sexta-feira, 4 de março de 2011

DISCRIMINAÇÃO EM DOSE DUPLA

Alguém poderia entender ou explicar essas duas situações similares quanto um caso discriminatório? Como esse estigma já está enraigado no ser humano e, consequentemente, faz parte de um longo processo inexpugnável, resta a cada vítima procurar seus direitos ou se calar, alimentando-o cada vez que isso ocorrer.
No primeiro caso, o rapaz desempregado em questão, apesar de ter recebido uma indicação não tanto influente, submeteu-se aos diversos testes normais de seleção, como por exemplo, conhecimentos gerais, digitação, exame médico, etc. Foi aprovado em todas as etapas. Nenhum empecilho surgiu durante esse processo. O mesmo candidato pareceu entusiasmado, principalmente quando entregou a carteira profissional ao RH (Recursos Humanos). Só faltava uma última entrevista com o seu supervisor e, simultaneamente, conhecer o local de trabalho.
Vale ressaltar que, neste ínterim, para aumentar a sua breve frustração, recebeu o convite de um vizinho que trabalhava como encarregado numa outra empresa. Quer dizer, já era meio caminho andado. Mas como ele só faltava assinar o contrato de trabalho, agradeceu aquela oportunidade áurea e seguiu em frente. Resultado: quebrou a cara à sua total revelia.
Ao se apresentar ao seu futuro chefe, percebeu, incontinenti, um grave erro de avaliação por parte deste superior. Com olhos de holofotes de quadra ou campo de futebol, isto é, analisando o candidato com ares petulantes e superiores, de cima para baixo, não teve nem a gentileza de entrevistar o humilde candidato sentados à sua mesa. Trocou algumas palavras de maneira lacônica ali mesmo na sala de espera e o que foi pior e mais ridículo: ambos de pé. Ainda teve o desplante de nem receber o envelope que lho foi entregue. Com a sua fria determinação, o rapaz retornou ao local onde foi feita a seleção. Após mais de uma hora de espera, a mesma funcionária que o entrevistou no primeiro dia comunicou-lhe de maneira obscura que aquelas vagas tinham sido suspensas por ordens provenientes de Brasilia. Resultado: ele ia brigar? Xingar? Bater naquela funcionária? Nada disto. Regressou ao seu lar mais frustrado do que nunca. Como ele não tinha tez branca e muito menos porte físico de nenhum galã, resignou-se e foi à luta em busca de outro.
Desta vez, logo de cara, ao adentrar naquela agência de emprego,a funcionária ao analisá-lo superficialmente pela cor ou porte físico, apresentação, etc foi tão chata quanto taxativa:
-"Sinto muito, mas aqui não costumamos dar duas chances ao mesmo candidato!"
O rapaz em questão pediu para repetir aquela frase pois ele não havia entendido. Foi pego de surpresa.
-"É o seguinte: você já esteve aqui e sua ficha não foi aproveitada naquela ocasião..."
-Alto lá, jovem - argumentou aquele candidato sendo agora discriminado mais uma vez - pra seu governo: posso lhe garantir que eu nunca estive aqui nesta pocilga e gostaria que você me provasse ao contrário!
Como neste momento chegava mais um candidato e para não tumultuar mais aquele ambiente discriminatório, como aquele rapaz não gostava de nenhum tipo de discussão, só colocou um ponto final, dizendo:
- Você sabe que eu posso muito bem processar isto aqui, correto? Portanto, aguarde-me.
Mas aquilo ficou só na ameaça. Afinal ele não tinha nenhuma prova a seu favor e o que precisava mesmo, imediatamente, era arrumar um emprego, apesar dos pesares.

"Se sofres injustiça, cala-te; a verdadeira desgraça é cometê-las"

João Bosco de Andrade Araújo

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