Era o último dia do ano letivo, sim. Logo após a missa, um pouco antes de ser servido o café da manhã, a nossa cozinheira, que por sinal sempre prestativa, responsável, trabalhava sozinha, dessa vez saiu do seu recinto impregnado de gordura, fumaça e cheiro de comida gostosa e resolveu pediu a nossa ajuda para matar um enorme peru que fazia parte do cardápio do almoço do último dia daquele ano letivo. Sem muita experiência, mesmo assim até que tentamos e numa algazarra inesperada atingimos o nosso objetivo e entregamo-lo já no ponto de ser preparado, temperado e, obviamente, assado. Ela nos agradeceu e apenas falou:
- “Morto ele está...agora quando ficará pronto...só Deus sabe! Mas vou fazer o possível!”
Quer dizer, todos nós sabíamos que naquele dia almoçaríamos ou jantaríamos um apetitoso peru. Só que, como nada na vida é como se quer, o certo foi que, à proporção que o tempo foi passando, as oportunidades de viagem foram surgindo e, paulatinamente o prédio foi ficando vazio. Enquanto isso, a cozinheira, coitada, sem nada saber, não interrompeu o seu trabalho e continuou se esforçando para que aquele iguaria contentasse a todos nós, aos padres e Bispo. Só que esses também tiveram que se ausentar por motivos óbvios e realmente aquele ambiente foi ficando deserto. Enquanto isso, aquela senhora, sem nada saber fazia o seu serviço, coitada, tentando, repito, deixar aquele peru pronto e agradável ao paladar de todos. E, pelo que pude perceber, tudo indica que ela atingiu o seu intento, só que como isso só aconteceu por volta das 16 horas, nesse horário só havia um seminarista naquele prédio: eu. Por sinal, apesar de residir numa cidade próxima dali, justamente naquela ocasião estava com dificuldade de encontrar passagem ou alguma carona para viajar. Então, com aquela apreensão e angústia, a minha fome é que foi embora. Mesmo assim, aproximei-me daquela mesa farta e vendo aquele enorme peru bem no centro, deixei-o intacto e me servi de outras pequenas iguarias.
Só que, posso afirmar que não presenciei quando aquela cozinheira veio recolher os pratos e deve ter visto todo o seu serviço ali inútil. Pelo menos até aquele momento, pois quem comeu aquele peru eu não sei. Só Deus sabe quem o consumiu. E que tenha tido um ótimo proveito e apetite. Sendo assim, pelo menos, todo aquele esforço e serviço daquela senhora cozinheira não foram totalmente debalde. Sempre que o natal se aproxima e quando se fala muito em peru, lembro-me, incontinenti desse fato que ficou na minha lembrança e dificilmente será olvidado.
João Bosco de Andrade Araújo
Joboscan50@yahoo.com.br
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