quarta-feira, 23 de maio de 2012

REMINISCÊNCIAS INFANTIS

                         Qualquer pessoa sabe que, a coisa mais difícil é um doce, quer seja caseiro ou industrializado fazer mal a uma criança. Menciono criança porque quando o assunto é essa iguaria logo se lembra desta fase da vida. A criança pode até não gostar de uma ou outra comida, mas dizer que não aprecia doce é quase impossível e incoerente. Quanto o adulto, tudo bem, talvez por algum problema de hiipocondria, achando que qualquer coisa possa lhe fazer mal, o que nestes casos, configuram uma exceção. Mas, voltando ao doce, ele é sem dúvida uma das iguarias mais vendidas no mundo inteiro e consumida por criança, adultos de todas as raças e credos.
                         Então, sem querer fazer nenhuma apologia especial sobre este produto delicioso, o mesmo objetivo aqui é citar um caso que aconteceu comigo, quando tinha apenas sete anos, aproximadamente. Fato este que me marcou muito, prova é, que nunca o esqueci, pois naquela ocasião fiquei bastante frustrado, apesar de não saber o que fosse isso, inclusive chorei bastante e principalmente depois que apanhei da minha mãe, após falar mal daquela senhora que fez aquilo comigo. Explico: A minha mãe foi tratar de um assunto doméstico com uma senhora doceira, ou seja, aquela pessoa que sempre preparava um doce especial para vender pelas rua pacatas da cidade em que morávamos. Ela era bastante conhecida por seu temperamento forte e por isso mesmo, considerada ranzinza, mesquinha, rabugenta etc.Mesmo assim, lá estava eu, repito, na companhia da minha mãe e chegamos bem na hora em que aquela senhora dava os último toques nos seus docinhos caseiros, conhecidos naquela região como "alfinim". Longe de saber o porquê desse nome tão estranho, mas o tal docinho era por demais apetitoso, gostoso. Aconteceu que, em meio a conversa, aquela doceira percebendo os meus olhos espiões, não pensou duas vezes. Pegou um daqueles doces e e me entregou, dizendo:
                 
                      -"Tome, garoto, come e bebe água para matar as lombrigas!"

                     Aquilo para mim foi mais que um insulto, foi uma intimação. O que teve a concordância da minha genitora ali presente. Só que, movido talvez por uma vergonha incontida, ao pegá-lo, comecei a lambê-lo,ao invés de morder um pedaço e engolir imediatamente, o que seria o certo. Não sei o que se passou pela cabeça daquela senhora, com a mesma rapidez que me deu aquele doce, ao perceber a maneira lenta como eu o deliciava, tomou-o das minhas mãos, dizendo:

                     -"Não quer comer não? Então me dá aqui de volta! Parece que está com nojo, garoto!"

                       O meu choro foi incontinenti e ao sair daquela sala, murmurei algum impropério infantil que me veio à cabeça, o que foi ouvido e entendido pela minha mãe, pois quando chegamos à nossa casa, uma meia dúzia de palmatória, aquele temido castigo que doía muito mais do que uma surra. Pois neste último caso, de alguma maneira, a gente conseguiu se esquivar, tentando fugir das "lapadas", batidas com o cinto ou chinelo, enquanto com aquele objeto redondo e de madeira, ficava muito mais difícil.
                        

                                                  Joboscan de Araújo

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