quarta-feira, 1 de julho de 2009

O SENSO COMUM

Alguns escritores confundem tanto SOCIEDADE e GOVERNO que deixam pouca ou nenhum distinção entre os mesmos; no entanto, não apenas são diferentes, como têm origens diversas. A SOCIEDADE é produzida pelas nossas necessidades, e o GOVERNO por nossa maldade; a primeira promove nossa felicidade de maneira positiva, unindo nossas afeições, e a segunda, de maneira negativa, cerceando nossos vícios. Aquela encoraja o intercâmbio, a outra cria distinções. A primeira é patrocinadora, a segunda punitiva.
A SOCIEDADE, em qualquer estado, é uma bênção, enquanto o GOVERNO,mesmo em seu melhor estado, não passa de um mal necessário; no seu pior estado, um mal intolerável, pois, quando sofremos ou somos expostos por um governo às mesmas desgraças que poderíamos esperar num país sem GOVERNO, nossa calamidade é intensificada pela conclusão de termos sido nós quem fornecemos os meios pelos quais sofremos. O GOVERNO, como traje, é o emblema da inocência perdida; os palácios dos reis são construídos sobre as ruínas dos caramanchões do paraíso. Pois, se os impulsos da consciência fossem clara, uniforme e irressistivelmente obedecidos, o homem não precisaria de outro legislador; mas, não sendo esse o caso, ele julga necessário desistir de uma parte de sua propriedade para obter meios de proteger o resto; e é levado a fazer isto pela mesma prudência que, em todos os outros casos, aconselha-o a escolher dentre os males o menor. Por conseguinte, sendo a segurança a verdade finalidade e propósito do GOVERNO, resulta, indiscutivelmente, que qualquer forma assumida pelo mesmo, e que pareça mais capaz de garanti-la a nós com menos despesas e maiores benefícios, seja preferível a todas as outras.
Para termos uma ideia clara e justa dos propósitos e finalidades do GOVERNO, imaginemos umpequeno grupo de pessoas instaladas nalguma parte isolada terra, sem comunicação com o resto do mundo, representando assim o primeiro povoamento de qualquer país ou do planeta. Neste estado de liberdade natural, a sociedade será a primeira preocupação. Mil motivos incitarão tais pessoas a isso, pois a força de um homem é grandemente desproporcional às suas necessidades, e seu espírito está pouco preparado para a solidão perpétua, levando-o logo a ser obrigado a procurar ajuda e consolo junto a outra pessoa que, por sua vez, está procurando o mesmo. Quatro ou cinco pessoas reunidas seriam capazes de erguer uma habitação razoável em meio à região inóspita, enquanto um homem sozinho poderia passar toda uma vida de trabnalho sem nada conseguir, depois de derrubar sua árvore, não conseguiria removê-la, e nem levantá-la depois de tê-la removido do lugar; enquanto isso a fome faria com que se afastasse de seu trabalho, e cada necessidade diferente levá-lo-ia a um lugar diferente. A doença, ou mesmo o infortúnio significariam morte, pois, embora nenhum dos dois pudesse ser algo mortal, qualquer um o incapacitaria a viver, reduzindo-o a um estado no qual seria mais fácil dizermos que ele sucumbira do que morrera.
(Fonte: O SENSO COMUM E A CRISE
Autor: THOMAS PAINE
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