sexta-feira, 3 de maio de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                               OS PRIMEIROS DIAS NO SEMINÁRIO DE TERESINA

                                                                         1966


                             Os primeiros dias em todo ambiente estudantil diferente, geralmente o recém-chegado fica acanhado, desconfiado, mesmo não sendo tímido. Portanto, fica sempre na dele, como se costuma dizer. Para ele, tudo é novidade, aprendizagem. Entre os novos colegas surge logo o fator simpatia x antipatia. À proporção que o tempo for passando, ficará sabendo quem pode ser amigo e confiável. Por falara em comunidade, costuma-se dizer ou pensar que fofoca é algo próprio do universo feminino. Certo? Errado. Pois num colégio como o nosso, composto só de rapazes, o disse-me-disse, o mexerico também fazia parto do dia a dia, infelizmente. Inicialmente, na hora de algumas escalações para exercer algumas funções dentro do seminário, uma nítida disparidade de preferências, para não dizer injustiça, o que sentíamos no ar que nós, da Diocese de Oeiraas, amiúde, estávamos sendo sempre preteridos. E ficávamos como o óleo na água. Era notória a ausência de homogeneidade. Neste ponto, o padre que nos admoestara sobre este tipo de conduta, de comportamento estava perfeitamente correto quanto as suas orientações.

                       As aulas começaram pra valer. Percebi logo que os professores dali eram bem mais exigentes e preparados. Nada de falta de ambas as partes: docente e discente. E chegar numa sala de aula atrasado era praticamente inadmissível, imperdoável. A disciplina era seguida à risca. Nada de insubordinação, celeuma então, nem pensar. A concentração era total, como se fosse um culto religioso.

                                                   PRIMEIRO DIA DE FOLGA


                        No primeiro domingo de folga aproveitamos para assistir a um espetáculo circense. A nossa pequena turma era formada de cinco seminaristas. Todos da nossa Diocese. O circo estava montado do outro lado da cidade. O espetáculo estava tão empolgante que só saimos no final, esquecendo até a hora de nos apresentar no seminário: 22 horas. Como ônibus neste horário era mais difícil, resolvemos voltar a pé. E andávamos bem rápido, quase correndo, o que gerou algum contratempo, como por exemplo, quando passávamos pela calçada de um quartel, um dos sentinelas saiu da guarita e de arma em punho nos ameaçou, chamando-nos de vagabundos e mandando correr mesmo se não quiséssemos levar chumbo. E foi o que fizemos. E nesta correria, quando já estávamos chegando próximo do seminário, eis que pisei num buraco da tubulação do sistema de esgotos e fiquei com uma das pernas presas. Os colegas, mesmo vendo a minha situação, não voltaram para me ajudar. Neste acidente rasgou a minha calça na altura do joelho, o qual ficou ferido. Quando chegamos, o portão da frente já estava fechado. Tivemos que pular o portão de ferro alto igual ao de um presídio, correndo dois riscos simultâneos:
                        a)  Machucar nas lanças pontiagudas ou
                        b) ser flagrado pela polícia, sendo confundidos com ladrões.

                       Ainda bem que nada disto aconteceu. Só que no dia seguinte já recebemos a primeira advertência do reitor, pois o que não sabíamos era que na hora de recolher e fechar o portão era feita uma chamada geral para confirmar a presença de todos. E neste dia a nossa ausência foi flagrada como ato de insubordinação, o que foi um prato cheio para os outros seminaristas da Arquidiocese de Teresina, parecendo vibrar com isto.


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