terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CONVERSA ETÍLICA

                       -Você tem coragem de fazer isto comigo?
                       -Ora bolas, você fez por merecer este meu desprezo!
                       -Você fica sabendo que isto é uma grande injustiça!
                       -Injustiça? Engraçado, você não sabe se comportar, não tem moral...
                       -Vem aqui, espere um pouco. Não quero falar só. Você não tem coração?
                       -Ah, vê se me erra! Procure outra pessoa da sua laia!
                       -Tá bom. Por isso que se diz por aí: melhor só do que mal acompanhado!
                       -Vai te catar!

                     Toda esta celeuma verbal tinha tudo para ser mais um arrufo entre um casal de namorados, noivos ou até mesmo duas pessoas casadas. Eu disse tinha. Mas não foi isto que aconteceu. Pra começo de assunto, esta discussão ocorreu em plena via pública aqui no bairro onde moro, a qual aconteceu entre dois "amigos de copo", ou melhor, dois moradores de rua, daqueles sem destino que vegetam recolhendo produtos descartáveis no lixo dos prédios e casas. Pelo saco que um deles carregava, enquanto entoava uma voz pastosa, dava para perceber facilmente que houve um sério desentendimento entre esses dois "parceiros" e pelo tom do desabafo, tudo indica que o tal relacionamento entre ambos estava por um triz. A não ser que numa outra esquina ou num boteco qualquer eles chegasse a um acordo amigável e a parceria continuasse. Bem, mas isto é outra história.
                   O que me chamou a atenção neste desabafo etílico foi a maneira como os dois homens se acusavam e ao mesmo tempo se defendiam. Parecia algo ensaiado. Enquanto só estivessem jogando conversa fora, talvez para chamar a atenção dos transeuntes, ainda vai. Mas tudo indica que brevemente eles iriam se reconciliar. O problema só se tornaria mais sério se eles partissem para algum tipo de agressão física. Enquanto ficassem só verbalmente, tudo bem.
                  O certo ou errado é que, o que deu para perceber do ponto de ônibus onde eu estava, é que o que andava com o saco de produtos coletados na rua, como tinha mais dificuldade de andar, visto a quantidade de álcool no organismo e do peso da carga, ele ficou para trás, enquanto o companheiro dobrou na próxima esquina e se escafedeu sabe Deus para onde. Chegou-se a comentar ali entre as pessoas que presenciaram aquela cena inusitada que tudo aquilo era apenas encenação. Eles estavam dando uma de "atores". Se isto era verdade, para ser sincero, até que convenceram. E merecia até os parabéns, o que sem dúvida alguma, eles prefereriam mais alguns trocados para completar o dinheiro de mais um litrão de pinga. Afinal, não seria este o "combustível" diário de pessoas que vegetam assim pelas ruas e avenidas. Afinal, elogio ou parabéns não enchem barriga de ninguém ou ajudam a deixar este tipo de gente mais alienada ainda. Vai fazer o quê? É a vida! OU aliás, é a morte! Não sei.


                                                   Joboscan de Araújo

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