quinta-feira, 17 de outubro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                Após a nossa festa de formatura e com a aproximação das festas de Ano Novo, o assunto que voltamos a abordar era sobre o nosso passeio. E quanto a isto cada um de nós parecia  mais pessimista do que o outro.
                              -"Está difícil encontrar alguém para nos acompanhar!" - dizia um.
                              -"O Padre Agostinho já falou que não pode, pois tem reunião do clero".
                              -"Nem o diretor do ginásio também pode" - falava outro.
                              -"E será que não tem nenhum professor que poderá nos acompanhar?"
                             Bem, o certo é que não havia nenhuma luz no fim do túnel. E o tempo estava passando rápido. Só para se ter uma ideia, não tínhamos nem um lugar programado, quanto mais transporte ou alguém responsável para o tal passeio. Por outro lado, alguns colegas não demonstravam nenhum interesse mais veemente para este projeto. Inclusive, alguns já estavam com viagem programada para a capital e outras cidades, providenciando colégios para dar continuidade aos seus estudos. Portanto, nada favorecia para a concretização do nosso passeio. Quanto ao responsável pelo o dinheiro naquele momento estava sendo eu. Pois, todos confiaram na minha pessoa, com o estigma de ilibada, responsável, futuro padre etc, sendo assim, aquela quantia estaria em boas mãos. E realmente procurei guardá-lo com toda a responsabilidade. Até o dia em que fizemos uma reunião com quase todos os colegas e tomamos uma atitude muito irresponsável: resolvemos em comum acordo dividir o dinheiro. É verdade que alguns e eu estava entre estes, achavam que esta nossa atitude seria bastante criticada pela comunidade simplício-mendense. E o padre Agostinho quando soubesse desta partilha espúria e irresponsável? Então, não demorou muito, esta notícia se espalhou pela cidade tal qual um rastilho de pólvora. E os comentários maldosos logo surgiram. Sentindo a péssima repercussão, não tínhamos desculpas coerentes para tal atitude. E quando o nosso vigário chegou, pelo seu semblante, antes amigável, sorridente, agora carrancudo e triste, na hora da missa daquele domingo, com a igreja lotada, o assunto integral do seu sermão foi sobre aquela nossa fatídica atitude. A palavra mais bonita e menos contundente, pesada, forte que ele falou foi: IRRESPONSÁVEIS.
                              Inegavelmente, por ironia do destino, como um daqueles irresponsáveis citados pelo padre Agostinho, estava eu ao seu lado no altar, pois como seminarista e sacristão, a minha função era ajudá-lo durante a celebração da santa missa. Fiquei cabisbaixo e macambúzio como mandava a situação e posso não ter demonstrado externamente através de lágrimas cálidas escorrendo no meu semblante, mas o meu âmago estava estraçalhado, magoado e acima de tudo, arrependido por tudo aquilo. Réu confesso, o meu perdão eu pedi e tenho certeza que aquela mágoa com o povo de Simplício Mendes demorou ser olvidada.
                            Uma só frase que ouvi do vigário antes da missa que jamais consegui esquecer foi:
                            -"Gostaria tanto que não fosse verdade esta palhaçada que vocês fizeram!..."
                           

                                                       Joboscan de Araújo

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