Lembro-me que certa ocasião, por sinal, já no último dia em que meu pai terminava o serviço numa calçada, cujo mandante era o dono do empório onde, coincidentemente, comprávamos fiado. Até aí, nada de mais. O problema foi que, bem na hora em que eu fui levar o almoço do meu pai, percebi que aquele senhor, talvez por não estar num estado sóbrio, discordou do serviço que o meu pai estava terminando de concluir e ouvi bem quando teve a petulância, a ousadia, o desplante de falar alto com o meu velho pai neste tom:
-"Este serviço não está conforme o combinado, seu Manoel, portanto, o senhor vai ter que desmanchá-lo e fazer do jeito que eu quero!".
- Antes que eu me esqueça, seu Raimundo, vê se está escrito aqui na minha testa a palavra "otário". E outra coisa, não sou nenhum moleque para fazer um serviço e depois quebrar para fazer de novo. O que eu posso lhe dizer é que o serviço já está encerrado. Agora, se quiser mandar desmanchar pode chamar outra pessoa se for capaz. Mas, digo e repito, trabalho que eu faço eu não desmancho e ponto final!
Dito e feito. E aquela calçada ficou do jeito que o meu pai construiu. O certo é que depois que o efeito da bebida tinha passado, o seu Raimundo foi falar com o meu pai e teve a hombridade de se desculpar por aquele rompante da semana anterior e por sinal, quanto a dívida que o meu pai tinha na sua venda, apenas o alertou que não se preocupasse com ela e que poderia saldá-la quando tivesse arrumado outro serviço e tudo bem. O certo foi que meu pai, como sempre, entregou tudo nas mãos de Deus, apenas sendo grato pela sua saúde já debilitada por seus setenta anos de idade.
João Bosco de Andrade Araújo
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