sábado, 1 de agosto de 2009

DE LONGE, TODAS AS MONTANHAS SÃO AZUIS!

Coincidentemente, tão logo Baltazar ficara livre de um relacionamento amoroso que, por sinal, ameaçava a sua vida tranquila, começou a se envolver com outra moça. Logo no início, dava para perceber que, agora o assunto sexo não estava assim em primeiro plano, como no caso anterior cujo envolvimento só se restringia a esse tema.
Inicialmente, o rapaz percebeu logo que aquela jovem que acabara de conhecer em pleno horário de serviço no Hospital onde trabalhava, estava procurando, antes de mais nada, um namorado, um noivo, enfim, um futuro marido. Após a segunda vinda ao nosocômio ele percebeu tranquilamente que, após o convite para tomar um café na residência da jovem, a senha já fora fornecida para logo assumir um compromisso sentimental, isto é, um namoro. Imediatamente, anotou o endereço e no dia combinado lá foi o jovem em busca da concretização de mais um romance.
Fazia uma tarde linda de um domingo de setembro. Nesse mesmo dia, já no final da primeira visita, o namoro já ficou, praticamente, registrado. Durante a semana, com algum telefonema, cujo teor bem diferente daquele que costumava dialogar com a ex-amante, onde o assunto era outro bem diferente, Baltazar percebeu nas entrelinhas que a jovem Helenita tinha intenções sérias e sem querer ou não, sempre colocava o nome da mãe no meio da conversa, quando o assunto era família, casamento, noivado,namoro, etc.
Logo que eles começaram a sair, Baltazar, que de bobo não tinha nada, percebeu que a mãe da sua nova namorada fazia sempre questão que eles levassem a irmã mais nova, alegando que ela, coitada, não saía nunca, pois só tinha 16 anos. Como ele não pretendia mesmo fugir com ninguém nem levar logo de cara a namorada a um motel, não fazia nenhuma objeção.
À proporção que o tempo foi passando, de vez em quando ele ouvia algumas indiretas sempre da genitora da sua amada, quando falava que uma amiga da sua filha já marcara noivado, outra já ia se casar e assim, sucessivamente. Até que , certo dia, após quatro meses de namoro, ele abriu o jogo e deixou bem claro para aquela família que, sinceramente, no seu modo de pensar e agir, não tinha nenhum interesse em se casar tão cedo. Essa sua confissão sincera funcionou como um balde água gelada naquele relacionamento que parecia ir tão bem.
Por coincidência ou não, o certo é que quando o namoro dos dois estava por um fio, aconteceu um imprevisto: Baltazar perdeu o emprego no Hospital de maneira arbitrária, injusta e repentina. O motivo de tal demissão não vem ao caso,no momento. Só que antes que isso acontecesse, a família da jovem Helenita conseguiu tirar uma grande dúvida com relação ao emprego do jovem pretendente, deixando todos frustrados, inclusive o próprio, que se considerou vítima de um pré-julgamento precipitado e infundado.
Aconteceu o seguinte: a seção que o rapaz então trabalhava era denominada da seguinte maneira: SERVIÇO SOCIAL MÉDICO. E para confundir mais ainda o pensamento interesseiro e simplório daquela humilde família, o funcionário trabalhava com avental branco. E como estava sempre conversando com enfermeiros (as) e médicos (as) de todas as especialidades, talvez mãe e filha achavam, à priori, que o Baltazar fizesse parte de uma daquelas equipes. Quando na realidade, de medicina, ela não entendia patavina. Era simplesmente um mero e simples escriturário. Só que jamais falara ao contrário, visto que, o seu crachá estava sempre à vista, estampando a sua autêntica função. Elas é que não tiveram a curiosidade de tirar a dúvida in loco. Até que, certo dia, alegando uma curiosidade já prevista, alguém perguntou a função do rapaz, ao que ele relatou com todos os pormenores. No momento em que isso aconteceu, ele percebeu facilmente a frustração estampada nos semblantes de mãe e filha, respectivamente.
