segunda-feira, 13 de abril de 2009

PROSOPOPEIA

Após trabalhar vários anos em um hospital envolvido numa rotina repleta de remédios e vários objetos típicos de um lugar assim, resolvi escrever essa prosopopéia com alguns deles. Por exemplo: MACA, TERMÔMETRO, SORO, ESTETOSCÓPIO, TERMÔMETRO, ÁLCOOL, ALGODÃO, INJEÇÃO.

TODOS (ao mesmo tempo):
Estamos aqui reunidos para servir a quem quer que seja. De uma coisa, Sr. Paciente, pode ter certeza, cada um de nós, por mais assustador que possa parecer, está imbuído de segundas intenções, ou seja, com o objetivo de fazê-lo sofrer. Pois dor, medo, apreensão o senhor já trouxe no seu íntimo. Aqui só tem dor porque alguém a trouxe. Nós só queremos amenizá-la , mas para isso precisamos muitos da colaboração do Sr. Paciente. Ninguém aqui é sádico e muito menos masoquista. Assim sendo, podemos chegar a um acordo, que é devolver o mais rápido possível a sua maior riqueza que é, sem dúvida, a sua saúde.

CADEIRA DE RODAS: Sente-se, por favor, sei que talvez não queira conversar nada porque está sentindo muitas dores. Mesmo assim, permita-me lhe apresentar a minha colega de atendimento, a dona MACA, a espevitada! Enquanto isso, vamos dar uma voltinha!

MACA: Alto lá! Respeito é bom e conservar os dentes, ou melhor, no seu caso, as rodas! E espevitada é a vovozinha! E agradeço a “dona” repleta de ironia, viu? Chegamos aqui no mesmo dia, certo? Desculpe-me o trocadilho, Sr. Paciente, pois sei que o senhor deve estar impaciente e quer logo ser atendido, mas para isso será melhor se deitar um pouquinho...

SORO: Agora que o senhor está numa posição adequada para me receber, pretendo fazer um lento passeio injetável pelo seu corpo, enquanto o médico dê um diagnóstico mais detalhado sobre o seu caso. Sei que a parafernália que me sustenta assusta um pouco, mas só que não dói nada. Ficarei ligado em você por algumas horas. Não que eu seja preguiçoso, mas sim porque sou lento por natureza, visando o seu próprio bem-estar. Por falar nisso, eis quem chega para medir a sua pressão: o nosso companheiro, o ESTETOSCÓPIO!

ESTETOSCÓPIO: Sinto muito ter um nome tão pomposo e até difícil de pronunciar, mas a minha finalidade não assusta nem dói nada. Sirvo para avaliar a pressa arterial de qualquer pessoa. Pois, após essa medição, o médico terá um controle melhor sobre que decisão tomar. Além de mim, temos ainda aqui em nosso meio, o ALGODÃO e o TERMÔMETRO, os quais não provocam nenhuma dor e muito menos causa alguma aversão ou medo.

TERMÔMETRO: Se não me engano, eu sou o menor objeto hospitalar. Perco apenas para a agulha descartável. Através do meu mecanismo, aparentemente simples, indico o grau da temperatura de cada pessoa. O meu manuseio é ainda tão fácil que qualquer pessoa não terá dificuldade de me manusear. Além do mais não desperto medo em ninguém, pois como se vê, sou simples e pequeno. Mas existe outro objeto aqui que ganha facilmente de mim. É o nosso colega ALGODÃO que não assusta nada, mas tem uma grande utilidade.

ALGODÃO: Modéstia à parte, tenho várias utilidades mesmo e são realizadas silenciosamente, mesmo quando me apertam contra uma parte do corpo do paciente onde ocorre uma pequena hemorragia. Portanto, uma das minhas principais funções é estancar o fluxo de sangue que sai de algum corte. Quando embebido de álcool geralmente sou usado antes e após a aplicação de uma injeção. Como ele age beneficamente em todas as ocasiões. O que ele não se sente bem é com a presença de alguma fagulha. Pois aí é fogo,literalmente!.

ÁLCOOL : Reconheço que o meu nome assuste e muito, mas quando estou relacionado à bebida, ou seja, utilizando-se o meu “parente” etílico. No meu caso, a minha finalidade, a minha essência é simplesmente esterilizante, se é que existe essa palavra. Reconheço que não sou benquisto quando venho acompanhado do meu colega algodão, que por sua vez não faz mal a ninguém, conforme ele se expressou. Mas quando estamos juntos, isto é, quando somos utilizados simultaneamente, tudo indica que a dona INJEÇÃO estará por perto. Picada à vista. E quanto a ela, coitada, quase ninguém aprecia. O que é verdade, quase todo mundo tem uma grande ojeriza quando ouve só em falar nela. Ela pode não ser benquista, mas por sua vez é muito benéfica e acima de tudo, eficaz.

INJEÇÃO: Dependendo do medicamento líquido que trago na minha composição química, a minha ação , ou melhor, o meu efeito é bastante dolorido ou não muito. A verdade é uma só: quando alguém ouve falar em mim, logo treme de medo. Além da picada da agulha que me transporta, o pior vem depois com uma dor insistente incomodando a pessoa. Sinceramente, se eu fosse medicada de outra maneira, isto é, o instrumento utilizado não fosse tão assustador quanto a agulha, quem sabe, eu não seria assim tão odiada, preterida! Não quero como isso colocar toda a culpa da ojeriza com relação a mim, na seringa ou agulha, respectivamente. Pois agindo assim estaria sendo muito injusta e ingrata com aquelas que me ajudam a atingir o meu objetivo.


TODOS: Muito obrigado por nos ouvir, Sr. Paciente! E quando sair desse nosocômio, por mais bem atendido que o senhor tenha sido, uma coisa jamais vamos lhe desejar. É a expressão: VOLTE SEMPRE!


João Bosco de Andrade Araújo

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