segunda-feira, 19 de setembro de 2011

TIRANDO DÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA

CORRER


Certa vez Tostão fez deliciosa "análise crítica de cllichês de futebol". Um deles ("Vamos correr atrás do prejuízo") recebeu a seguinte observação: "Se o time está perdendo, tem de correr atrás do lucro". Já vi muita gente boa defendendo a legitimidade dessa construção ("correr atrás do prejuízo"), com o argumento de que o uso lhe dá razão. O estrnho é que ninguém diz que corre atrás do fracasso, do insucesso, da tristeza. O que se diz é que o time corre atrás da medalha, da vitória, da classificação. Por que diabos, então, correr atrás do prejuízo?


CORRIMÃO


Um leitor afirmou que dia desses, na coluna Cartas do Leitores, um jornal publicou nota cujo título era "Corrimões". Queria saber se o jornal acertara. Sim, esse plural é correto, apesar dd parecer errado. A palavra "corrimão" resulta de "correr + mão". O plural é duplo: pode ser "corrimões" ou "corrimãos".


CRASE


Não ocorre crase diante de palavras que não podem ser precedidas de artigo feminino. Por isso não ocorre crase antes de substantivos masculinos, de verbos e da maioria dos pronomes. Veja alguns casos com pronome: "Mostre o livro a ela", "Disse a mim o que o sabia", "Isso não interessa a ninguém", "Falou a todos os presentes", "Referiu-se a qualquer pessoa". É preciso ter cuidado também com palavras femininas no plural precedidas de "a", como em "O prêmio só foi concedido a cantoras brasileiras". Nesse caso, o "a" é mera preposição, e o substantivo está sendo usado em sentido genérico, portanto sem o artigo. Se o substantivo estivesse determinado, teríamos a presença do artigo "as", no plural. "O prêmio só foi concedido às cantoras brasileiras". Nesse caso, ocorreria crase.


CRER


Uma pergunta que sempre me fazem diz respeito à primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo "crer". Quando digo que é "eu cri", as pessoas costumam achar graça. Aí eu pergunto como é o de "ler". E a resposta é "eu li". Depois pergunto como é o de "ver". E a resposta é "eu vi". Mas "ser" não é "eu si". Xi! Na verdade, o problema é a falta de uso. Não usamos o verbo "crer no pretérito. Para piorar, a forma verbal "cri" lembra a palavra "cri-cri". E gente cri-cri...


CRIAR


Até o início do século XX, alguns gramáticos e dicionaristas defendiam a distinção entre "criar" e "crear". A primeira ("criar") significaria "alimentar", "fazer crescer"; a segunda, "gerar ou inventar do nada". Dessa óptica, portanto, os artistas "creavam" suas obras, enquanto pais e mães criavam seus filhos. Durante muito tempo, fábricas de roupas ou de sapatos usaram em seus nomes a expressão "creações" ("Creações Regina", por exemplo). Os defensores dessa distinção perderam espaço há um bom tempo, mas muita gente de alguma idade ainda insiste em dizer que a diferença existe. Não existe. A única forma registrada é "criar", de cuja família fazem parte "criação", "criador", "criatura", "criatividade" etc.


Comentários do Professor Pasquale Cipro Neto


Dicionário da Língua Portuguesa

Editora Gold Ltda

0 comentários: