sexta-feira, 29 de julho de 2011

TIRANDO DÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

CERZIR -


Os médicos sabem muito bem quanto lhe custa dominar a terminologia específica, que, fascinante, esconde verdadeiros tesouros liguísticos, antropológcios e históricos. Um desses tesouros é este: o verbo "cerzir" vem do latim "sarcire" ("coser, remendar tecidos"). De "sarcire" vem "sartor", "sartoris" ("o que conserta", "o que remenda"). Em italiano (língua neolatina, como a nossa), "sarto" corresponde a "alfaiate", que, por sinal, é palavra árabe. Moral da história: o "sarto" (alfaiate, costureiro) apoia na coxa o tecido que cose ou remenda. Pois é justamente na coxa que fica o músculo "sartório" (ou "costureiro").


CHAMAR


"Como você se chama?" Quem pergunta deve colocar o "se", assim como quem responde deve colocar o "me" ("Eu me chamo Pedro"). Na língua oral, mais econômica, é inegável a tendência de suprimir partículas, e o "se" e o "me" são algumas delas. Certamente é essa a razão de , na linguagem do dia a dia, serem comuns formas como "Como você chama, menino?". Ao pé da letra, quando se pergunta "Como você chama?", pergunta-se como a pessoa executa o ato de chamar (com plavras, com a buzina do carro, com uma trombeta etc).


CHEGAR


O particípio de "chegar" é "chegado". "Chego" é a primeira pessoa do singular do presente do indicativo. A forma correta, portanto, é "O padre ainda não tinha chegado quando começaram os festejos". Parece desnecessário dizer que a forma "tinha chego" não é correta. É importante lembrar outros verbos que têm apenas uma forma de particípio: "abrir" ("aberto"), "trazer" ("trazido"), "cobrir" ("coberto"), "escrever" ("escrito"), "descobrir" ("descoberto", "fazer" ("feito") etc.


CHEQUE


O Tesouro Nacional cuida do dinheiro público, das rendas do Estado. Tesouro lembra dinheiro, e dinheiro lembra banco, cheque etc. Pois bem, certamente voê já ouviu alguém dizer algo como "O fato coloca em xeque (ou cheque?) todo o sistema" O problema não é dizer uma frase como essa; é escrever. A expressão correta é "colocar em xeque", com "x". A palavra "xeque" vem do árabe e significa "rei". No jogo de xadrez, quando o rei é atacado, diz-se que ele está em xeque (com "x"). Também vem do xadrez a expressão "xeque-mate (igualmente de origem árabe, significa "o rei está morto"), com a qual se designa um ataque ao rei. As palavras "xeque" e "xeque-mate" são muito usadas com sentido figurado. Quando se diz que um sistema - o da saúde, por exemplo - está em xeque, diz-se que sua reputação está sob suspeita. Não se confunda, pois, "xeque" com "cheque", documento bancário que dispensa explicações.



CIDADE



"Do Refice" oiu "de Recife"? Em português, os nomes de cidades geralmente são usados sem artigo. Não dizemos que alguém mora "na Sorocaba", por exemplo. Dizemos que allguém nasceu "em Sorocaba". Há (poucas) exceções, no entanto. Uma delas é "Rio de Janeiro", que se usa com o artigo masculino ("Ela mora no Rio de Janeiro") O caso de Recife é interessante, já que o artigo é optativo. Os naturais da capital de Pernambuco costumam usar "Recife", com o artigo masculino ("Moro no Recife"), mas em muitas partes do Brasil se registra o uso dessa capital sem o artigo ("A população de Recife enfrentou a falta de água durante um bom tempo", escreveu um jornal de São Paulo). Qual a forma correta? Ambas. Qualquer das formas tem suas justificativas e registros.


Comentários do Professor Pasquale Cipro Neto

Dicionário da Língua Portuguesa


Editor Gold Ltda

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