quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                         CAPÍTULO XI

                                                                SEGUNDO SEMESTRE DE 1964


                            No início das férias do mês de julho, o meu pai que já sabia do meu mau comportamento, logo me chamou a atenção, dizendo que não entendia aquela minha mudança de comportamento:
                           -Eu não entendo como uma pessoa vira a cabeça assim sem motivo algum. Se fosse por causa de más companhias....Mas, não.
                            Nesta ocasião realmente sem argumento para justificaar aquela minha metamorfose. Só prometi que no segundo semestre eu voltaria a me comportar bem. Ao que meu velho pai falou:
                            - É bom mesmo!
                            Regressei no início de agosto trazendo em minha mente a vontade de voltar a ser um protótipo de aluno. E logo na primeira nomeação para prefeito e vice, o Padre Albano resolveu me dar um grande voto de confiança à minha recuperação moral, dando-me o cargo de vice-prefeito. No início, como já estivesse preparado psicologicamente, eu sabia que ouviria, de vez em quando alguma pilhéria, tentando até me provocar.
                            Os primeiros dias estavam transcorrendo bem. Até que ocorreu um fato muito triste e lamentável e porque não dizer, trágico em nossa comunidade. Fato este, por sinal, nos abalou profundamente. Estou falando da morte do João Borges, o prefeito, vítima de uma entrada brusca por trás num jogo de futebol. Lembro-me que na ocasião ele caiu com o estômago sobre a bola e logo em seguida desmaiou ali mesmo no campo. Ficamos atônitos. Levamo-lo imediatamente para o dormitório. Tentamos reanimá-lo, mas inutilmente. Enquanto isto, alguém tentava localizar o nosso reitor. Mas este só conseguiu chegar uma hora após o ocorrido. Levou o nosso colega imediatamente ao Pronto Socorro. Nesta noite fomos dormir preocupados. Na manhã seguinte o Padre Albano nos deu a notícia que o nosso colega fora atendido e medicado, mas só que o seu estado de saúde era ainda muito grave. Precisava de uma cirurgia urgente, mas a família dele não autorizou, assinando inclusive uma alta a pedido. Preferiram tratar do filho em casa com remédios caseiros. Fomos visitá-lo no mesmo dia. A nossa turma foi dividida em vários grupos, uma vez que a casa do João era pequena. Infelizmente, nesta ocasião, dava para perceber facilmente que ele não estava bem, cujo semblante desfigurado, olhos fundos perdidos no espaço, inclusive não conseguia falar e nem reconhecer ninguém. Saimos dalli já com lágrimas nos olhos. Pois só um milagre o traria de volta ao nosso meio.
                            No dia seguinte, vendo que o estado do seu filho piorara, os pais o levaram ao hospital e finalmente autorizaram a cirurgia. Mas, lamentavelmente já foi tarde. O mesmo médico que o atendeu no primeiro dia, confidenciou ao nosso reitor: "Esta operação deveria ter sido realizada logo que ele deu entrada aqui. Mas agora, Padre, só se for mesmo por um milagre!" Mas este não aconteceu.
                          Após a morte do nosso colega, ficamos uma semana de luto. Futebol? Nem pensar. Em seguida fui nomeado prefeito e outro colega assumiu o cargo de vice. E sendo assim, a nossa rotina, paulatinamente, voltou ao normal.


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