quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A SAGA DE UMA ANEMIA CRÔNICA

QUARTO COMPANHEIRO DE ENFERMARIA


Esse paciente foi internado por motivo de uma crise de hipertensão. Segundo ele, o médico que o atendeu no Pronto Socorro do seu bairro, falou que que ele estava com um sopro no coração e mais alguma coisa, deixando a sua família bastante preocupada. O mesmo foi internado numa sexta-feira à noite, passou todo o dia de sábado, praticamente sem tomar nenhum remédio e muito menos fazer qualquer tipo de exame. A única coisa mesmo que fizeram foi medir a pressão. E mesmo assim não lhe informaram nada se estava normal, baixa ou alta. Ele ficou sempre na dele, tranquilo como sempre. Além de tudo um bom papo. Conversador que só ele. Alimentava normalmente e com muito apetite e com muita razão, sempre reclamando da comida insossa daquele hospital,aliás, de todos eles a comida parece que é sempre igual. Como se estivesse na sua própria casa, de vez em quando ia ao banheiro e dava as suas tragadinhas. Era um tabagista inveterado. E com aquela história de sopro no coração e pressão alta, aí é que a sua vontade aumentou. Dizia ele: "Já que estou predestinado a morrer a qualquer momento, vou fazer o que me dá mais prazer: fumar meu cigarrinho e que o resto se dane!"
E numa dessas suas idas ao banheiro para alimentar o vício, eis que entrou uma enfermeira de olfato aguçado e exclamou:
-"Nossa, qlue cheiro forte de cigarro aqui, gente? Quem será que está fumando?
- Será que está vindo lá de fora? Pois a janela está aberta!...Tentei aliviar a situação.
- "Lá de fora é totalmente impossível. Pois estamos no décimo andar!...E olha que eu tenho mais de dez anos de enfermeira e nunca vi uma coisa assim. Paciente fumar dentro de um hospital! É o fim do mundo e do pulmão também!"
-Mas tudo tem a primeira vez, colega. Tô certo ou tô errado?
-Não sei Sinhozinho Malta, mas o médico de plantão deve já saber disso!
-Vai fofoqueira!... Murmurou o colega fumante.
E ficou nisto mesmo. Eu, sinceramente, pensei que ele fosse assumir, falar a verdade, mas ficou só nesta conversa fiada. Só que na hora em que outra enfermeira veio medir a pressão do dito cujo, sentiu o cheiro de cigarro. E foi então a gota d'água. A médica de plantão logo ficou sabendo, pois não demorou nada, a sua alta foi assinada e aquele paciente deixou o hospital. Achei isto tudo muito rápido e estranho. E ele mais ainda.
A médica que veio falar com ele sobre a sua liberação era tão nova que mais parecia uma estagiária., mas foi bem objetiva:
-"Olha, o senhor vai voltar para a sua residência porque o seu quadro clínico está ótimo. A sua pressão voltou ao normal. So que se sentir qualquer tipo de tontura, procure logo o Pronto Socorro. Não vacila. Pois, como o senhor sabe: "Onde há fumaça, há fogo"
Ao ouvir isso ele chegou a pensar que ela estivesse sendo irônica, pois o maço de cigarros estava bem visível no bolso da sua camisa. Tão logo ela saiu, ele partiu para o seu fumódromo particular e depois falou:
-A médica bonitinha foi falar em fumaça e aguçou o meu paladar. E além do mais já estou mesmo liberado para ir para minha casa! Olha, seu João, não se esqueça de pedir para a sua patroa preparar, logo que sair daqui, um feijão com pé de porco dentro, uma rabada, mocotó ou feijoada que num instante o senhor voltará a ser o que era antes. Pois comida de hospital só deixa o doente mais doente a cada dia que passa...Por falar nisto, passe bem!
-E você também!


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