sábado, 29 de agosto de 2009

ANESTESIA DO AMOR

Começo como uma pergunta bastante banal: Quem nunca foi vítima de uma insuportável dor de dente, do tipo que obriga a pessoa a procurarar, incontinenti, um (a) dentista?!...Pois, pensando bem, quando um determinado dente desperta como um vulcão ou provocado, aleatoriamente, por algum objeto estranho, não tem analgésico que ameniza tal dor. A solução definitiva está numa visita inadiável ao dentista, exigindo uma extração imediata daquele famigerado dente.
Por falar nisso, foi o que aconteceu certa ocasião com o autor dessa crônica. A tal dor surgiu no exato momento de uma refeição. Pegou-me de surpresa tal qual a minha visita ao consultório da dentista da minha confiança. E, com todo o respeito, que jovem dentista!! Ela poderia concorrer a um concurso de miss que, na minha opinião, ganharia fácil. Dizer que ela é linda, é chover no molhado, isto é, não a enaltece em nada. Além da sua beleza física, em todos os detalhes, o que a enobrece mais ainda é a educação, a simplicidade a atenção que ela dispensa aos seus clientes. Pensei até que, chegando ao seu consultório, aquela terrível dor de dente passaria. Grande equívoco!...Ela é apenas uma mulher linda, mas não é santa para fazer algum milagre! Mesmo cônscio disso, um paciente obcecado pela sua formosura, poderia chegar ao cúmulo de autorizá-la a extrair o dente até sem anestesia se ela fosse conivente.
Exagero à parte, o certo é que, quando ela soube o motivo da minha presença ali, sem prévio aviso, sem pestanejar, foi bastante objetiva e sucinta:
-“Eu vou ser sincera com você: prefiro muito mais tratar dos dentes dos meus clientes a extraí-los!”
-Concordo, doutora e respeito a sua opinião. Só que hoje só saio daqui sem esse dente que está me tirando do sério...
-“Calma, que eu e meu noivo vamos resolver isso...
-Seu noivo? Não estou entendendo!
-“Não se preocupe, ele também é cirurgião-dentista.
- Tudo bem, seja o que Deus quiser!
- Um momentinho que eu vou ligar pra ele. Vou pedir que ele venha até aqui. O seu concultório não fica muito longe. Pode ficar tranquilo.

Após um prenúncio de namoro por telefone, eis que ela volta, dizendo-me:
-“Olha, já está tudo combinado. Enquanto o aguardamos, aplicarei logo a anestesia para adiantar o serviço dele, Ok?
- Tudo bem, doutora.
E foi o que ela fez. Vale ressaltar que, como eu era o útlimo cliente, pois já passava do seu horário de atendimento, nesse ínterim, após aplicar com toda a delicadeza a anestesia, ela voltou ao telefone. Enquanto isso, sentia que aquele dente já não mais doía e já estava no ponto para ser extraído. Mas, o tempo foi passando e eu ali, naquela cadeira reclinada, cujo silêncio do ambiente me convidava até para uma soneca. Enquanto isso, a linda doutora, na sala contígua, namorando como se fosse uma adolescente. Que maravilha! Mas, como muito bem registrou a cantora Simone e também o Ivan Lins: “Desesperar, jamais!” E foi o que tentei fazer. Fiquei na minha. Aguardei o seu noivo que deveria está enfrentando algum trânsito caótico, pois era um horário de pico: 18.30 hs. Tudo bem, como reza o provérbio: “quem está na chuva é para se molhar!”. Portanto, só me restava mesmo aguardar.
Finalmente ele chegou. Cumprimentou-me, rapidamente e logo foi se aconchegar nos braços da linda amada, com toda a razão. Quem não faria o mesmo?! Após 10 minutos de algumas preliminares, eles se lembraram que havia um paciente (a estas alturas, já impaciente) na sala ao lado, aguardando ser atendido. Eis que os dois apareceram e começaram o tratamento. Só que, pelo visto, o efeito da anestesia já estava no fim. O que fizeram? Trocaram algumas ideias em particular e ela voltou sozinha, dizendo-me:
-“Olha, ainda há tempo para mudar de ideia. Se quiser, posso tratar esse dente ...Caso contrário, vou ter que aplicar mais uma anestesia e terá que aguardar mais 15 minutos!”
-Aguardo até mais. Não tem problema. Pode aplicar. Eu espero, doutora.
E foi o que ela fez. Logo em seguida voltou aos braços do amado numa salinha estratégica que ficava ao lado. O namoro recomeçou. Tudo indica que deram continuidade algo que havia interrompido há poucos minutos. Logo depois, o jovem doutor voltou sozinho e após muito sufoco, pois o dente lhe deu muito trabalho, extraiu-o. Fez as recomendações necessárias, em seguida deixei o consultório bastante aliviado. Agora pergunto: só eu? E aquele simpático casal de dentistas? Será que não mataram dois coelhos com uma cajadada só? Mas, pensando bem, não tenho nada a ver com isso! Se é que houve “isso” que você também imaginou!
Acredite se quiser, foi um fato verídico que aconteceu comigo e para preservar a privacidade dos dois profissionais, omiti seus nomes, inclusive o endereço do seu motelzinho, quero dizer, do seu consultório particular! Com votos que eles continuem tendo muito sucesso na vida profissional e amorosa, dedico essa como forma de gratidão por que não?


João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net

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