sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A VIDA DO HOMEM

“Deus deu só 30 anos ao homem quando o Criou”. Mas profetizou-lhe boas coisas: “Serás o senhor da Terra e o animal superior”. O homem ouviu calado. Já ao burro deu 50 anos. No destino do muar não havia dúvidas sobre os trabalhos e os sofrimentos que o esperavam: “Vais viver como escravo do homem conduzi-lo e também os fardos que te puser às costas!” O burro ficou inconformado: “Escravidão, cargas, privações e viver 50 anos!”. É muito, Senhor, bastam-me 30. Deus não lhe deu ouvidos e criou o cão e disse: “Viverás 30 anos: sofrerás açoites e terás de lamber a mão daquele que te castiga!”. O cachorro não gostando muito, resmungou: “vigiar dia e noite, ser açoitado, padecer fome e viver 30 anos!”. ”Não, Senhor, quero só 10!”. O Senhor também nem ligou para a sua reclamação. E continuou a criação e fez o macaco: ”Teu ofício é alegrar o homem, arremedando-o, fazendo careta para dissipar-lhe a tristeza: viverás 50 anos!”. Também o macaco quis viver menos: “Senhor, é muito tempo para mim! Basta-me viver 30 anos!”.
O homem até então calado pede a palavra: “Senhor, 20 anos que o burro não quis 20 que o cão enjeitou; 20 que o macaco recusou, dai-me, pois só 30 anos é pouco para o rei dos animais!”. O Senhor pensou um pouco e concordou sob sinistras condições: “Toma-os: viverás 90 anos, mas com uma condição: Cumprirá não só o teu destino, mas também o do burro, o do cão e do macaco!”.
Conclui o narrador que assim vive o homem: até os 30, tudo vai bem. Vive como homem, de acordo com o planejamento do Criador. Mas quando começa a viver a cota dos animais, a coisa fica preta. Dos 30 aos 50 tem família e trabalha duro pra sustentá-la: é burro. Dos 50 aos 70, vive como sentinela da família, defendendo-a, mas sem poder impor sua vontade, tem obrigações: é cão. Dos 70 aos 90, o que ia mal fica pior: sem forças, curvo trôpego, enrugado, vegeta a canto, inútil, ridículo. Faz rir com sua gula, sua caduquice. Sabe que não o tomam a sério, mas resigna-se e tem gosto em ser palhaço das crianças: é macaco!”
Francisco Xavier Ferreira Marques
(Fonte: Revista CARAS Edição 470 - 8/11/02)

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