quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

QUEM COMEU AQUELE PERU?

Muito embora as borrascas, intempéries e chuvas incessantes inundem, literalmente, o noticiário em geral, com o advento de fevereiro, inegavelmente, o assunto que será abordado pelo menos até a primeira quinzena será o famigerado carnaval. E mesmo o Natal tendo ficado para trás o tema que agora retratarei estará atrasado, mas não tem importância. Mesmo assim, faço uma retrospectiva nas minhas reminiscências para registrar um fato que ocorreu há muitos anos em nossa comunidade religiosa, mais precisamente, no seminário, no último dia de um determinado ano letivo . Pode até ser que o assunto não interesse muito ao leitor, mas quem sabe, despertará o seu apetite ao falar de um apetitoso peru que ficou intacto sobre a mesa naquele ano de 1965. Então perdura até hoje uma pergunta que não quer calar: quem comeu aquele peru? Só Deus sabe! Para o lixo, tenho plena certeza de que ele não foi. Apenas os seus ossos. Bem, mas vamos ao que realmente aconteceu.
Era o último dia do ano letivo, sim. Logo após a missa, um pouco antes de ser servido o café da manhã, a nossa cozinheira, que por sinal sempre prestativa, responsável, trabalhava sozinha, dessa vez saiu do seu recinto impregnado de gordura, fumaça e cheiro de comida gostosa e resolveu pediu a nossa ajuda para matar um enorme peru que fazia parte do cardápio do almoço do último dia daquele ano letivo. Sem muita experiência, mesmo assim até que tentamos e numa algazarra inesperada atingimos o nosso objetivo e entregamo-lo já no ponto de ser preparado, temperado e, obviamente, assado. Ela nos agradeceu e apenas falou:
- “Morto ele está...agora quando ficará pronto...só Deus sabe! Mas vou fazer o possível!”
Quer dizer, todos nós sabíamos que naquele dia almoçaríamos ou jantaríamos um apetitoso peru. Só que, como nada na vida é como se quer, o certo foi que, à proporção que o tempo foi passando, as oportunidades de viagem foram surgindo e, paulatinamente o prédio foi ficando vazio. Enquanto isso, a cozinheira, coitada, sem nada saber, não interrompeu o seu trabalho e continuou se esforçando para que aquele iguaria contentasse a todos nós, aos padres e Bispo. Só que esses também tiveram que se ausentar por motivos óbvios e realmente aquele ambiente foi ficando deserto. Enquanto isso, aquela senhora, sem nada saber fazia o seu serviço, coitada, tentando, repito, deixar aquele peru pronto e agradável ao paladar de todos. E, pelo que pude perceber, tudo indica que ela atingiu o seu intento, só que como isso só aconteceu por volta das 16 horas, nesse horário só havia um seminarista naquele prédio: eu. Por sinal, apesar de residir numa cidade próxima dali, justamente naquela ocasião estava com dificuldade de encontrar passagem ou alguma carona para viajar. Então, com aquela apreensão e angústia, a minha fome é que foi embora. Mesmo assim, aproximei-me daquela mesa farta e vendo aquele enorme peru bem no centro, deixei-o intacto e me servi de outras pequenas iguarias.
Só que, posso afirmar que não presenciei quando aquela cozinheira veio recolher os pratos e deve ter visto todo o seu serviço ali inútil. Pelo menos até aquele momento, pois quem comeu aquele peru eu não sei. Só Deus sabe quem o consumiu. E que tenha tido um ótimo proveito e apetite. Sendo assim, pelo menos, todo aquele esforço e serviço daquela senhora cozinheira não foram totalmente debalde. Sempre que o natal se aproxima e quando se fala muito em peru, lembro-me, incontinenti desse fato que ficou na minha lembrança e dificilmente será olvidado.

João Bosco de Andrade Araújo

Joboscan50@yahoo.com.br

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