segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                    FÉRIA DE JULHO DE 1969


                                 Faltando uma semana para o início das férias de julho, o novo vigário da minha cidade, Simplício Mendes, o padre Adevaldo Lindenberg, ao tomar conhecimento que eu pretendia ficar no seminário, uma vez que os meus familiares estavam em São Paulo, imediatamente tomou as devidas providências para que eu fosse passar as férias lá, com o objetivo de ajudá-lo durante a visita que ele teria que fazer nas pequenas localidades, administrando os sacramentos e celebrando as missas.
                                Logo que eu cheguei percebi que ele ficou bastante contente, ao mesmo tempo que admirou muito o meu físico bastante franzino e falou em um português com muito sotaque:
                               -"Meu Deus, como você está magrinho? Não 'ter' comida em seminário?
                               -Ah, padre, sempre fui assim mesmo magrinho. O importante é ter saúde.
                               -"Mas é melhor engordar um pouco mais, non?
                               -Não tenho tendência pra isso, não senhor.
                               -Que é 'tendência'?
                               - Não sei bem explicar ao senhor, o certo é que estou bem assim.
                               -Tudo bem, vamos para o que interessa.
                               Em seguida ele me falou que tinha marcado algumas visitas (desobrigas) a alguns municípios adjacentes. Por isso precisava muito da minha ajuda, pois já tinha ido com o seu antecessor e percebeu que precisaria de um ajudante que entendesse da rotina quanto a administração dos sacramentos, por exemplo, casamento, batismo e, principalmente, as missas. Então já no dia seguinte partimos para este trabalho apostólico. Aqui, além  das missas, batizados, casamentos, o vigário fazia rápidas visitas aos enfermos das localidades. E quase tudo que ele fazia era necessário sempre o sacristão, que era a minha função, ao seu lado, ajudando-o no que fosse preciso. Além desta ajuda direta, cabia-me a função de preparar os paramentos, o altar, bater o sino, anunciando o horário das missas e também ensaiar os cânticos litúrgicos com os fiéis. Só não tinha interferência mesmo na hora das confissões, é óbvio. E com isto, como estava sempre ocupado, o tempo passava rápido.
                            Detalhe importante: nestas desobrigas, a refeição em todos os lugares em que ficávamos hospedados, mesmo por pouco tempo, era sempre gostosa e variada, ou seja, caprichada. A família que nos acolhia, podia ser simples como fosse, mas na horas das refeições, café da manhã etc, as iguarias e guloseimas eram sempre deliciosas. Não sabíamos nem por onde começar. O padre Adevaldo então, sempre preocupado como o meu pouco físico, procurava me estimular para me servir bastante. Será que achava que comendo muito eu iria engordar? Ledo engano. Ele, por sua vez, como era um alemão forte, era um bom de garfo. Comia de tudo e bastante. Mas, cada um, cada um.
                          O certo é que, pouco a pouco, o novo vigário ia conquistando a simpatia do povo, principalmente da cidade de Simplício Mendes, que já estava bem acostumado com o anterior, o Padre Agostinho da Rocha. Mas, é assim mesmo.

                                                     Próxima postagem: flerte no templo sagrado

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