domingo, 15 de março de 2009

O NOVO CONCEITO DE FIDELIDADE

Se você traísse seu cônjuge, admitiria isso a um pesquisador? Eis um dos maiores desafios no estudo científico do casamento, que ajuda a explicar por que pesquisas diferentes obtêm estimativas tão díspares sobre a infidelidade nos EUA.
Pesquisas realizadas pessoalmente tendem a subestimar a incidência real do adultério, pois as pessoas relutam em admitir tal comportamento, e não só ao cônjuge. Pesquisadores da Universidade do Colorado avaliaram 4.884 mulheres casadas, usando entrevistas pessoais e questionários por computador. Nas entrevistas, só 1% das mulheres admitira ter traído seus maridos nos 12 meses anteriores. Pelo computador, 6% admitiram.
Por outro lado, especialistas dizem pesquisas publicadas em revistas femininas, por exemplo, tendem a superestimar o índice de adultério, por causa da distorção da amostra, pois quando as entrevistas são voluntárias, há a tendência de que as infiéis se manifestam mais. Mas novos estudos sugerem mudanças surpreendentes no cenário conjugal. a infidelidade parece estar em alta, principalmente entre homens mais velhos e jovens casais. As mulheres estão superando uma disparidade: as mais jovens já traem quase tanto quanto os homens.
Os dados mais consistentes sobre a infidelidade vêm da Pesquisa Social Geral patrocinada pela Fundação Nacional de Ciências e coordenada pela Universidade de Chicago, que desde 1972 emprega uma amostra nacional de representativa para monitorar opiniões e comportamentos. Os dados mostram que cerca de 10% das pessoas casadas dizem ter mantidos relações sexuais extraconjugais no ano anterior.
Há varias teorias para o aumento da infidelidade. Para os mais velhos, surgiram novas drogas e tratamentos que estimulam a vida sexual e, às vezes, a traição. Aí estão o Viagra e outros medicamentos contra a disfunção erétil; os suplementos de estrogênio e testosterona para manter a saúde vaginal e a libido da mulher; e até avanços em próteses de quadril. Entre casais jovens, a crescente disponibilidade da pornografia pela internet, que afeta as atitudes sexuais e a noção sobre o que é um comportamento “normal”, pode estar vinculada ao aumento da infidelidade.
“Será que os homens estão se vangloriando [da traição], e as mulheres estão mentindo para todo mundo, inclusive si mesmas?”, questiona Helen Fischer, professora de antropologia da Universidade Rutgers (Nova Jersey). “Os homens querem pensar que as mulheres não traem, e as mulheres querem que os homens pensem que elas não traem, e assim os sexos fazem um joguinho psicológico”.
Fisher lembra que a infidelidade existe em todas as culturas, e nas sociedades caçadoras e coletoras não há sinal de que a mulher seja menos adúltera que o homem. A disparidade na fidelidade pode ser mais explicada por pressões culturais do que por diferenças reais na libido. Homens com múltiplas parceiras são habitualmente considerados viris, enquanto as mulheres são consideradas promíscuas. E, historicamente, as mulheres estiveram isoladas no campo em casa, com filhos, o que lhes dava poucas oportunidades de trair.
Hoje, porém, mulheres casadas podem ficar até tarde no escritório ou viajar a trabalho. E mesmo as que ficam em casa têm celulares e e-mail para desenvolver relacionamentos mais íntimos, segundo terapeutas do casamento. Todo mundo fala ao celular, e a relação evolui porque você se torna cada vez mais distante daquele para quem você mente, e cada m=vez mais próximo daquele quem diz a verdade.

TARA PARKER-POPE



(Fonte: The New York Times) [Folha de São Paulo]

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