quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

MALDITO CHAPÉU

Lino era um rapaz humilde, pobre, responsável, residente em uma pequena cidade no interior do Estado de Pernambuco. Morava com a família, ajudava ao pai na lavoura. Certo dia surgiu uma oportunidade para ele trabalhar na Capital, isto é, Recife. Não pensou duas vezes. Aceitou o convite do comerciante, amigo dos seus pais. E com a permissão destes seguiu para a cidade grande, onde esperava encontrar muitas novidades. À proporção que seguia viagem, a ansiedade aumentava, do mesmo modo já pensava na saudade da casa paterna.
Trabalhou um mês, sempre agindo honestamente, ajudando no que era possível, inclusive acordando até de madrugada para receber e conferir algumas mercadorias, que inexplicavelmente só costumavam chegar à noite. Também não lhe interessava saber o porquê. Certo dia, aproveitando que o estabelecimento estava sem movimento, após cumprir sua obrigação, resolveu apreciar, admirar o movimento da rua e conversar um pouco com algum colega. Nesta ocasião chegou o patrão um tanto nervoso e falou alto já com a intenção de humilhar mesmo:
- Estou pagando empregado é para trabalhar e não ficar olhando a rua!
- Olha seu Alfredo, eu saí agora mesmo! - respondeu o jovem Lino.
- Não tem mais, nem menos! Eu vou lhe pagar quase o salário mínimo!
- Quase o salário mínimo!. Se for para trabalhar de graça, prefiro voltar para casa dos meus pais. Lá pelos menos não serei humilhado!
- Pois é só arrumar sua trouxa e amanhã mesmo puxar o carro.
Após receber os dias trabalhados, arrumou suas coisas e partiu com a cabeça erguida, apenas se sentindo injustiçado por não receber um salário condizente, justo.
Após uma semana, o seu ex-patrão esteve na sua cidade novamente. Afinal, ele tinha propriedade ali também. Mas o objetivo maior era arrumar outro empregado. Ao saber disso, o vizinho do Lino se ofereceu e após tudo acertado, assim falou:
- Aí, Lino, você não aguentou o trabalho na cidade grande, pois lá vou eu. Quer apostar como eu vou vencer lá?
Transcorria tudo às mil maravilhas, pelo menos para ele. Pois, assim como o seu colega Lino, ele tinha acesso ao caixa, isto é, passava troco. Enfim, tinha toda a liberdade ali dentro do empório. Até que certo dia um freguês, após uma rápida visita esqueceu um chapéu sobre o balcão. Quando voltou para buscar, pois era um objeto de estimação, só encontrou o seu Alfredo. Este argumentou que ali não havia ficado nenhum chapéu guardado. De tanto insistir, o freguês que era um investigador, resolveram averiguar nos pertence do funcionário, que nesta ocasião saíra para pagar algumas contas. Qual não foi a surpresa de ambos ao abrir a mala do dito cujo e constatar não só o chapéu em questão, como também vários pacotes de cigarro e até dinheiro. Nesta ocasião, o investigador cogitou até em elaborar um flagrante e prender o rapaz, o que não foi permitido pelo patrão, que por sinal, era amigo da família do empregado larápio.
No mesmo dia o rapaz regressou à sua cidade com a sua mala quase vazia. Por outro lado, viajou sem saber onde por a cara quando chegasse lá e o povo soubesse do motivo da sua demissão. Uma coisa foi notória: do Lino ele não tirou nenhum sarro, pois este pelo menos tia a consciência limpa. Em compensação, a partir do ocorrido, o rapaz em questão não podia nem ver alguém com chapéu, quanto mais pretender usar um MALDITO CHAPÉU!

João Bosco de Andrade Araújo

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