quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O PIERCING NO UMBIGO

Estava eu, humilde passageiro na fila, aguardando o ônibus num terminal desta gigantesca São Paulo. Era uma manhã ensolarada de segunda-feira. Estava regressando do trabalho noturno. Na fila paralela, em sentido contrário, nada iria desviar a minha atenção da revista que estava lendo, se não fosse o brilho ofuscante de um pequeno e lindo piercing emoldurando, estampado sensualmente no umbigo de uma linda jovem, portadora de um corpo simplesmente deslumbrante e encantador. Parecia que tudo naquela jovem inspirara o poeta a escrever: “Mulher bonita: encarnação do sorriso de Deus!”.
Sinceramente, com toda minha recatada conduta e discrição neste assunto feminino, aquele umbigo enfeitado dissipou a minha costumeira leitura. Incontinenti, fechei a revista para uma leitura posterior. Aquela jovem que de boba não tinha nada, deve ter percebido que estava chamando a atenção, estava abafando. De vez em quando, propositadamente, puxava a blusinha curta, tentando encobrir o seu lindo e enfeitado umbiguinho, como se estivesse com vergonha. E poderia estar com justa razão, pois na fila onde eu me encontrava havia mais de vinte homens. Quem não tinha vista aquele quadro fantástico, por mera distração, não sabe o que estava perdendo. Os mais afoitos e maliciosos chegavam a comentar algo do tipo: “Dá vontade de arrancar aquele objeto com os dentes!”. Sinceramente, cheguei a torcer para tanto o meu ônibus quanto o dela demorassem a chegar naquele terminal. Pois aquele colírio humano, à proporção que limpava a vista embaçada pelo trabalho noturno, deixava a mente poluída: “Será que haverá outro piercing em outra parte daquele lindo corpo?”.
Então, como se costuma dizer, “Olhar não tira pedaço!”. É, mas não devemos esquecer que é através do olhar que tudo começa. Daí, pra tira um pedacinho será mera consequência. É só uma questão de tempo e oportunidade.





João Bosco de Andrade Araújo

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