Nesse ínterim, o que aconteceu? Ele ficou sabendo que antes da jovem Helenita aceitá-lo como namorado, havia terminado um noivado de maneira súbita, deixando o ex-noivo inconsolável e sem nada entender tal mudança de comportamento daquela famíllia. Mesmo assim, como era muito amigo do futuro cunhado, o rapaz preterido continuou, amiúde, frequentar o bairro e adjacências, talvez na esperança de um dia reconquistá-la e quem sabe, casar-se com ela, o que sem dúvida parecia ser o seu objetivo. E foi então, que ocorreu um imprevisto. A família da jovem em questão, ao invés de jogar limpo e expor o fim daquele namoro ao jovem Baltazar, falando logo a verdade, preferiu que o rapaz percebesse que a sua “batata estava assando”. E foi justamente numa tarde de um domingo igual à primeira vez que ali esteve para consumar o início do namoro, que Baltazar levou um fora, um chute tão ignóbil quanto covarde por parte daquela família.
Logo que ele se aproximou da residência da então namorada, em São Miguel Paulista, percebeu facilmente que o irmão dela trabalhava na reforma de um portão na companhia de outro rapaz, o que para ele não queria dizer nada. Ao passar por ambos, cumprimentou-os educamente e entrou. Pelo semblante assustado da mãe da Helenita ele já constatou que algo de anormal estava acontecendo naquele ambiente. A resposta ao cumprimento de “Boa tarde” foi curta e grossa:
-Baltazar, hoje não é uma boa tarde para para você vir aqui...
Nem terminou a frase foi interrompida pela presença brusca do rapaz, que na realidade era o ex-noivo da sua filha que, a estas alturas já tinha até apalavrado o seu retorno ao convívio daquela família. O qual foi logo dizendo:
-Sinto muito, dona Maria, eu acho que fui usado nessa palhaçada, nesse jogo sentimental da sua filha. Afinal, qual dos dois aqui ela está namorando? Até quando ela vai querer namorar os dois ao mesmo tempo?
Pelo modo como se expressou e pela sua fisionomia séria, dava perceber que o dito cujo estava muito nervoso e com toda a razão. E continuava pedindo explicações para aquela situação à mãe da Helenita, a qual, por sua vez, covardemente, ouvia tudo do interior de um quarto contíguo. Deixou a “bomba” sob a (ir)responsabilidade da sua mãe, que foi logo tentando acalmar o então noivo ferido pela traição, pelha palhaçada.
Percebendo a sinuca de bico em que estava metido, Baltazar, acertadamente resolveu tirar o seu time de campo e com poucas palavras:
-Bem, vocês me desculpem, mas acho que o fantoche aqui sou eu. Infelizmente estou sobrando nessa jogada. Reconheço que fui usado e agora posso afirmar com toda a certeza: rapaz, pode ficar tranquilo, a Helenita é toda sua. Dá licença e boa tarde!
Quando Baltazar chegou ao portão, olhou disfarçadamente para trás em direção à janela do quarto da casa e percebeu a sua ex-namorada com os olhos lacrimosos, o que para ele isso não queria dizer nada mais. A falsidade estava estampada naquele semblante bonito, o que era profundamente lamentável! Se havia algum arrependimento por parte dela, agora já era tarde. Não adiantava mais chorar o leite derramado. A casa acabara de implodir. Quando se distanciava daquele local, Baltazar pensava com os seus botões:
-“A nossa vida é realmente repleta de mistérios...Algumas vezes somos ludibriados facilmente por outras pessoas com segundas intenções e quando menos se percebe, acaba-se passando por bobo, otário e outros adjetivos mais pejorativos...Mas, pensando bem, como já disse o poeta: “Se sofres injustiça, cala-te; a verdadeira desgraça é cometê-las!”
Após esse lamentável episódio, Baltazar procurou levar sua vida normal. Arrumou novo emprego e mesmo assim, após algum telefonema da sua ex-namorada, procurou esquecê-la, paulatinamente, assim como todas as vicissitudes que surgem na vida de qualquer pessoa. Pensando bem, esse final de namoro de maneira brusca e incongruente foi melhor assim do que se tivesse ocorrido uma tragédia passional premeditada naquela tarde de domingo no interior daquela residência naquele bairro da zona leste de São Paulo. Tudo isso só veio ratificar a veracidade do adágio do título dessa história: “DE LONGE, TODAS AS MONTANHAS SÃO AZUIS!”


João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net

0 comentários: