sábado, 5 de dezembro de 2009

PARECE PARANOIA, MAS NÃO É!

Alguns moradores do prédio ao lado do condomínio onde moro podem até achar que o meu vizinho, Baltazar, tem alguma paranoia. Mas, estão enganados! Ele é, simplesmente, um senhor aposentado, pacato, tranquilo...só que o mesmo tem um vício que o acompanha há 40 anos: é um tabagista, assim como milhões de pessoas no mundo. Ultimamente, ele toma uma atitudes esdrúxulas que deixam dúvidas quanto a sua personalidade. Pois como diz o provérbio: “De longe, todas as montanhas são azuis!”, o seu gesto bisonho e corriqueiro pode até não ter nenhum sentido para terceiros que o observam e bisbilhotam das janelas dos seus apartamentos, mas para ele, que não deve satisfações a ninguém por isso, todo o dia, mais precisamente à noite, ele continua agindo sempre da mesma maneira. Você quer logo saber do que se trata? Pois vamos ao que interessa:
Desde que a nova lei antitabagista entrou em vigor, o morador em questão, em respeito aos demais condôminos, quando resolve impregnar seus pulmões com o seu indefectível cigarro, sempre o faz ao redor do estacionamento do prédio ou, amiúde, na pequena área de lazer e é justamente aqui que ele pratica sua “travessura”. Pois nesse local há um muro. Sim e daí? Será que o tal aposentado faz xixi ali? Ora, veja bem, ele não chegou a uma atitude tão inadequada e antissocial como essa, porque aí seria um prato cheio para o questionarem. Portanto, não se trata de nada disso. O que aconteceu foi que o seu Baltazar observou que, no reboco do muro havia e há minúsculas pedrinhas e resíduos que são refletidos durante a noite, através da luz que vem de um globo que fica ali próximo. Então, enquanto ia fumando seu cigarro, para não ficar totalmente à toa, começou a retirar esses pequeninos objetos e guardá-los. E assim, tal atitude inofensiva, pouco a pouco, foi se transformando numa obsessão. Então, todas as vezes ao descer para queimar um veneno já ia direto ao muro e quando não passava ninguém por ali, sorrateiramente, começava a escarafunchá-lo e recolhia suas pedrinhas luminosas. Só não gostava quando uma delas caía e aí ficava difícil encontrá-la...
Mas chateado mesmo ele ficou foi quando certo dia, após uma das faxinas que a sua esposa costuma fazer no apartamento, percebeu que ela, sem saber qual a finalidade daquelas pedrinhas no interior de um vaso sobre a estante, ao lavá-lo, o seu sonho de, por acaso, utilizá-las em algum empreendimento ou invenção, foi literalmente de água a baixo. E afinal, houve alguma celeuma em seu lar por causa disso? Sem dúvida que não. E pensando bem, achou até bom que ela não lhe perguntasse sobre a origem e finalidade daqueles pequenos objetos, pois se ele fosse contar a verdade, certamente, os 23 anos de casamento estariam correndo perigo. Pois até ela seria capaz de pensar e julgar que ele estivesse precisando encontrar alguma atividade mais produtiva para fazer. Pois recolher pedrinhas do muro do condomínio altas horas da noite...que futuro teria? Perguntar-lhe-ia a sua atônita esposa.
-Ora, minha querida, simplesmente um futuro luminoso – responderia o senhor Baltazar, irônico e brincalhão como sempre!

João Bosco de Andrade Araújo

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