sábado, 3 de setembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA -

PRIMEIRA INTERNAÇÃO


Chegamos ao Hospital Modelo, situado no bairro da Zona Sul de São Paulo, às 15 horas, aproximadamente. Fiquei numa sala do Pronto Socorro, aguardando o primeiro atendimento, enquanto a minha esposa providenciava os papéis de internação. Como estava consciente de tudo ao meu redor, apesar da minha fraqueza, a minha primeira impressão não foi das melhores. Achei o atendimento muito bagunçado com informações desencontradas e incompletas. Parecia que alguns funcionários não eram bem treinados ou então não tinham mesmo muita paciência e educação para com o público que ali precisava de atendimento médico o mais rápido possível. Afinal, o local se chamava Pronto Socorro ou tinha outra denominação? O nome Modelo, que aquele hospitava ostentava parecia que só era na teoria e nos papéis! Pelo menos, naquele setor, naquele dia e naquela hora. Pode ser que nas enfermarias ou UTI tudo era diferente e melhor, isso eu não sei.
De imediato, logo me aplicaram um soro e em seguida uma transfusão de sangue. Mas, demorou muito, houve um pequeno contratempo entre um enfermeiro nervoso, grosseiro e eu, que também demonstrava nervosismo e, acima de tudo, impaciência. Imagina a situação: por problemas da anemia crônica eu já não conseguia ficar deitado sem um apoio alto na cabeceira do leito, pois caso contrário me dava tontura, faltava-me ar. Então o que fiz? Para não morrer ali conscientemente, tentei me sentar. Eu disse tentei. Porque o tal funcionário quando entrou de repente naquele local, foi em minha direção como se fosse me atacar ou como se eu fosse um objeto, um móvel qualquer e como um animal tentou por as mãos no meu tórax franzino e debilitado, forçando-me a permanecer deitado e reclamando alto como se eu fosse uma criança surda e desobediente. Coitado! Estava se envolvendo com o paciente errado. Pois, logo eu que detesto pessoa autoritária e ignorante! Eis as suas palavras:
-"Mas o que é isto? Quem deu ordem para ficar sentado assim sentado? Não pode não senhor! É pra ficar deitado e quietinho, está entendendo?"
Aquilo me irritou e ofendeu tanto que, só esperei o dito cujo fechar a matraca e olhando bem para a sua fuça, falei o mais alto que consegui:
-Tire as mãos sobre mim! Se eu estou sentado é porque não consigo ficar deitado.
Parece até que eu tinha falado grego ou outra língua estrangeira. O tal funcionário tentou novamente fazer com que eu me deitasse ao que eu resisti com mais veemência, chegando até ofendê-lo com alguma palavra que não fazia parte do meu dicionário até então. Neste momento entrou uma médica, que parecia ser a responsável por aquele setor:
- Posso saber o que está acontecendo aqui?
- "Este paciente insiste em querer ficar sentado, quando na realidade...
-
Quando na realidade, rapaz - interrompi bruscamente - você não sabe trabalhar com pessoas, ou seja, não tem o mínimo de educação.
-Calma, falou tomou a palavra a médica, bem mais ponderada e atenciosa, posso saber por que o senhor não quer ficar deitado?
- Não é querer, doutora, é poder. É o seguinte: se eu me deitar eu fico sem fôlego e tonto, está entendendo?
- O senhor então promete ficar assim sentado sem fazer movimento nenhum, principalmente com os braços?
- Não só prometo como garanto à senhora que nesta posição eu consigo permanecer o tempo que for necessário.
Por coincidência ou não, se era hora do antipático enfermeiro trocar o plantão, o certo é que ela falou que ele poderia sair, pelo menos foi o que entendi. Ainda bem.
Então, fiquei ali praticamente estático só alhando aquelas gotas de sangue caindo lentamente daquela bolsa e sendo injetada no meu organismo. Enquanto isso, poderia observar o atendimento aos demais pacientes que estavam ali no mesmo local. Cada um com os seus respectivos problemas. Como eles costumam dizer: cada caso é um caso.
O tempo foi passando e a minha paciência ia se esgotando. Uma bolsa de sangue já tomara e ninguém ali tomava nenhuma providência para alguma transferência para uma enfermaria. Enquanto isso, a minha esposa que de vez em quando entrava ali para saber como eu estava, também já estava bastante impaciente com aquela falta de decisão ou providência. De vez em quando, aparecia alguma funcionária para fazer perguntas sobre o convênio ou a empresa que eu trabalhava e depois sumia e nada de dar uma resposta satisfatória e objetiva. Estávamos ali, como se costuma dizer, ao deus dará. Passamos a desconfiar que estava acontecendo alguma coisa errada na burocracia daquele hospital que de modelo não tinha nada. Pois ninguém ali nos sabia informar como se fomos levados ali com uma vaga de internação garantida e agora acontecia aquela lenga-lenga ou como se costuma dizer no nordeste, aquele "chove não molha". A minha esposa então resolveu exigir uma melhor definição para o meu caso, pois já estávam ali há mais de oito horas.
Conversa vai, conversa vem, eis que uma enfermeira veio com uma resposta definitiva, que a princípio a minha esposa achou mais convincente. Foi o seguinte: mesmo não chegando a ser internado naquele hospital, chegaram a conclusão que seria melhor eu ser transferido e internado em outro, localizado na Zona Leste, portanto, bem mais perto da minha residência. Era só aguardar a ambulância, o que aconteceu por volta das 23 horas.

(A seguir: o segundo hospital e a real primeira internação.





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