quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA -

SEGUNDA CONSULTA


No dia seguinte, cada vez mais debilitado, fui levado ao Hospital Geral de Guaianases, bem próximo da Cidade Tiradentes, onde moro. Aquele cheiro de remédios, imediatamente, despertou a minha lembrança dos anos que trabalhei na Santa Casa de Mesericórdia, onde o ambiente era totalmente impregnado com esse odor repugnante peculiar a quase todos os hospitais do mundo. Todavia, não vali a pena ficar tentando lembrar destas particularidades. Estava ali muito ansioso sim, para ser medicado para ter a minha saúde de volta. Como é triste e lamentável ficar doente. Parece que tudo ao seu redor fica sem graça, sabor, sentido etc. Falta sempre o imprescidível que é o prazer de viver e sentir o gosto dos alimentos, sorrir, conversar, trabalhar e assim por diante.
O médico que me atendeu parecia, desculpe a comparação tacanha, um entregador de pizza. Além de moço, demonstrava bastante apressado, parecendo que estava ganhando ali por pacientes atendidos. Nem me examinou e perguntou nada. Passou a vista no encaminhamento do médico anterior, chamou uma enfermeira e delegou uma tarefa, entregando-lhe um papel. Só isso.
A moça de avental branco, ao contrário do tal médico, já era bem lenta, porém até atenciosa. Pediu-me que aguardasse um pouco numa salinha contígua e após dez minutos voltou para me aplicar uma injeção na veia. Em seguida, perguntou-me se estava acompanhado e fui liberado.
Saí dali ainda muito trôpego, com a vista turva e um pouco tonto. Ao perceber o meu péssimo estado, a minha esposa achou por bem pegarmos um táxi e regressamos para o nosso apartamento.
Após o efeito da injeção, criei um pouco de coragem e com muito esforço consegui me alimentar com sopas e verduras em pequenas quantidades. E mesmo assim, como o tal médico só me deu um atestado para aquele dia, resolvi voltar a trabalhar. Ia com muita dificuldade. Pois detestava faltar ao serviço. Na pequena empresa, eu sabia, como não havia médico e muito menos enfermeiro, reconheço que corria risco, caso durante o expediente sentisse um mau-estar. Mesmo assim, resolvi enfrentar o desafio, o que a minha esposa não concordava, chamando-me sempre de teimoso e por sua vez, ficando preocupada durante a noite com os meus dois filhos pequenos.
Na empresa, fingia o máximo para parecer que estava tudo normal comigo, embora ninguém fizesse nenhum comentário sobre a minha aparência exangue. Bondade ou fingimento por parte dos colegas, sei lá. Ainda bem que o meu serviço era bastante tranquilo. Não exigia muito esforço físico e sim mental. Pois era necessário ter bastante atenção, como Inspetor de Qualidade, teria que inspecionar o CD no momento da sua fabricação e em seguida testá-lo, ouvindo-0 total ou parcialmente, dependendo se fosse novidade ou reposição. É verdade que, conforme fosse o ritmo da música, a tarefa provocava muito sono, principalmente se fosse música clássica. Portanto, o café era muito imprescindível em momentos assim.
Enquanto transcorriam os dias, a minha apreensão aumentava pois estava se aproximando a data da minha terceira consulta. Estava com um encaminhamento para ser atendido no setor de cardiologia. Haja coração! Será que eu tinha algum problema neste órgão primordial do corpo humano? Isso será desvendado na próxima consulta.


(Aguarde a TERCEIRA CONSULTA)

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