando que se tratava de um carro roubado, imediatamente são levados ao DP para consumar o flagrante. E foi nesse momento que o rapaz inocente tentou se justificar, falando que não tinha nada com aquele caso. Estava apenas passando e tentou ajudar sem saber de que se tratava de algo irregular.
-“Olha aqui, rapaz, pra mim você não precisa falar nada...E sim para o Delegado – falou um dos policiais. Se você não sabia, fique sabendo que aqui na rua está repleto de pessoas inocentes. São todos “anjos”!
O rapaz percebeu que realmente aquele não era o momento adequado para provar a sua inocência. Mesmo assim, antes de chegar à Delegacia tentou conver os meliantes a testemunhar a seu favor, confirmando pelo menos a sua versão e que não tinha mesmo nenhum pacto com eles...Mas, pelo visto, sua tentativa foi em vão. Pois veja só o que ouviu de um deles:
-“Aí, otário, fica na tua. Estamos no mesmo barco, sacou? Olha aqui, mano, ninguém vali livrar a pela de ninguém não, tá bom?
Ao chegar ao DP percebeu logo pela maneira como foram tratados que a sua liberação estava ficando difícil. O certo foi que, após muitas horas de chá de cadeira, ou melhor, chão mesmo, teve uma ideia luminosa. Lembrou que no momento em que andava pela rua e resolveu ajudar aquele ladrões ele estava voltando de uma casa lotérica quando pagou uma conta de luz. A qual estava no seu nome. E pediu pelo amor de Deus para o Delegado aceitá-la como prova cabal que ele tinha endereço fixo e além do mais era um trabalhador, etc. Finalmente, após ouvir um “sermão” como admoestação foi solto e ainda bem que recebeu a garantia que o seu nome não ficaria ali registrado naquela autuação policial.
A partir daquele dia, sempre que via alguém empurrando um carro, ele se lembrava do dia em que passou por um “laranja”, conforme o Delegado lhe repetiu várias vezes. Inclusive, até suco dessa fruta ele passou a evitar só para não se lembrar de tal fato desagradável, mas que, lamentavelmente, pode ocorrer com qualquer transeunte que age sob impulso, pensando fazer o bem ou um simples favor e termina à sua revelia, entrando pelo cano....

João Bosco de Andrade Araújo

Joboscan50@yahoo.com.br

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