terça-feira, 23 de junho de 2009

SIMPLESMENTE, SEVERINO!

Poderia até ser que esse senhor fosse natural do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo etc. Mas, o seu simples nome já o denuncia como um nordestino da gema e “com muito orgulho” – como o próprio costuma falar e bater no peito, quando se encontra jogando conversa fora numa roda de “amigos” de copo ou não. Sempre tomando o seu aperitivo predileto e queimando um cigarrinho, a sua presença na Rua Dona Eloá e adjacência é sagrada. No dia em que ele não aparecer, pode ter certeza, ele foi ao INCOR fazer o seu exame semestral de rotina. O certo é que, não importa o tempo que fizer: sol ou chuva, calor, frio, o seu Severino passa o dia inteiro assim, conversando com uns e outros. A conversa pode estar animada ou não, mas o seu horário de almoço ele respeita e cumpre, religiosamente. Mais tarde, após uma pequena sesta, lá vem ele ao reduto dos amigos e colegas. É simplesmente impressionante a pontualidade desse senhor de 75 anos, que anda, paulatinamente, mas sempre consciente de tudo que acontece ao seu redor. Diariamente, sempre entre 8 e 8.30 hs da manhã, lá vem ele, paulatinamente, cumprimentando os transeuntes e conhecidos. Dá um tempinho no meu local de trabalho e depois segue em frente.
Antes de residir nesta megalópole paulista, seu Severino, após trabalhar muitos anos em sua cidade natal, lá em Pernambuco, o destino o levou a trabalhar como um dos candangos que construíram Brasília. Do seu currículo profissional, essa façanha é a que ele faz mais questão de se orgulhar, quando o assunto é trabalho. Além disso, se algum engraçadinho duvidar de algo que ele diz, imediatamente, faz questão de ir até à sua casa e pegar todos os documentos e “esfregar na cara” de um possível incrédulo. Seja ele quem for. Portanto, o seu assunto predileta é sempre esse: a construção da Capital Federal, como ele sempre se refere à Brasília. Enche o peito de altivez, aumenta o tom da voz, às vezes até embargada pela emoção e jamais se cansa de mencionar inúmeros detalhes da sua labuta, juntamente com os seus conterrâneos naquele grande e inesquecível trabalho braçal. Daquele tempo, também faz questão de sempre registrar, não guarda nenhuma frustração ou tristeza. Pela sua humilde e emocionada narrativa dos “causos” que presenciou e viveu naquele tempo, alguém mais letrado pode achar e ter certeza que, bem que ele gostaria que aquele serviço não terminasse tão cedo, ou seja, fosse considerado, conforme diziam os gregos, um “trabalho de Penélope”, ou seja, inacabável.
Além desse assunto predileto que esse aposentado tem tanto prazer e orgulho de comentar, há um outro, que se restringe ao âmbito familiar: é a respeito do seu filho que tem um bom e respeitável cargo numa renomada rede de eletrodoméstico. Pois, segundo seu Severino, o amor, a responsabilidade com que seu filho dedica ao seu trabalho é algo que o deixa transbordando de contentamento e felicidade. E pelos detalhes da rotina do rapaz, ele deve ser mesmo um protótipo de funcionário. O seu Severino, portanto, está de parabéns! E o seu filha também, por que não?

João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net
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