A VIZINHA E O MOTEL

Ela é uma mulher esforçada, disposta e otimista. No afã de ajudar ao marido desempregado, o qual aguarda a aposentadoria, nas despesas da sua casa, após tentar vários empregos, não encontrou outro meio senão ir a um motel todo o fim de semana. Ela tinhatoda a aprovação do marido. Permanece lá, num ambiente repleto de sussuros e gemidos, a noite toda. Quando chega de manhã, reclama um pouco do cansaço e logo vai dormir, após um saudável banho. Neste ínterim, os dois ficam sem nenhum clima para qualquer momento íntimo. Afinal, tem a semana inteira para isso. E assim, ela vai ganhando algum dinheiro para ajudar a pagar as contas que não param de chegar.
Certa ocasião, o seu cônjuge estava conversando com amigos, inclusive o autor desta crônica, quando ela passou por nós, toda arrumada, perfumada e simplesmente falou:
-“Já vou. Amanhã cedo trago pão e leite!”.
-“Beleza!” – respondeu o meu vizinho, laconicamente.
Outro colega, muito curioso, por sinal, não deixou passar em branco e falou:
-“Ué, essa eu não entendi, sinceramente!”.
- “Mas, eu entendo, vizinho!”.
- “Desculpe-me a curiosidade, aonde ela vai a uma hora dessa e falando que só volta amanhã?”.
-“Ela está indo a um motel, colega!” – respondeu o marido, calmamente.
-“Assim? Sozinha? Agora é que não entendi patavina!”
-“Olha, cada um sabe onde o sapato lhe aperta!” – continuou.
-“É verdade, amigo, todo mundo tem seus problemas e suas necessidades. Agora se é o que estou pensando, você vai me desculpar, mas eu acho o cúmulo você permitir e aceitar tranquilamente que sua esposa escolheu esse meio para ganhar algum dinheiro!...”
-“E o que mais você julga que estamos fazendo de errado?”.
-“Eu? Quem sou eu, rapaz? Apenas acho que ela poderia encontrar uma atividade mais decente. Afinal, uma mulher casada indo a um motel é muito estranho, esquisito, eu acho!”.
-“Desculpe-me, mas é que a sua mentalidade doentia, maliciosa é tão mesquinha, pois acha que num local assim só vai quem está com intenções de trair alguém, não é verdade?”.
-“Bem, se vai trair ou não isso é muito relativo. E você é quem estar falando sobre esse assunto. Só tenho certeza que o motel é um local estritamente destinado para encontros íntimos, só isso”.
-“E depois desses inúmeros encontros íntimos que se passam pela sua mente suja, estreita, será que num motel não há um pessoal responsável pela limpeza e arrumação do ambiente em geral?”.
-“Lógico que é preciso ter camareira, arrumadeira, pessoal da limpeza, isso é claro”.
-“Pois é, rapaz, essa é a função da minha esposa que acabou de passar. Ela nada mais é do que uma simples camareira terceirizada e, portanto, só a chamam para trabalhar no final de semana. Você entendeu agora porque se diz: “De longe, todas as montanha são azuis?”.
-“Perdão, vizinho, estou simplesmente envergonhado por essa gafe que cometi.
- “Sinto muito, isso para mim já não chega a ser gafe e sim, calúnia. E perdão para esse tipo de atitude você tem que pedir a Deus.

João Bosco de Andrade Araújo