Dizia o primeiro:
-Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.
O outro redarguiu:
-Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.
-Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.
-Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.
- Nem sempre é assim, nem sempre é assim...continuou a filosofar o primeiro.
Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.
-E agora?
-Agora é passar com a cara e a coragem!
O burro carregado de açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga ia se dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade por pé na margem oposta.
O burro carregado de esponja, fiel às suas ideias, pensou consigo:
- Se ele passou, passarei também - e lançou-se ao rio. Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.
-Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar! - comentou o outro.
Do livro: Fábulas - MOnteiro Lobato
0 comentários:
Postar um comentário