Vamos aos fatos: O local era um hospital que atendia geralmente pessoas pobres e sem direito a nenhum convênio, salvo raríssimas exceções, como por exemplo, caso de emergência ou atendimento particular, isto é, pago. Na pequena sala do serviço social desse nosocômio, o escriturário atendia normalmente, certa tarde, pessoas humildes, que ficavam várias horas na fila, aguardando ser atendidas. Eis que, repentinamente, adentrou naquele recinto uma "madame" ostentando ar autoritário e toda petulante, espraiando um perfume importado e fazendo questão de esnobar um molho de chave de algum carro. E com um ar antipático e repleto de empáfia, sem pedir nem licença e muito menos cumprimentar, foi logo falando alto, como se fosse a dona da cocada preta:
-"Onde tem um médico aqui para atender logo a minha empregada?"
Realmente ela estava acompanhada por uma senhora humilde, aparentando precisar de atendimento médico, pois tinha uma faixa improvisada numa das mãos. Só que o funcionário em questão, não se deixou abalar por aquela intromissão zombeteira e petulante e aumentou também a voz ao interpelar aquela senhora invasora, dizendo:
-Por favor, senhora, a fila fica no outro lado do salão!
-"Fila, que fila que nada! Você por acaso sabe com quem está falando?"
- Não sei e nem quero saber. E queira se retirar da minha sala se não quiser que eu chamo a segurança...Pois acaba de atrapalhar o meu serviço.
-"Eu não estou pedindo favor algum, meu filho, eu estou pagando, entendeu?
-Quer pagar algum tratamento, pois procurou o lugar errado. O atendimento pago é do outro lado. Aqui é só para quem não tem condições financeiras.
Sem esboçar nenhum outro argumento, pôs o rabinho entre as pernas, como se costuma dizer, e sumiu no corredor, soltando fumaça pelas narinas, deixando no ar a fragrância de algum perfume que logo se desfez misturando-se ao cheiro de éter e outros remédios peculiar a todo hospital público ou particular.
João Bosco de Andrade Araújo
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