quarta-feira, 25 de setembro de 2013

O FERRREIRO

              Era uma vez um ferreiro que, após uma juventude cheia de excessos, converteu-se a Deus.Durante muitos anos trabalhou com afinidade, praticou a caridade, mas apesar de toda sua dedicação nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e dúvidas se acumulavam cada vez mais.
              Uma bela tarde, um amigo que o visitara - e compadecendo de sua situação difícil, comentou:
               -É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem de Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraqueceu sua fé, mas apesar de toda a sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.
                O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Até que encontrou a resposta. Eis o que disse o ferreiro:
                 -Pensando bem, eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas. Você sabe como isto é feito? Primeiro eu aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo em seguida, ela é mergulhada num balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo a té conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é suficiente. O ferreiro fez uma longa pausa, acendeu um cigarro e continuou:
               -Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você viu na entrada de minha oficina.
                Mais uma pausa e o ferreiro concluiu: Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceitado as marteladas que a vida me deu, e às vezes sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é: "Meu Deus, não desista, até que eu consiga tornar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, e pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro-velho das almas".

                                            Domínio Público
               

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