sábado, 25 de julho de 2009

SOPRO CARDÍACO

O meu segundo emprego nos anos 70, consegui graças a interferência da minha mãe, num renomado Hospital no centro de SãoPaulo. Ela, na condição de uma hipocondríaca inveterada, só vivia fazendo um tratamento infindável no referido nosocômio. Portanto, do consultório ao Departamento de Recursos Humanos era só uma questão de iniciativa materna e um lance de escadas. Logo que fui demitido do meu primeiro emprego, na condição de arrimo de família, ela sentiu que eu não podia ficar muito tempo desempregado e então fez a sua parte, o que foi muito importante.
Após os testes preliminares e entrevistas, eis que chegou o fatídico dia do exame médico. Sabe-se que quando esse acontece em qualquer outra empresa, obvimente a parafernália é bem mais simples, deixando o candidato até mais descontraído. Já num grande Hospital, devido o próprio ambiente, chega até assustar um pouco. Pois, pega-se um elevador aqui, depois segue-se um enorme corredor ali, até chegar à sala do médico do trabalho. E foi aqui que me ocorreu um dos grandes sustos da minha vida.
Pelo semblante sério do Doutor, por sinal já demonstrando um grande cansaço pelos longos anos de profissão, percebi, incontinenti, que aquele exame não seria nada alvissareiro, como realmente não o foi. Aquele médico falava tão baixo, além do mais, parecia que tinha até uma batata na boca, pois suas perguntas eram quase inaudíveis e, consequentemente, incompreensíveis. Sendo assim, ao ouvir aquelas rotineiras perguntas sobre doenças na família, eu procurava responder de maneira lacônica, por exemplo: sim, senhor; não senhor e assim sucessivamente. E essa situação já estava me deixando bastante apreensivo e nervoso. Talvez por isso, no momento em que ele se aproximou para examinar a minha pressão arterial, logo balançou a vetusta cabeça, negativamente e resmungou algo mais ou menos assim:
-“Há algo irregular com o seu coração!”
- Não entendi, Doutor.
-“E nem é para entender. Hoje, não posso autorizar a sua admissão. Vou pedir primeiro alguns exames complementares para tirar uma dúvida.”
-O que eu tenho, afinal? – Perguntei já demonstrando nervosismo.
- “Não tenho certeza, mas parece um indício de um sopro no coração!”
- E o que é isso? É muito grave, Doutor?
- “Calma, jovem, amanhã, após o raio X e eletrocardiograma darei o diagnóstico!”
A partir daquele momento o chão parecia fugir sob os meus pés. Fui direto para a minha residência, mas não conseguia nem me concentrar na leitura de um livro que carregava comigo. Logo que cheguei, a minha mãe percebeu logo, através do meu semblante macambúzio e angustiado que algo de anormal acontecera. E sem perda de tempo falei da dúvida do médico e do pedido dos exames complementares. Como era um assunto que ela conhecia e dominava muito bem, tentou logo me confortar com palavras e exemplos que só mesmo uma mãe é capaz. Mesmo assim, após tentar jantar e não conseguir, mais tarde, ainda tive uma súbita insônia como companheira durante toda a madrugada.
No dia seguinte, após os respectivos exames, ao regressar ao consultório daquele médico ranzinza, levando um grande envelope lacrado com os resultados do eletro e raio X, respirei fundo enquanto ele os analisava cadencialmente como se fizesse algum suspense inoportuno. Mudo e sem olhar para mim, pegou a minha ficha e assinou, colocando-a em outro envelope, entregando-me em seguida, balbuciando:
-“Só foi um susto. Entregue isso ao DP (Departamento Pessoal) e bom trabalho!”
Menos mal, graças a Deus. Só que a partir desse data, mesmo começando a trabalhar num ambiente repleto de médicos, comecei a dar crédito ao pensamento que diz: “AS ÁRVORES SÃO COMO AS PESSOAS: NASCEM, CRESCEM, MAS SÓ QUE, COMO ELAS NÃO TÊM PÉS PARA IR AO MÉDICO...VIVEM MAIS!”


João Bosco de Andrade Araújo

www.joboscan.net

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