sábado, 7 de novembro de 2009

A MORTE DE UM BENFEITOR ANÔNIMO!

Havia numa cidadezinha do interior um homem sexagenário bastante introspectivo e misterioso. As pessoas, de maneira geral, não o via com bons olhos. Chegavam a criticá-lo, achando-o muito esquisito e até antipático. Coitado! Coitado, nada. Por escolha pessoal ele residia sozinho. Embora fosse visto andando, paulatinamente, pelas ruas, sempre sozinho, ninguém procurava conversar com ele, talvez por seu jeito arredio e antissocial. Só que aquele senhor não tinha mágoa de ninguém. Pelo o contrário, tinha até um boníssimo coração. Portanto, levava realmente uma vida solitária da melhor maneira possível.
Há algum tempo, desde que conseguiu sua merecida e aguardada aposentadoria, procurou humilde e sorrateiramente a Diretora de um colégio infantil, hoje EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) e solicitou-lhe um grande favor. Consistia o mesmo em fazer uma modesta e esporádica doação de presentes às crianças, cuja distribuição fosse conforme aquela senhora achasse mais convincente. Só que ele fez uma exigência: não gostaria que ninguém soubesse que era ele o autor daquela proeza. A Diretora, muito comovida e grata prontificou-se ser conivente e garantiu-lhe que tudo seria feito sob um segredo guardado a sete chaves. Então, todo o mês, com a quantia que aquele senhor dava, eleva comprava algo que se transformava numa alegria ímpar para todos os seus pequenos alunos.
O tempo foi passando e aquela rotina mensal se repetia. Até que, infelizmente, aquele senhor sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), vindo a falecer. À proporção que a notícia se espalhou pela redondeza, os comentários foram os mais degradantes e desprezíveis possíveis com relação ao falecido. Ninguém se prontificou ir ao seu velório e muito menos ao enterro, pois muitas pessoas, por julgá-lo muito reservado, tachava-o de “velho orgulhoso” ou até “antipático”, etc. Só que, logo que tomou conhecimento daquela triste notícia, a Diretora reuniu imediatamente os seus alunos e fez a revelação, contando-lhes quem era o benfeitor, o doador daqueles presentes mensais. Convoucou-os ao velório e, consequentemente ao enterro do morto. E à proporção que se dirigiam ao local onde estava o caixão, cada criança ia colhendo uma flor pelo caminho e chegando lá, logo o ambiente ficou todo enfeitado e perfumado pelas rosas, margaridas e orquídeas, etc. Após a reza final feita pelo pároca local, todos seguiram o cortejo até ao cemitério para dar adeus a quem durante muitos anos lhes deu muitos presentes e muitas alegrias.
Só após esse gesto, foi que a outra notícia se espalhou pelo lugarejo sobre o coração beneplácito daquele senho, que, equivocadamente, muita gente achava que era egoísta, antipático, antissocial, etc. Em síntese, mais uma vez cabe aqui o pensamento que diz: “De longe, todas as montanhas são azuis” ou também: “Não digas ao mundo o que és capaz, demonstre-o!”


João Bosco de Andrade Araújo

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