sexta-feira, 2 de agosto de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                                 PRENÚNCIO DE UMA DESATIVAÇÃO


                   Faltando apenas um mês para o término do ano letivo de 1967 houve um encontro inesperado do clero arquidiocesano, contando inclusive com vigários de paróquias de outras dioceses. Este encontro realizado no seminário nos chamou muito a atenção e aguçou a nossa curiosidade. Pelos comentários que se ouvia nos corredores é que o assunto principal daquela reunião era o futuro sobre o funcionamento daquele seminário. Comentava-se que, devido a precária situação financeira da Igreja Católica no Piauí, com a queda assustadora nas coletas durante as missas, o nosso colégio estava com os dias contados, pois estava muito difícil mantê-lo funcionando normalmente com tantas despesas. Este fato aconteceu também com  o seminário de Oeiras. Portanto, pelo visto, a Arquidiocese de Teresina iria desativá-lo em duas etapas, ou seja, primeiro faria uma experiência no próximo ano - 1968 - liberando todos os seminaristas às suas respectivas paróquias para que cursassem o ano letivo juntamente com os jovens conterrâneos. Era como se isso fosse uma prova de fogo para testar a personalidade, o grau vocacional de cada um. Só que este tipo de "prova", nós, os seminaristas da Diocese de Oeiras já tínhamos sido submetidos em 1965, quando lá o seminário funcionário no regime semi-internato, ou seja, residindo no prédio do seminário, mas estudando num colégio da cidade juntamente com os demais jovens, o que para nós não houve nenhum problema de adaptação.
                   Portanto, depois do encontro eclesiástico, o arcebispo Dom Adelmar nos comunicou da aguardada decisão. Realmente o seminário, durante o ano de 1968 ficaria totalmente fechado e voltaria a abrir suas portas no ano seguinte, mas funcionando num regime semi-interno.
                 Naquela ocasião, lembro-me de que ninguém comentou abertamente, mas depois, pensando bem nos últimos acontecimentos, como por exemplo, a Polícia Federal e Estadual fazendo "visitas" inesperadas ao nosso colégio e inclusive prendendo até um padre por alguns dias para averiguação sobre possível envolvimento com movimentos contra o governo. E como o regime de ditadura que estávamos vivendo naquele tempo, qualquer comentário público sobre o presidente, era logo tachado de subversivo de preso, às vezes até espancado. Portanto, ficamos com a pulga atrás da orelha, mas tivemos que acatar aquela determinação sem abrir a boca pra nada. Que situação delicada aquela que vivemos.


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