sábado, 17 de dezembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

SÉTIMO COMPANHEIRO DE ENFERMARIA


O paciente que deu entrada na enfermaria onde eu estava internado há quase vinte dias, desta vez era um jovem, aparentando 20 anos. O mesmo apresentava algumas escoriações, ferimentos no rosto, nos braços e pernas. Mas, pelo modo de se expressar, cheio de palavras típicas de pessoas pertencentes a uma classe social mais sofisticadas e rica, aquele paciente parecia muito inquieto e pelo visto não demoraria muito naquele hospital. Logo que chegou começou a reclamar de tudo e de todos. Só julgava erroneamente. Esquecia o dito cujo que, aqui neste mundo, ninguém é melhor do que ninguém. Pois alguém pode ter uma condição financeira estabilizada, mais abastadas do que a maioria das outras pessoas, isto é, pode frequentar lugares mais sofisticados, usar roupas de grife, calçados das melhores marcas, mas nunca estará isento de fazer necessidades fisiológicas, sentir dores, enfim, ficar doente. Pode, além disso, usar os melhores perfumes a vida toda, mas quando morrer entrará em decomposição igual a qualquer ser humano pobre e que durante a vida não usufruiu nada disto.
Por que este preâmbulo? Nada contra as pessoas ricas. Afinal, cada um tem a vida que merece. Escrevi isto em razão do modo como aquele paciente se referia ao ambiente onde se encontrava naquele momento. Humilhava algumas enfermeiras, funcionárias da limpeza. Mas, na hora em que um médico se aproximava do seu leito, logo se transformava num "santinho" de pau oco. Quer dizer: era um covarde, um vazio, um metido a besta. Quando ele percebeu que a realidade hospitalar não era como ela pensava ou queria, abaixou a imponência, a soberba e demonstrando um pouco de humildade, perguntou:
-Por favor, que hora é a visita aqui?
-Das 16 às 18 horas. Respondi, sem maiores comentários.
- Obrigado! Em seguida pegou o telefone e começou a conversar com alguém da sua família.
Na hora aguardada adentrou naquele recinto, uma mulher muito bonita, perfumada, aparentando ter 25 anos. Quando se se aproximou do rapaz, deu-lhe um tremendo beijo na boca que parecia que iria arrancar a língua do dito cujo. A minha esposa que se encontrava naquela hora me visitando, assim como eu, percebemos sem querer aquele quadro, mas viramos o rosto para deixá-los mais à vontade. A dúvida que ficou no ar era sobre o parentesco daquela visita. Pois parecia muito nova para ser mãe e nem tanto para ser a namorada daquele rapaz. Bem, mas pouco nos importava.
Terminado o horário da visita, ele desabafou:
-Que mulher louca, cara, você viu?
-É, não tive outro jeito de evitar.
-Por pouco ela não me comia todo!
-Parece que ela estava mesmo com muita saudade! - Tentei argumentar.
-Saudade? Isso é bondade sua. Ela é sim, uma mulher carente e tarada. Sabe quem ela é? Adivinha?
-Sua namorada, no mínimo!
-Que nada, cara, é a mulher do meu pai. O maior chifrudo da face da terra. Ele é viúvo, é rico, dono de uma pequena empresa e esta que acabou de sair é a segunda mulher dele. Ele é mulherengo, mas pelo visto, não dá conta do recado e ela completa o seu apetite sexual comigo. E eu, que não sou bobo nem nada, não dispenso mesmo.
-Deu para perceber um pouco! Completei.
-Olha, esse romance já rola mais de quatro anos. E o velho nem desconfia de nada. Dá dinheiro pra ela passear, comprar o que quiser. Mas a danada não quer saber de outra coisa, senão me tratar bem e ser bem tratada por mim, principalmente na cama, no sofá, no chão, no banheiro, no carro, ou seja, em qualquer lugar quando estamos com vontade. Quando ela soube que eu sofri esse acidente com a minha moto, ficou preocupada, com receio que fosse algo mais sério e que demorasse me recuperar para continuar o nosso romance proibido. Pois o negócio dela, cara, é sexo, sexo e mais sexo. Ela parece que é.. nin...nin..
-Ninfomaníaca! - Ajudei.
-Isso mesmo, cara e mais alguma coisa! O certo é que a minha primeira aventura sexual foi com ela, quando eu tinha 15 anos e pelo visto, não sei quando isto vai acabar não!
-Só posse lhe dizer que "beijo de mulher casada tem gosto de chumbo!"
-Vira essa boca pra lá! Deus me livre!

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