sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

UM ADVOGADO LOQUAZ

Dos quatro pacientes que ficaram no mesmo quarto de enfermaria comigo, esse pareceu mais lúcido, sem dúvida alguma. Pelo que se podia perceber era que a sua doença não afetava em nada a sua loquacidade. E como falava! E bem, diga-se de passagem. Também pudera, o homem era um advogado e tanto! E já chegou querendo modificar algumas coisas. Não suportava ver nada fora do lugar ou errado.
Logo que chegou, quando precisou tomar o primeiro banho, já percebeu logo que o chuveiro não funcionava satisfatoriamente. Logo após o banho "incompleto", como o próprio fazia questão de dizer, pediu que alguém providenciasse outro chuveiro ou mandasse arrumar aquele e explicou qual era o problema e coisa e tal. O homem era mesmo objetivo e decidido, inquieto, exigente etc. Em seguida, usando o seu inseparável celular, pediu ao seu filho que providenciasse imediatamente um televisor. Não demorou nada, um dos seus filhos, por sinal, era médico, apareceu com o televisor solicitado. Na mesma hora o ligou e o ambiente ficou bem melhor, não resta dúvida.
Com relação ao celular até que me foi útil também, pois ele insistia que eu usasse para me comunicar com a minha família. Até que aceitei, amiúde, por que não? Agora, quanto o televisor, coincidência ou não, no dia seguinte entrou um rapaz uniformizado de uma assistência técnica e foi logo perguntando:
-De quem é esse televisor?
- É meu, por quê? Falou também incisivamente o advogado ali presente, ainda bem.
- Dá licença, mas precisa desligá-lo, pois vamos instalar um aparelho em cada quarto!
- À vontade, meu jovem! - respondeu o advogado que só observava aquela movimentação ali.
E realmente, outro aparelho de televisão foi instalado na enfermaria e ligado. Só que o controle remoto não tinha, pelo menos, naquele momento. Mas logo depois apareceu outro funcnionário com o dito cujo, testou-o e só perguntou:
- Pode deixar nesse canal mesmo?
- Mas qual é a dúvida, meu caro, respondeu o advogado - vai levar o controle remoto embora?
-Sim, senhor, vou levá-lo para fazer a devida numeração e depois eu trago!
Grande lorota aquela! Realmente desapareceu com aquele pequeno aparelho, enquanto o televisor ficou ligado direto no mesmo canal até de madrugada, quando um dos pacientes resolveu desligá-lo. Pois dava dó de ir lá na enfermaria "acordar" alguém só para desligar um televisor. Paciente também perde a "paciência" e toma alguma iniciativa. Ficar só no leito, aguardando alguém, a não ser no último caso, quando por exemplo, a pessoa não pode se locomover, andar etc.
No dia seguinnte aquele loquaz advogado, que cativara tanto as enfermeiras, recebeu alta e a entrada e saída delas diminuiu bastante. Inclusive teve uma, particularmente, que segundo mesmo me falou, quase se ofereceu para cuidar do mesmo na residência do próprio, uma vez que ficou bastante atraída por ele. Realmente, a lábia dele com o universo feminino era por demais insinuante, irresistível, sei lá. O homem demonstrava mesmo ser um paquerador nato. Só se comportava mais, quando recebia a visita da "dona da pensão", como o próprio definia a sua esposa.

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