sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                   O HOMEM NA LUA

                Por este tempo, 21 de julho de 1969, a Apolo XI aterrissa no solo lunar, concretizando um dos maiores sonho do homem. Era quase meia-noite no Brasil. E, por incrível que pareça, acompanhávamos esta epopeia através do rádio, pois nem televisão tínhamos na nossa pequena e humilde cidade de Simplício Mendes - Piauí . Ouvindo aqueles comentários sobre a brilhante façanha de um ser humano pisando pela primeira vez na lua, devido o meu momento romântico, literalmente, sentia-me como se estivesse também no mundo da lua. Precisava me beliscar para sentir que estava acordado. Pois o meu pensamento estava totalmente voltado para aquela garota que parecia me perseguir com o seu lindo olhar. Podia ser algo fugaz, mas até que eu estava sentindo um grande prazer em viver aquele momento. Parecia até uma obsessão de adolescente.
               Antes de regressar ao seminário cheguei a ensaiar uma conversa com ela ali mesmo na praça. Mas ela e minhas primas davam voltas na praça e não paravam um só momento. Cheguei a falar assim para o meu amigo, Jorge Mendes, o qual também estava interessado numa das garotas ali presente.
                -Poxa, rapaz, não sei como estas meninas não se cansam!
                -Ora, se algum pretendente interpelá-las, tenho certeza que elas darão alguma atenção, nem que seja para dizer não.
                -É verdade, mas onde se compra coragem?
                -Que nada, Leonam, elas não mordem não - continuou o meu amigo.
                -Eu sei, rapaz, mas o problema mesmo não é o medo, mas a timidez. Eu tenho certeza que se eu me aproximar para trocar alguma ideia será bem capaz que não sai nada da minha boca.
                - É mesmo e junta a sua timidez com o receio do que as outras vão falar devido a sua condição de seminarista, que não pode namorar, aí então tudo fica mais difícil mesmo.
                  E assim ficamos algum tempo jogando conversa fora só abordando teorias e hipóteses. O tempo foi passando, até que chegou o momento de nos recolhermos. Amanhã seria outro dia e o sol iria nascer novamente.
                 As minhas férias terminaram e não encontrei outra oportunidade de outro como esta para conversar com aquela garota. Quando cheguei em Teresina a primeira coisa que eu fiz foi escrever uma carta mais do que caprichada, expressando tudo o que eu sentia com relação àquela jovem. E a minha surpresa foi que a recíproca era verdadeira. E passamos o segundo semestre de 1969 trocando confidências através de lindas e sinceras cartas amorosas. A minha sorte é que, por este tempo, o reitor do seminário como era um Padre com ideias avançadas, entendia muito bem que violar correspondência fazia parte de outros tempos. Ainda bem.

                                           Próxima postagem: Visita de seminaristas de São Paulo

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