sábado, 22 de junho de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                           Antes de terminar o primeiro semestre de 1967 aconteceram dois fatos que faço questão de registrar, muito embora ambos não foram nada agradáveis, pois foram sobre doença e morte, embora neste caso, os dois aconteceram com pessoas diferentes.
                         No primeiro caso fui vítima de infecção estomacal, a qual só foi detectada após cinco dias em que fiquei acamado. Neste ínterim só conseguia levantar da cama para ir ao banheiro. Estava bem debilitado, pois não conseguia me alimentar corretamente e acima de tudo não tinha nenhum acompanhamento médico. Quase nenhum colega vinha saber o que eu tinha. Mesmo percebendo a minha ausência nas aulas e nas missas nenhum padre veio saber o que eu realmente tinha. Até que um colega penalizado pelo meu estado lamentável foi comunicar ao reitor e este simplesmente mandou que o motorista do seminário me levasse ao hospital mais próximo.
                        Com muita dificuldade para descer às escada do prédio e andar devido a minha fraqueza, cheguei ao carro já suando frio e quase desmaiando. No pronto socorro do hospital, o médico que me atendeu ficou impressionado com o descaso, a indiferença, a frieza dos meus superiores com relação à minha saúde. Afinal, ficar quatro ou cinco dias deitado sem me alimentar direito e chegar naquele estado, o médico quase não acreditou que eu fosse um seminaristas. Onde estava a caridade, o amor ao próximo que a Igreja tanto postula e prega. O médico só faltou dizer o adágio popular: "Em casa de ferreiro, espeto de pau".  Mas o mais importante foi que ele me receitou um ótimo e santo remédio que foi como se Deus colocasse a mão no meu corpo, mais precisamente no meu estômago e numa questão de horas eu já estava me sentindo melhor. No dia seguinte já consegui assistir à misse e frequentar algumas aulas e também me alimentar melhor. Como fui grato àquele médico que me atendeu!
                       Nesta mesma noite, lá pela madrugada acordei ouvindo um cântico fúnebre vindo da capela do seminário. Logo pensei que estivesse delirando sob o efeito do remédio que eu tomara antes de dormir. Mas como as vozes continuavam resolvi olhar para os lados e percebi que as camas estavam vazias. Confesso que neste momento senti um grande medo. Como ninguém me acordara, estava eu ali sozinho sem saber o que estava acontecendo.Paulatinamente fui até na parte superior da capela e de lá percebi que todos os meus colegas estavam velando o corpo de um padre que havia falecido naquele dia. Mas como eu estivesse alheio a tudo devido àquela doença só na manhã seguinte fiquei sabendo do ocorrido com detalhes.


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