quarta-feira, 14 de agosto de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                            ANO LETIVO DE 1968



                    E conforme fora determinado, cada um de nós seguiu o seu caminho, ou seja, dando continuidade aos estudos nas sua respectiva cidade, comprometendo-se regressar à capital piauiense no ano seguinte, isto é, 1969. Neste caso, a situação seria diferente, pois já sabíamos previamente que iríamos estudar nos colégios da capital, pois o seminário iria funcionar no regime de semi-internato.
                   No meu caso, o colégio onde eu iria cursar a 4ª série ginasial era o mesmo onde eu havia estudado os dois primeiros anos do primário. A recordação da infância seria inevitável. E como tudo nesta vida tem a primeira vez, este ano eu iria estudar no período noturno. Neste caso não encontrei nenhuma dificuldade de adaptação, visto que estava na minha cidade natal, então todos os colegas eram conterrâneos e, portanto, conhecidos. E o professores idem.
                   Inegavelmente, assim como quando estudei no ginásio de Oeiras, sempre havia algum colega mais extrovertido e muito brincalhão que de vez em quando tentava fazer graça com alguma piada com relação a minha vocação e chegavam inclusive chamava algumas meninas para que elas me colocassem numa situação delicada, para não dizer, constrangedora, ou seja, como se me provocassem, testando o meu estilo celibatário e por aí vai. Mas, graças a Deus, eu conseguia me sair destas situações, pois tudo não passava de meras provocações. Se eu me irritasse, não resta dúvida, seria bem pior.Vale ressaltar que tudo isso só foi no começo do ano. Quando chegando ao segundo semestre o nosso convívio estava normal.
                   Ainda bem que logo no início do ano, o meu vigário padre Agostinho arrumou uma ocupação rendável para mim. Ou seja, nomeou-me como secretário da paróquia, responsável pelos lançamentos dos batizados, casamentos que fossem realizados nos livros da secretaria paroquial, além de outras pequenas atividades relacionadas à igreja local. Para mim foi ótimo, pois além de ocupar o meu tempo livre com uma boa e sadia atividade, no final do mês ainda ajudava um pouco aos meus pais, pois com este pequeno trabalho eu recebia uma ajuda de custo, não necessariamente um ótimo salário.
                  No início ele me alertou sobre possíveis aglomerações de algumas jovens, o que sem dúvida, além de atrapalhar o meu serviço, poderiam dar motivos para fofocas ou calúnias sobre o meu comportamento. Depois do expediente não teria nenhum problema. Eu tinha todo o direito de conversar na praça ou em outros lugares com quem eu desejasse. Não deveria me esquivar de participar das festividades em geral e me retrair sempre só porque eu continuava sendo um seminarista. O importante era saber se comportar. E costumava sempre citar um pensamento, que só mais tarde fiquei sabendo que era da autoria do escritor Hemingway: "Não é na terra que se fazem os marinheiros, porém no mar, encarando as tempestades".


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