sábado, 25 de maio de 2013

APOSTASIA INVOLUNTÁRIA

                                          SEGUNDO SEMESTRE D      1966

           Com a aproximação do feriado de 7 de Setembro, como não participávamos diretamente no desfile, assim como os outros colégios, foi programado um passeio à cidade litorânea de Parnaíba, mais precisamente à praia de Luis Correia, bastante conhecida por suas areias branquíssimas.
          A viagem de ida foi realizada de trem. Para a maioria de nós, uma grande e encantadora novidade. A estação ferroviária,por sinal, ficava bem perto do seminário. A viagem foi tranquila, mas demorou mais do que o normal, devido alguns problemas técnicos. Mesmo assim desfrutamos o máximo sempre apreciando as bonitas paisagens e pequenas cidades por onde passamos. A chegada à Parnaíba aconteceu no começo da noite daquele sábado. Coincidentemente a estação estava lotada de jovens torcedores  que aguardavam a chegada de um time de futebol da capital piauiense que ira jogar em Parnaíba. Como descemos em grupo, cada um com a sua mochila e mais alguém carregando uma bola, isto chamou a atenção dos torcedores locais que nos confundiram com os atletas do Ríver da capital. Quando perceberam que não éramos o que eles aguardavam, ensaiaram uma vaia, inclusive com algumas chacotas e pilhérias. Mas aí já era tarde, o ônibus que nos aguardava logo partiu rumo à Luis Correia, deixando-os frustrados duplamente.
             Ficamos hospedados num casarão muito bem conservado. O barulho das ondas do mar era assustador, principalmente para quem não o conhecia, como eu, por exemplo. Dava uma nítida impressão que a qualquer momento uma enxurrada invadiria o local onde estávamos hospedados.
             Antes do banho de mar, como não poderia deixar de ser, cumprimos com o nosso preceito dominical, assistindo à Santa Missa numa capela próxima, em seguida, após o café da manhã, o nosso reitor reiterou a admoestação feita sobre o nosso comportamento:
                  -"Aqui não tem nenhuma criança. Apesar do nosso ideal, da nossa vocação não nos permitir envolvimento sentimental, amoroso com o sexo oposto, não quer dizer que devemos fugir das mulheres como se elas fosse uma doença contagiosa, algo maléfico. Não é nada disso. Podemos sim conversar com qualquer uma garota, educamente, sem se envolver.Hoje, mais do que nucna, ao tomarem conhecimento da presença de vários seminaristas, sem dúvida, farão de tudo para provocá-las. Mas isto faz parte do comportamento feminino. Podem agora se dispersar, brincar à vontade e nada de grupinhos isolados, só observando o movimento. Pelo que sabemos, aqui não tem nenhum deficiente físico e mesmo que tivesse estaria também liberado para demonstrar o seu lado social. E um último aviso muito importante: muito cuidado com o mar. Sei que a maioria aqui não o conhecia ainda. Portanto, é muito bom ir devagar. Todo o cuidade é pouco. O mar é traiçoeiro e perigoso, mas só faz vítima se esta for imprudente com ele. Boa diversão e até mais tarde na hora do lanche."

                     Por fim chegou a hora de regressarmos ao seminário. Desta vez voltammos de ônibus. Como estávamos cansados de tanta diversão, a maioria voltou dormindo. E graças a Deus não houve nenhum contratempo nem na ida e muito menos na volta. Valeu!


                                           Próxima postagem: Ano de 1967
                     

0 comentários: