domingo, 8 de janeiro de 2012

REMINISCÊNCIA PATERNA

De vez em quando me pego envolto a algumas reminiscências familiares, principalmente qluando se trata de algo que serve de exemplo para os mais jovens, principalmente os meus filhos. Então, amiúde, lembro de algumas passagens da minha infância, onde tudo era mais difícil e diferente dos tempos hodiernos. Com o advento da informática, com suas inúmeras opões de entretenimentos, informações e relacionamentos, a vida flui de maneira bem mais fácil e cômoda até demais.
Só que o progresso em todos os sentidos tem seu lado positivo e negativo. Num ponto facilita a vida em geral das pessoas, exigindo mais rapidez de aprendizagem e por outro vai excluindo e deixando para trás todos aqueles que não se dispuserem a acompanhar o tal avanço da tecnologia. Pois a inércia, a preguiça, a ausência de objetivos e mais alguma coisa só corroboram para postergar a concretização dos ideais de todas as pessoas jovens.
Em meio a esta discrepância de atividades intelectuais, o meu pensamento volta diretamente ao trabalho árduo que o meu velho pai, que Deus o tenha, executava com responsabilidade e coragem para sustentar a nossa grande família. E foi quando acompanhei de perto o serviço do pedreiro (meu pai também o era) na reforma do meu apartamento, que repentinamente surgiu uma lembrança paterna. Pois o mesmo com uma perna torta, por motivo de um acidente de trabalho, sempre procurou honrar com a sua palavra e acima de tudo, responsabilidade.
Naquele tempo, na década de 60, lá na nossa pacata cidade, com pouco dinheiro em circulação, a nossa família tinha por hábito comprar fiado em alguma mercearia ou empório,mediante anotações numa caderneta e cujo pagamento era efetuado, aos poucos no final de cada mês ou antes, dependendo do serviço que o meu pai arrumava. E foi neste ínterim que me veio a lembrança de um fato que ocorreu com ele quando executava o serviço de uma calçada no empório onde, por conincidência o meu pai tinha dívida. Combinou o preço e antes de mais nada o formato, o estilo da obra e começou a trabalhar com afinco. Então, diarimente, eu ia levar o almoço ao meu velho pai, evitando o transtorno de descer e subir ladeiras em pleno sol do meio dia.
E quando estava no término do serviço, por sinal no último dia, presenciei uma cena que jamais esquecerei. Vi o dono do empório chegar para averiguar o serviço e foi logo falando alto e com empáfia de uma pessoa ignorante:
-"Seu Manuel, não quero esta calçada desse jeito, não. Pode desmanchar esta parte aqui e fazer novamente!"
Enquanto ele falava, o meu pai só ouvia calado e quando o dono ia saindo, achando que a sua ridícula ordem ira ser obedecia, ficou boquiaberto com a resposta do velho pedreiro:
-"Olha aqui, seu Gomes, fique sabendo que aqui não tem nenhum moleque não. Nunca desmanchei e jamais vou desmanchar um serviço meu. O senhor quer uma calçada diferente? Pois contrate outro pedreiro. Quanto o meu serviço, pode descontar na minha dívida e ponto final e durma em paz, se for capaz!"
Em seguida pegou no meu braço e voltamos para a nossa casa. E no caminho, de vez em quando, murmurava um solilóquio mais ou menos assim: "Tá pensando o quê! Eu sei o que faço e tenho responsabilidade! Não sou moleque para ninguém me chamar a atenção!"

Valeu, meu velho pai!


João Bosco de Andrade Araújo

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