quinta-feira, 13 de setembro de 2012

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                                CAPÍTULO II

                                                    DO NASCIMENTO E INFÂNCIA


                   Quando nasci meus pais ficram tão assustados e estarrecidos com o meu peso tão insuficiente, aquèm do normal que solicitaram imediatamente ao vigário da paróquia para me batizar com receio que eu morresse pagão. Inclusive, nesta ocasião, o padre chamou a atenção dos poucos presentes, meus pais e padrinhos para uma falha no meu cabelo como se fosse uma pequena tonsura (coroa) que eles (padres) usavam naquele tempo. Mas, graças a Deus, foi apenas uma suspeita materna e consegui sobreviver, mesmo sempre aparentando um corpo franzino, raquítico, mas não demonstrando nenhuma doença mais grave.
                   Os meus primeiros passos foram dados sempre rumo à Igreja, que por sinal ficava perto da minha casa. Praticamente, toda a minha família era dedicada às coisas religiosas: igreja, padre, procissão, missa etc. E à proporção que o tempo passava, a minha mãe se orgulhava muito da minha vida religiosa. Até que certo dia ela falou com muita convicção e emoção que o seu maior sonho era que estudasse para ser um futuro padre. Achei a ideia muito interessante, a ponto de logo começar a "brincar" de celebrar a missa no meu quarto, contando sempre com a ajuda da minha irmã mais nova. Era uma brincadeira infantil, porém despertou no meu âmago um desejo sincero e grande de estudar para ser padre.
                   Mas enquanto esse tempo não chegava, com apenas 9 (nove) anos, comecei a vender cocadas que a minha mãe preparava com o intuito de ajudar um pouco nas despesas de casa. Afinal, éramos 9 irmãos e só o meu velho pai trabalhava e não era nada fixo. De vez em quando, para o nosso desespero, ele ficava sem serviço e a nossa situação ficava crítica. Por outro lado, minha mãe procurava fazer uma coisa e outra sempre com o objetivo de trazer alguns trocados para dentro de casa e então ajudar a pagar a venda onde se comprava fiado, anotando tudo numa caderneta. Meus irmãos mais velhos, por sua vez, também faziam alagum bico para ajudar.
                    Por esse tempo também, já com dez anos comecei a frequentar pela primeira vez a escola. Até que eu gostava. Aliás, só uma matéria nunca consegui me dar bem que era a matemática. A minha primeira professora sempre implicava com isso e de vez em quando até me colocava no castigo porque não conseguia fazer algumas contas. Lembro-me que certa ocasião, talvez só para me humilhar ou não, mandou que eu fosse escrever alguma coisa na lousa, o que eu achei um absurdo e a desobedeci. Sentindo-se ofendida e com raiva me chamou de "negrinho". Ao que retruquei na mesma hora. Isto foi motivo suficiente para que eu levasse uma surra da minha mãe, quando ele ficou sabendo do que houve na escola. A professora tinha sempre razão. Isto no conceito da minha mãe. No meu não. Pois a meu ver, ela simplesmente me ofendeu e isto jamais eu esqueci.

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