domingo, 14 de agosto de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA - II-

METAMORFOSE NA MINHA VIDA

Julho de 2001


Dois dias antes de fazer aniversário de 51 anos de idade, recebi da firma onde trabalhava um "presente de grego": a minha demissão. Mais precisamente, no dia 27 de abril de 2001. Só não foi uma surpresa maior porque eu já estava preparado psicologicamente, pois o comentário geral era sobre uma demissão em massa. E esta realmente aconteceu no mesmo dia.
Posso garantir que saí de cabeça erguida e também sem deixar lá muitos amigos. Afinal, o ambiente de trabalho não estava nada agradável. Estava havendo muitas picuinhas, fofocas, intrigas etc. Sinceramente, senti um alívio muito grande ao deixar aquele emprego que me consumiu, aproximadamente, 15 anos de dedicação. Alívio não por causa da empresa em si, pois eu não tinha absolutamente nada contra a mesma. Pagava pontualmente, tinha bom restaurante e acima de tudo, um ótimo convênio médico. O que se lamentável era se conviver com funcionários que insistiam pensar ser "donos da firma", coitados e por isso agiam cegamente, sem noção de respeito humano, o que era profundamente deplorável, lamentável. Não que eu fosse nenhum santo, mas sempre procurei dosar meus defeitos e qualidades, respeitando os das demais pessoas. Só que muitas coisas que aconteciam ali não davam para aguentar calado e assim começavam as celeumas.
Finalmente, após a homologação da minha demissão, depois de alguns meses analisando o mercado de trabalho e, consequentemente, prevendo a grande dificuldade de conseguir logo uma nova colocação, por causa da minha idade (51 anos), tomei uma outra decisão: comprei uma banca de jornal, localizada próxima à minha casa, tornando-me um autônomo. A princípio, a minha esposa relutou muito, todavia, após alguma insistência, concordou. Quanto aos meus dois filhos, não opinaram, em virtude da pouca idade: nove e dez anos, respectivamente. Para eles, tudo era novidade, para não dizer, festa.
Sendo assim, a partir de 28 de julho do mesmo ano - 2001 - tornei-me num jornaleiro de primeira vendagem. Investi um pouco do dinheiro da indenização no ponto comercial e fui, paulatinamente, conhecendo os novos fregueses. Para quem não sabe, esse ramo de negócio chega a ser bastante estressante, pois deixa o comerciante muito preso à clientela, ou seja, tem que trabalhar de domingo a domingo. Por outro lado, se tiver condições de fazer um rodízio na escala de trabalho, dá para levar a vida de maneira honesta, responsável e ativamente. Pois banca de jornal é um comércio como outro qualquer. Com uma diferença que o jornaleiro trabalha mais sob consignação, isto é, recebe os produtos - revistas, jornais - diariamente e os expõe na banca, e o que não vender, devolve tranquilamente sem alterar no seu pequeno lucro que é uma margem de 30% sobre o preço estampado na capa de cada produto que conseguir vender. E quanto ao calote dos clientes, depende muito do índice de confiança depositada em cada um deles, o que sempre causa algum tipo de transtorno e frustração. Porque quanto a isto, o ser humano demonstra mesmo ser muito imprevisível, o que transforma uma pessoa que demonstrava ser dotada de boa índole, quando menos se espera, some tão logo assume uma dívida, transformando-se numa caloteira de primeira linha. E as evasivas, as deculpas para postergar o pagamento é que são as mais esfarrapadas possíveis. É a "lei do Gerson" que sempre volta a imperar, quando alguém quer sempre levar vantagem em quase todas as situações que a vida lhe oferece. Só que mais dia, menos dia, a casa cai.

(A continuação será postada, brevemente)

João Bosco de Andrade Araújo

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