sábado, 21 de maio de 2011

O IDOSO CALOTEIRO

Quando a ficha caiu foi que pude perceber que tinha sido ludibriado, passado para trás por uma pessoa idosa e, literalmente um velho freguês do meu pequeno comércio. Sem dúvida, eu tive um ressentimento, uma perda de confiança nas pessoas de modo geral, pelo menos, momentâneamente. Afinal, ser enganado assim, na maior cara de pau, por uma pessoa em quem se depositava muita confiança, é muito pra cabeça. Pois aquele humilde e claudicante senhor teve a ousadia de me pedir dez reais emprestado, comprometendo-se devolvê-lo no mesmo dia. Só que não cumpriu a palavra nem nesse e nem nos dias e meses seguintes. Alguém poderia pensar que o dito cujo, nesse ínterim, veio a falecer. Mas não foi o que aconteceu, felizmente. Com o seu calote sim, ele assassinou a confiança que alguém depositava na sua pessoa.
Após vários meses da ocorrência daquele pequeno empréstimo, vi aquele senhor caloteiro num pequeno comérciio de doces e salgadinho, o qual parecia que tomava de conta temporariamente ou quem sabe, poderia até mesmo ser o seu proprietário. A princípio, pensei até em cobrá-lo, mas como já tinha feito isso em outras ocasiões sem êxito algum, ouvindo apenas desculpas esfarrapadas e promessas vazias de futuro pagamento, portanto, resolvi deixar pra lá e seguir o meu caminho sem olhar para trás. Pra ser sincero, cheguei a ter dó daquele senhor. Pensei com os meus botões: como pode uma pessoa, com aquela idade agir assim de maneira tão mesquinha e maquiavélica? Será que ele pensa que com o passar do tempo eu iria simplesmente esquecer aqueles dez reais que ele se comprometeu a me pagar naquele mesmo dia? Se ele abaixa a cabeça ou vira o rosto para o lado contrário qundo me aproximo é, talvez, até por vergonha, coitado. Portanto, resolvi perdoá-lo. Cobrá-lo, xingá-lo jamais iria resolver coisa alguma. Por isso resolvi dar tempo ao tempo e perdoar aquela pequena dívida.
Só resolvi narrar este fato para ratificar a veracidade do pensamento que diz assim: "Não respeitai os homens apenas por seus cabelos brancos, porque os canalhas também envelhecem!"

João Bosco de Andrade Araújo

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